Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

04 agosto 2014


(...)
Did you want to see me broken? 
Bowed head and lowered eyes?
Shoulders falling down like teardrops, 
Weakened by my soulful cries?
(...)
Maya Angelou, Still I Rise 


[... não sei porque não consigo fugir, não fui feita assim, não me está impregnado no adn nem no olhar sobre a vida que já vivi ou que que está por vir. Fugir é talvez uma perspectiva das coisas, uma perspectiva fraca de nós perante as coisas, por isso não fugir obriga a inverter perspectivas, enfrentar e fazer da fraqueza que sentimos a força que queremos ter. Não fujo, normalmente de nada, nem de um olhar nem dum caminho, por tortuoso que seja, se eu o achar o caminho certo, é por lá que vou. Não fujo e olho de frente - frente a frente, e ainda arranjo forças não sei onde para insuflar a espinha e, olhando ao nível, parecer que olho na superioridade da dignidade que não encontro nos olhos que me olham, quase medrosos, quase submissos. Estranho as pessoas que se estão sozinhas se sentem assim tão indefesas... Precisam de plateia ou de reforços? Só aí são tão poderosas? E face a isto empino o nariz, sim, porque sou dona dele e não me rebaixo quando me querem pisar, atingir, magoar. Não dou esse gosto a ninguém, só eu tenho todos esses exclusivos, de que uso e abuso, é certo, mas é meu, não o admito a mais ninguém. Não sei onde vou buscar forças, mas quanto mais desfeita estiver mais as forças ressurgem donde não há nada, se me tentam pisar e julgam desfeita. Acho que nunca parecerei tão snob como quando me julgam aniquilada, desfeita, no chão. Reergo-me sem notar que o faço de tanto que me tremem as pernas, mas caminham direitas e sem hesitações, a pisar com o calcanhar, como quem sabe o terreno que pisa. Mesmo que eu saiba que a mais pisada sou sempre eu, não sou mulher de choradinhos, ainda que possa passar noites inteiras a chorar. Escolho quem me pode ver desfeita e não uso isso para que façam o que quero, para ter o que desejo, choro e desfaço-me, mas não o uso para outros fins. Sou dona do meu nariz com propriedade plena, só quero o que me querem dar: não peço, não imploro, não me ajoelho... pelo menos não para isso.
Sou dona do meu nariz, só o baixo para quem quero e quando quero, mas só se me quiserem e eu o sentir.]
Aqui no meio das minhas leituras veio-me esta ideia: há pessoas a quem foi incutido o princípio de terem princípios, só se esqueceram de lhes incutir os princípios.
Deve dar daquelas sensações de se saber que se tem de fazer alguma coisa só não se sabe o quê acerca de nada.
É um bom princípio ter princípios, mas é só um princípio, o fim é tê-los e, assim, saber agir.
E princípios não são obrigações, são pilares.
Honestidade, lealdade, gratidão e respeito - eu diria que são os fundamentais nos seus sentidos latos; tudo o resto resulta ou baseia-se nestes. Até o amor, ou principalmente o amor.
Bom, basicamente tudo em que me falharam nos últimos tempos.

(...)
una mujer desnuda y en lo oscuro
es una vocación para las manos
para los labios es casi un destino
y para el corazón un despilfarro
una mujer desnuda es un enigma
y siempre es una fiesta descifrarlo

una mujer desnuda y en lo oscuro
genera una luz propia y nos enciende
el cielo raso se convierte en cielo
y es una gloria no ser inocente
una mujer querida o vislumbrada
desbarata por una vez la muerte.

Mario Benedetti

[...uma vocação para as mãos, para os lábios quase um destino, mas não é precisa escuridão...]
Boa Noite

03 agosto 2014

"Eis a sedução das mulheres desta terra, tal como a senhora de Rênal as descreveu. Não fui amável para ela hoje de manhã, não cedi à fantasia que teve de conversar comigo. Aos seus olhos aumentei de valor. Com certeza que o diabo não perde nada com isso. Mais tarde, a sua altivez saberá vingar-se. Faço com que proceda pior. Que diferença do que eu perdi! Que encantadora simplicidade! Que ingenuidade! Sabia os seus pensamentos antes dela; via-os nascer. No seu coração o meu único antagonista era o receio da morte dos filhos; esse afecto era razoável e natural, agradável até, para mim, que sofria por causa dela. Fui um parvo. A ideia que eu fazia de Paris impediu-me de apreciar aquela mulher sublime.
"Que diferença, santo Deus! E que encontro eu aqui? Vaidade seca e altiva, todos os cambiantes do amor-próprio e nada mais.""
Stendhal, in Vermelho e negro


01 agosto 2014

..bom programa.
Precisava disto.
Uma massagem.
Mas de corpo inteiro.
E de me rir.
E de dizer disparates.
E de beijos.
E de festinhas na alma, se alguém o conseguisse.
Quanto cansaço, quantos cansaços, consegue alguém aguentar 
e parecer que se mantém ainda de pé?

Boa Noite


(...)
Guarde meu caos em tua pele
e em mim amanheça.

Zara

Daqui

[... eu, que hoje sou só caos, não tenho amanheceres guardados em ti.
hoje, ontem e amanhã já não há amanheceres,
já não há sequer a tua pele para me desencaminhar o caos.
Alguém me beba o caos, me coma a pele, me esvazie
e me deixe amanhecer sem mágoas.
 Limpa como a manhã fria cheia de espaço para o sol.
O meu sol,
que te aquecia e onde deixaste o teu caos. ]

31 julho 2014

...isso, isso!!
E muito e muitas!!!
bahhhhhh
(e agora vou, que hoje já chega.... estou cansada e cheia de fome! )



...estou   de - rre - a - da!!!!!

Irra, que o dia hoje foi duro, também só me apetece tirar os spatos e ir para ao pé de água, mar preferência...
Dias loucos, mas que ao menos não nos deixam pensar nem parar, ou queríamos que não deixassem, enfim... há coisas que nem na maior confusão deixam de nos invadir e tomar de assalto, mas têm pouco tempo para se deixarem ficar .
Mas ao fim de um dia como hoje concluo que os homens são mesmo uns cachopos, e que devem pensar que toda a gente tem de ser mãe deles, eles fazem merd@ e estão à espera que, como somos mulheres, lhes perdoemos ou sejamos flexíveis, quando percebem que não é assim, e que há quem não ceda... espantam-se. Depois somos umas cabras... até já estou habituada, para outros é foleira e estrábica e mais não sei o quê, além de cabra, estes até são meigos... siga! É a vida. 
De seguida toca a meter baixas fraudulentas, psiquiátricas quiçá (onde é que eu já vi/ouvi isto??)... Não querem fazer um determinado serviço, porque olha não apetece, querem escolher o que mais lhes convém, fazem birra, ninguém cede e então... bom, então, como muito bons portugueses que enchem a boca para dizer mal   deste, daquele e dos políticos, e da corrupção, e da desonestidade, e de serem roubados...  queixam-se do país, de nada funcionar, etc etc... mas é isto que fazem naquilo que está ao alcance de cada um!  metem baixa fraudulenta... e pagamos todos. E é transversal - desde as pessoas mais eruditas e cultas  à empregada de limpeza. É tudo igual... as pessoas não têm auto-critica? E vergonha na cara já agora, também não? E continuarão a dizer mal de tudo... enfim. 
Como se pudessem falar, como se não contribuíssem para a miséria de que se queixam...
Estou cansada!!! 
Muito e de tudo, não se consegue mudar o mundo nem as pessoas... eu sei, mas no que está ao meu alcance eu tento, pelo menos tento. 
(é por isso que me canso e ando exausta de tudo, principalmente das pessoas, principalmente dos homens... mas eles se aqui vêm é que vão gostar da foto, já sei.)



Será que ainda sabes ao que eu cheiro?
Eu ainda sei ao que tu sabes.
(Com esta frase às voltas na cabeça... Talvez durma agora... Depois de me livrar dela)
Até os beijos selvagens são coisa que me agrada, 
que sinto falta e que nunca precisaram de ser regados, só desregrados.  
Renovam-se, não precisam de estufas, precisam é de vida de desejo, de tesão, de vontade, 
e isso rega tudo, são as chuvas do dia a dia que os mantêm, 
porque querem continuar a existir, a viver, a ser. 
Gosto de coisas selvagens, meio selvagens, vá... pronto
(e havia quem volta e meia me chamasse fera, 
só podia ser daí porque de resto fiquei tão domesticada que dá para dar vergonha...)

Boa Noite, selvagem ou não.


"- Andamos a regar flores de plástico, é isso que fazemos. Temos coisas que não servem para nada. É tudo plástico. E nós regamos essas flores e esperamos que cheirem a coisas boas. Mas é plástico. Temos coisas, em vez de tentarmos ser felizes, substituímos a vida por plástico, a felicidade por plástico e o próprio plástico por plástico. Trabalhamos para regar uma vida destas."

Afonso Cruz

[...plástico, sim talvez... leio isto e pergunto-me qual é, ou foi, o meu plástico. O que andei eu a regar a pensar que era verdadeiro e afinal era plástico, era falso, não era nada. Será que então a minha felicidade era plástico também?... Não, não era, a felicidade não se falsifica, ou se sente realmente, ou não se sente, e eu senti. O que sentimos por verdadeiro é verdadeiro para nós, mas para outros poderá ser plástico. Se calhar é isso. Vejo muita coisa que me parece plástico, que me dizem plástico, mas será? Só quem realmente o sente saberá. Se não se enganar a si mesmo. E quem andar a regar flores de plástico e o sabe, porque o faz? Sabemos que o plástico não cresce, não vive, e se cheira é manipulado para isso, para cheirar a determinada coisa que parece bem, mas para quê? É mais seguro regar flores de plástico porque não morrem, porque na verdade tanto faz que se reguem ou não, porque serão sempre plástico, não passam a flores verdadeiras, selvagens no campo ou de estufa cheias de cuidados. Por muitos cuidados que se tenha com o plástico. 
Eu gosto de flores selvagens das que nascem sem se pedir, sem nada fazermos, mas que notamos quando passamos porque são bonitas, porque são reais, porque lutam para se manter. porque têm e representam vida. Gosto de flores do campo, não gosto de estufas e de demasiados cuidados, gosto do que é espontâneo, genuíno e cresce sem pedir licença, gosto do que surpreende e desafia a vida. Gosto dessa força, mesmo que seja frágil e incerta contra a força certa do plástico, que nunca muda e nada oferece. Só se vê, só parece, só serve para se ver e nada mais. Andamos a regar vidas para que se veja, para que nos vejam?? sempre na máxima beleza imutável, e entretanto deixamos passar a vida que é selvagem e sempre muda, sempre cresce, sempre luta, e às vezes morre, mas pelo menos viveu. Pelo menos viveu-se um dia. O plástico serve para os outros verem o que achamos perfeito e gostaríamos de ter, tanto que até regamos para nos enganarmos de que dali algo pode crescer. E entretanto morremos aos poucos porque não somos de plástico.]

30 julho 2014

A sério, não vale a pena, é escusado andar há dias a pôr a tirar, a mostrar e a ocultar. De manhã vê-se tudo e mais alguma coisa, à tarde desaparece, a sério é tão óbvio que chega a ser ridículo, mas pronto. Descansa o espírito, já deu para ver a fatiota toda gira - e por acaso até é, o que é raro eu achar, mesmo que eu não vestisse um padrão que dá tanto nas vistas era giro e ficava bem, porque a criatura é bem posta - a boa disposição e felicidade patente, até deu para ver alguma oleosidade... tsss tsss, aquele brilhozinho não engana (vá a parte do oleosa é a parte que deveria servir para perceber que não somos assim tão piores... mas ao menos somos auto-críticas, coisa que falha a muito boa gente...).... até deu para ficar saber em comentário quem é que tirou a foto e por isso é que não aparece, claro, havia que esclarecer, não se fossem pensar coisas... deu para ver tudo, é escusado andar a pôr e tirar, se bem que sempre mostra a que horas certo despertador deve funcionar.... desaparece tudo...ehehhehe tanta criancice de parte a parte, as proibições e o fazer o contrario e acharem-se todos muito espertos, um pensa que é obedecido e outro pensa que é tão esperto que não é descoberto... enfim pelo menos tem piada a situação... não fosse tudo tão estupidamente triste e postiço e falso e ser tudo uma brincadeira em que todos sofrem e outros ainda aprendem tudo errado com o que vêem... manipulação e acharem-se sempre mais espertos... Mas passemos à frente que esta história cada vez é menos minha com este tipo de jogos e situações ridiculas. Valha-me perceber isso.
... o que uma palavrinha muda...
Um homem ouve "temos que falar" e foge de todas as maneiras que conseguir e encontrar....
acrescentamos uma palavrinha à frase, 
de preferência antes - é que assim suponho que nem devem chegar a ouvir o resto... - e deve dar um resultado extraordinário, suponho que sim... tenho aliás quase a certeza absoluta, até apostava um strip de conversa...eheheheh
Só me andam a dar ideias, um dia destes experimento.
E esta é gira, e faz o meu género.
"despe-te, temos que falar, e se não te despires tu, dispo-te eu".. 
ehehhehe estou a imaginar, tem piada
Bom Dia!!



Começo a chorar
do que não finjo
porque me enamorei
de caminhos
por onde não fui
e regressei
sem ter nunca partido
para o norte aceso
no arremesso da esperança

Nessas noites
em que de sombra
me disfarcei
e incitei os objectos
na procura de outra cor
encorajei-me
a um luar sem pausa
e vencendo o tempo que se fez tarde
disse: o meu corpo começa aqui
e apontei para nada
porque me havia convertido ao sonho
de ser igual
aos que não são nunca iguais

Faltou-me viver onde estava
mas ensinei-me
a não estar completamente onde estive
e a cidade dormindo em mim
não me viu entrar
na cidade que em mim despertava

Houve lágrimas que não matei
porque me fiz
de gestos que não prometi
e na noite abrindo-se
como toalha generosa
servi-me do meu desassossego
e assim me acrescentei
aos que sendo toda a gente
não foram nunca como toda a gente

Mia Couto

E por hoje acho que já chega de dia... deitar e dormir seria bom, melhor seria encostar-me e sentir o mimo que me falta, enrolar as pernas noutras e puxar um braço para eu agarrar. Melhor seria, mas dormir sem sonhar e não sonhar acordada se calhar era melhor... "porque me enamorei de caminhos por onde não fui e regressei sem ter nunca partido"... ainda não, ainda não regressei. os sonhos que o sonho sonha não deixam.

Boa Noite

29 julho 2014

Ahhhh... Menino depois não queres que eu às vezes tenha vontade de te bater por escreveres assim e dizeres estas coisas... 
...caramba, é mesmo, mesmo, isto.
É tanto assim!! e ainda aqui falta tanto do que é...
que estranheza esta coisa de quanto mais tempo passa mais se percebe que não passa.
Nada passa.
Não dizem que o tempo cura tudo, que o tempo volta a pôr tudo no lugar, como dizia alguém?
o meu tempo deve andar perdido, não deve saber o lugar das coisas para as pôr no lugar... deve ser isso.


...ora aqui está um bom uso para os pares de patins que me deste!!
Bom motivo para brincadeira, e rir ia ser uma certeza... com o jeitinho que tenho para patins...
(apesar de coleccionar pares... ui)

28 julho 2014

E mais uma vez aqui estou, sentada no degrau da varanda, olho para o lado e lembro-me duma noite em que aqui estavas ao meu lado e eu chateada com alguma coisa a tentar manter alguma distância e tu a aligeirar, a brincar quase a medo, tocas-me sem querer e sabes sempre que noto bem que me tocas e me desmontas, sabes, mas ainda assim lembro-me de estares aqui ao meu lado meio a medo. Não me quero lembrar destas coisas que me fazem sorrir e que me despedaçam ao mesmo tempo por saber que são só minhas, são só memórias minhas. Guardo coisas pequenas, coisas que senti, olhares, toques a medo e às vezes de raspão. A escrever isto estou-me a lembrar de tantos momentos, coisas que me foram boas e ficaram. As coisas que eu gostava. O que me fazia rir e sorrir, e quando me sentei aqui não era isto que pensava, era que é domingo à noite e amanhã começa uma semana nova, mas não sei em quê. Por que é que as pessoas estão sempre a chamar de novas coisas que se repetem sempre? Todas as semanas há uma semana. Nova porquê? Que tem de novo que a anterior não tivesse? O que mudou? Nada, ou eu não vejo. Infelizmente, porque precisava mesmo de algo novo nesta semana nova. Na verdade precisava duma vida nova, mas a vida também é coisa que se vai repetindo todos os dias sem grande cerimónia, e no entanto todos os dias é diferente, tem coisas diferentes. É nessas coisas diferentes que me ponho a pensar, no que vou fazer amanhã, no que queria fazer esta semana, e depois percebo que  por muito que pense já sei que amanhã me vai custar cada osso a sair da cama porque, por diferentes coisas que a semana possa ter, a vida é a mesma e não é esta que eu queria. E penso nisto e deito-me para trás e logo me lembro de quando aqui ficámos os dois deitados a olhar lá para fora, a conversar, a rir e a namorar. Percebo então que nada muda, que tudo está na mesma, mas que tudo mudou. Não estás, nem estarás mais, aqui. Mas a vida não é nova e não é de certeza a que eu quero. E amanhã é segunda. Mais uma. Dizem que é nova.

27 julho 2014


"Mostraste-me que havia outra vida, bem menos complicada mas mais rica, mostraste-me que pensar não é sempre melhor que não pensar, e muitas vezes é muito menos útil que sentir.Levaste-me para dentro de ti, entraste comigo dentro de mim. E o teu lugar fez-se o meu lugar. Fizeste um lugar nosso – e eu não sabia que podia haver lugares assim.
Depois sentaste-te, deste-me a mão, ficámos longamente em silêncio. Não porque se esgotassem as palavras, mas porque as palavras não são tudo – há coisas que só se ouvem nos silêncios.
E eu nem sabia como era importante tudo o que mostraste, nem sabia que iria não saber viver sem isso. (Ou não querer. Saber sabemos sempre. O amor, esse, é feito é de vontade.)"

" o amor, esse, é feito é de vontade." vontade de amar o outro, ser amado por ele e amar esse amor que se tem e quer. mas há quem ame e ame o amor que sente mas não seja amado, e quanto a isso não há vontade que sirva. Por muito que se queira, ou por muito que não se queira ver isso.

"Tu não sabes ser jardim, só sabes ser jardineiro." 
Frase duma amiga devia eu ter quinze dezasseis anos. E tenho pensado muito nisto. E no porquê disto. Concluo que como me parece que nunca irão realmente gostar de mim preciso que as pessoas precisem de mim, porque assim penso que mais dificilmente me deixarão ir. Mas não é verdade. Realmente as pessoas não gostam de mim, mas das minhas faculdades, do meu tratar delas, mimá-las, arrumá-las um pouco e à bagagem que lhes pesa. Consertá-las, fazê-las crescer enquanto pessoas, se calhar. Depois disto não precisam mais de mim, e então batem asas de mim, uns porque já viram o que tinham a ver, e dizem que aprenderam tanto comigo (obrigada, a sério, é mesmo o que uma mulher apaixonada precisava de ouvir), outros porque ganharam a segurança que não tinham, mas todos facilmente me substituem e vão lá à vidinha deles. Como sanguessugas. E eu, eu só escolho jardins para cuidar e para me dar que realmente goste, e depois fico sem nada, deixo só um jardim arranjadinho para alguém a seguir a mim usufruir. Mas em cada canteiro deixo um pedaço de mim que me falta quando me expulsam. E eu já devia saber tudo isto antes de o pensar e aqui escrever, porque há tanto tempo já que digo que gostar não é precisar, é precisamente o contrário, é não precisar do outro para nada, mas ainda assim querê-lo, porque nos sentimos o melhor que somos e podemos ser com ele. Porque nos sentimos a partilharmo-nos de igual para igual. Sem utilidade nenhuma. A utilidade é subserviente, o amor é tudo e basta-se a si mesmo. O jardim existe sem jardineiro, o jardineiro não existe sem jardim.