Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

20 setembro 2015

... Dia de ronha. 
Mas o sol a dar a vontade de sair, vontade dum livro numa esplanada, de aproveitar os últimos cartuchos do verão... De pensar no que a vida ainda pode ser, do que quero de mim e comigo, do que ainda tenho e gosto. Há dias em que parece que ainda não desisti. Como alguém me dizia há dias... Ainda há uma parte dentro de mim que quer a lua num bolso chegado ao corpo e acredita que um dia a conseguirá encontrar lá. Não sei, mas não tendo companhia para a ronha, é ir fazer companhia ao dia lá fora... Pode ser que tropece na lua e a traga para casa, no bolso.

Bom dia!

19 setembro 2015

15 setembro 2015

Olh'ó caramelo... doce doce, sem enjoar. 
(ou eu não enjoo, adoro esta música, 
e conduzir a ouvi-la debaixo de chuva ligeira 
é uma boa maneira de começar o dia...)

Bom Dia

14 setembro 2015



Hoje de manhã, no caminho, a ouvir Ive Mendes e o seu, tão meu, "mistério" dei por um pedaço de lua no céu, meio perdido, um fiapo quase translúcido, uma lua quase pedaço de nuvem. A mesma lua que às vezes ilumina a noite inteira, que brilha como espelho forte e sólido, parecia apenas uma pequena nuvem prestes a dissipar-se e desaparecer. Mas não, é ainda lua, e isso prova-se, vê-se, logo à noite, quando o dia adormecer, já ninguém poderá confundi-la com uma nuvem frágil a dissipar-se. Será outra vez luminosa e os atentos ao luar levantarão os olhos para vê-la, inteira, mesmo que meia.


Bom Dia!

13 setembro 2015

10 setembro 2015

(foto @_mylight_ )
(..)
Mas o pior momento do dia é aquele em que nos separamos. 

Não consigo dormir.

Fico noite fora com a minha solidão - e quem esteve a ver-me parte com o susto de continuar a existir.

Nenhum de nós é capaz de murmurar: fica comigo e toca-me. E a noite cai, de certeza, mais escura para quem parte.

Eu sou apenas a imagem do que fui. Não sinto nada.
(...)

Al Berto, "O Esconderijo do Homem Triste"

[são assombrosas as coisas deste homem, desconcertantes, quase letais de doçura, e, no entanto, duma tristeza tão densa, duma solidão tão lancinante... E a separação, sempre a separação. Ser preciso haver uma separação para haver solidão, é saber-se não estar só, é saber o exacto peso da solidão por conhecer a exacta medida da leveza do seu contrário, que é, não apenas companhia, mas partilha. Quando isso se perde parece que não resta nada, porque não havendo com quem deixa de haver o que partilhar. Tudo se esvai a cada noite, a cada manhã, a cada dia que não se conta, que não conta, mas que se vão somando de existência, de sobrevivência... 
Leio isto e penso que ouvimos sempre que a noite cai, mas não, a noite levanta-se, afirma-se, emproa-se, ensopa-nos, para que nos deixemos cair no vazio até ao amanhecer seguinte. Em tudo. 
Nem sempre parece que vai voltar a amanhecer.]

Engraçado, a sério!!
Porque a sério acaba sempre sem graça nenhuma...
é sempre uma desgraça muito séria.
Pode ser um relacionamento engraçado com alguém a sério, não?

09 setembro 2015


"Não há metade do coração. Ou todo o amor ou toda a indiferença; 
quando não, é uma insustentável impostura, chamada estima."

Camilo Castelo Branco

[Estimo nunca me render a esta estima -
metade de nada, a meio de tudo.]


08 setembro 2015

"Creio que, nisto, sentimos a mesma coisa. Temos uma imperiosa necessidade de dizer tudo um ao outro. Eu falo com ela como se falasse comigo mesmo; na verdade, melhor ainda do que se falasse comigo mesmo. É como se Avellaneda participasse da minha alma, como se estivesse acocorada num recanto da minha alma, à espera das minhas confidências, reclamando a minha sinceridade. Ela, por sua vez, também me diz tudo. Noutro momento, sei que teria anotado: «pelo menos, assim o creio», mas agora não consigo, simplesmente porque não seria certo. Agora sei que me diz tudo."

"Nunca na minha vida, nem com a Isabel, nem com ninguém, me senti tão perto da glória. Às vezes, penso que Avellaneda é como uma forma que se instalou no meu peito, que o está a dilatar, que o está a pôr em condições adequadas para sentir mais a cada dia que passa. Certo é que eu ignorava ter em mim estas reservas de ternura. E não me importa que esta seja uma palavra sem prestígio. Tenho ternura e sinto-me orgulhoso de a ter. Até o desejo se torna quase imaculado. Mas essa pureza não é beatice, não é afectação, não é pretender que envolvo apenas a alma. Essa pureza é amar cada centímetro da sua pele, é aspirar o seu odor, é percorrer o seu ventre, poro a poro. É levar o desejo até ao topo."

Mario Benedetti, in A Trégua 

Tenho estes trechos guardados há muito tempo,  mas não me tem apetecido pegar nisto, nem nisto nem noutras coisas, mas hoje a remexer nos rascunhos deparei-me com eles, e merecem aqui ficar, no meu registo dos livros que leio e das partes que gosto de reler. O último parágrafo que aqui transcrevo é absolutamente delicioso, lindo. Sentir assim é privilégio de muito poucos, acredito. A noção de ternura, a relação funda de quem conversa sem fronteiras e sem medo de invasões, a certeza de que não se esconde nada, que o que não foi dito não foi por uma qualquer razão de limitar informação, mas apenas porque não surgiu. Dizendo tudo, sempre tudo fica por dizer, porque conversar é quase respirar a vida em conjunto. É isto que abre a porta, ou melhor, que nos deixa - sem sabermos como lá fomos parar - naquele estado em que descobrimos em nós reservas de sentimentos que não conhecíamos, ou não os conhecíamos assim. Como a ternura, como o desejo, como a amizade. Como a pureza de que tudo isto pode inundar-nos e mudar-nos a paisagem da vida, as cores, o sentido, e o sentir. E as duas últimas frases dizem-no da melhor maneira: "Essa pureza é amar cada centímetro da sua pele, é aspirar o seu odor, é percorrer o seu ventre, poro a poro. É levar o desejo até ao topo." Até ao topo é ter o corpo rente à alma, a pele a vestir o sentir,  é amar com desejo, com tesão, sem nunca deixar de ser ternura. É o que gosto de me lembrar de chamar "amorar", ou eu gosto deste termo. Muito.

Logo por aqui que se vê que deve ser gajo....
... E danadinho hein?
Não há direito...

Bom dia!

07 setembro 2015


... Mas espero ter o meu melhor presente no futuro...
"Na grande maior parte das vezes só vemos aquilo que queremos ver, e sabemos aquilo que queremos saber. 
Fechar os olhos, não querer saber nada que nos acrescente em termos humanistas ou que nos faça evoluir como pessoas, saber não satisfazer "curiosidades negativas", 
melhor, chegar ao ponto de nem sequer ter curiosidades ilegítimas, isto tudo, não só é nível como é verdadeira evolução do espírito. 
A inocência é o que fazemos dela, a vida é como a vemos... 
A vida é bela quando a única coisa que nos preocupa, é o bem estar dos outros e nada mais. 
Porque as pessoas têm o seu espaço, que é seu. 
Vivemos num mundo corrupto."

Este comentário foi aqui deixado ontem. Só vi agora mas tenho alguma dificuldade em perceber o seu conteúdo, de qualquer forma, e porque a resposta se tornou demasiado extensa (eu e a minha capacidade de sintetização...), aqui fica a resposta possível...

Bom, vamos por partes porque não consigo bem seguir a linha de raciocínio do comentário...e até vamos começar pelo fim:

1º - vivemos num mundo com muita gente corrupta - verdade que não merece ser discutida,
poderíamos era discutir o que isso poderia ter a ver com o tema, porque não consegui perceber.

2º - "A vida é bela quando a única coisa que nos preocupa, é o bem estar dos outros e nada mais.
Porque as pessoas têm o seu espaço, que é seu." - mais uma vez, lamento, peço mesmo imensa desculpa pela minha incapacidade, não só de não perceber a ligação ao tema  (as pessoas negarem o que vêem e sabem), mas também de não perceber a lógica de relacionar o encarar-se a felicidade como o ver quem gostamos felizes (o que concordo) com o facto de as pessoas terem um espaço "que é seu"...???? hein?? não percebi.

3º - Concordo plenamente com a vida ser como a vemos, é o nosso olhar que nos define o mundo, sem dúvida, é o nosso filtro, mas quanto à inocência, a inocência não é o que fazemos dela, isso parece indicar uma certa utilização do conceito de inocência, um aproveitamento, uma manipulação,
e isso é tudo menos inocência...
Inocência é, de facto e genuinamente, não saber e não ver, isto no caso que estamos a discutir, ou melhor, sobre que eu escrevi...
Alguém que vê a vida e o mundo achando que a inocência é o que se faz dela tem um olhar sobre o mundo diferente do meu.

4º - Não vejo como evolução do espírito - muito menos "verdadeira evolução" - o saber não satisfazer "curiosidades negativas", nem ter "curiosidades ilegítmas".

Primeiro, não percebo bem o que seja a ilegitimidade duma curiosidade (se for saber da vida dos outros que não têm nada a ver com a nossa, bom, não é nada disso que aqui se trata, e isso para mim não é escolha, não é sequer fechar os olhos a algo que não se queira ver, enquanto escolha, para evitar ser confrontada com o que não me é favorável, é simplesmente não ouvir, não ligar. Não chega a ser "fechar os olhos", não é uma escolha, é simplesmente não me interessar por isso, legítima ou ilegitimamente, não sei, nem me interessa).

Quanto às "curiosidades negativas" penso que é um exemplo básico daquilo que falo (ou tento...) no texto, quando as coisas são "negativas" as pessoas escolhem fingir não saber, fechar os olhos,
(fazerem-se de "inocentes" na linha do comentário que aqui deixaram...), quando na verdade sabem exactamente o que estão a escolher fazer de conta que não vêem, porque não é bom, não lhes é favorável, não é agradável e às vezes até implica tomada de atitudes (ohhh que maçada, essa coisa das atitudes!!.... vamos lá fazermo-nos de "inocentes" que é muito mais cómodo...) - e isto, na minha perspectiva, não é, de todo, uma verdadeira evolução do espírito, ou sequer demonstração de nível, diria até que é o seu oposto.
É fugir de ver a sua própria realidade para não ter de se confrontar com ela e ver-se a si mesmo, aos outros e às situações, como na verdade são. Porque, isto sim, faz-nos evoluir enquanto pessoas adultas e seres humanos - lidar com a verdade, não manipulá-la, não fazer parecer uma coisa bonitinha quando não é. Há demasiada hipocrisia neste querer fazer parecer, é não assumir a realidade como é, para nós mesmos e para os outros.
E há pessoas para quem a imagem que projectam nos outros é fundamental, têm a sua própria imagem como aquilo que querem que os outros vejam e não pelo que são (e nalguns casos eu percebo, de facto se vissem o que realmente algumas pessoas são...enfim.), por isso passam a imagem para os outros duma coisa que não são, e muitas vezes isso implica fazer de conta que não se sabe o que se sabe, para poder passar a imagem duma vida que na realidade só têm quando estão no palco social... uma hipocrisia, portanto...

mas no fundo acho que vai ao encontro da primeira frase do comentário que aqui foi deixado:

"Na grande maior parte das vezes só vemos aquilo que queremos ver, e sabemos aquilo que queremos saber." - nós só queremos saber e só admitimos saber o que nos convém, sabendo exactamente o que estamos a eliminar do nosso conhecimento, ou seja, daquilo que efectivamente sabemos mas não queremos admitir. Sabê-lo colocar-nos-ia numa posição em que nós mesmos não nos queremos colocar. Essa posição, normalmente implica uma qualquer atitude que não queremos tomar,
e, então, em vez de assumirmos que sabemos mas nada fazemos, fingimos que não sabemos, e assim não perdemos a face nem o orgulho por não tomar nenhuma atitude...

É muito mais cómodo manipular o que se sabe da realidade do que enfrentá-la, mas está muito longe de quem o faz ter nível ou ser mais evoluído em termos espirituais, ou humanistas ou o que lhe queiram chamar, mas isto é só como eu vejo as coisas, mais nada.

Eu escrevi o texto que deu origem ao comentário porque durante muito tempo a minha razão dizia-me uma coisa, e o meu coração, pele, e alma diziam-me o contrário, e eu pus-me a pensar se eu, sabendo, não quis ver o que estava à frente dos meus olhos, embora tivesse  também muitas razões para duvidar da razão...    não era nada minimamente na linha do comentário que foi deixado, não tinha a ver com curiosidades, inocência ou corrupção... Respondi da forma que consegui  pelo que entendi do teor do comentário, no entanto, a resposta não tem muito a ver com a razão do texto inicial...

06 setembro 2015

Diz-se que o pior cego é aquele que não quer ver, 
mas não querer ver não é já saber e fechar os olhos para não ver? 
Um cego não precisa fechar os olhos para não ver. 
Não querer ver é uma escolha, não uma incapacidade. 
E será que depois de se saber, vale a pena fechar os olhos? 
Melhor, conseguir-se-á verdadeiramente? 
Fazer de conta que não se sabe, que não se viu?
Não é para todos enfrentar a sua realidade sem providenciais cegueiras paliativas. 
Para se assumir que se viu o que nao se quer ver, que se sabe o que não queremos saber,
 é preciso coragem, não para abrir os olhos, mas para não fazer de conta que os fechámos. 

04 setembro 2015

... Sou só eu que leio isto e acho uma estupidez?.. Às vezes deparo-me com coisas tão estapafúrdias e tontas, que até duvido que esteja a ver bem a coisa... E que a estupida sou eu...
Mas se eu caio uma levanto-me uma, se caio sete levanto-me sete... Ou são tão optimistas que já estão a fazer contas à próxima vez que caírem? Hum? Nem eu tenho um optimismo tão refinado.
Ou então, sei lá, há contas que eu não percebo, deve ser isso...  Não sei fazer contas, realmente, se calhar é isso...

01 setembro 2015

...isto era coisa para me fazer voltar à vida...
De se lhe tirar o chapéu...
(pelo menos...)

30 agosto 2015

Há bocado apercebi-me, por um comentário que deixaram, que tinha publicado um post que não sabia que tinha publicado, era para ficar nos rascunhos, naqueles rascunhos que servem para libertar pesos, ou para pôr pensamentos preto no branco, tentando organizá-los, desembrulhá-los, e no caminho também a mim. São devaneios e coisas minhas, que não pertencem aqui, como ultimamente tão pouca coisa tem pertencido, aliás. Mas isto para responder a esse comentário, que falava de almas grandes, é que não sei de nada disso do tamanho das almas, mas sei que a minha sente o que sente e não tenho grande mao nela nesse campo, infelizmente. E as vezes há um sentido de justiça - ou de injustiça -, que nos arranha os sentires, e deseja-se que a vida, de alguma forma, equilibre as coisas, ainda que não queira ter participação alguma nesse ajuste de contas da vida, pensa-se nele, mas na verdade desconfio sequer que exista...

28 agosto 2015

...quero. Muito.
Acho que encontrarei esse azul no fundo do meu olhar. 
Talvez tenha de mergulhar em mim para o encontrar.
Sem medo, de olhos fechados, em busca duma cor que nos dá pertença.
Só em mim esse azul estará seguro, e eu também.
Só assim eu serei o meu refúgio e as asas do que sonho.
Só assim serei o meu lugar.
Onde se sente o azul de olhos fechados.

Boa noite.

27 agosto 2015

...Não sei quem é "ela",
mas gosto d' "ela"
Não gosto de jaulas nem para o coração. 
Nem para o meu nem para o dos outros.
Só na liberdade de não prender ninguém alguém se prende a nós.
Gostar é a liberdade de se escolher a quem nos prendemos, 
sem amarras, sem jaulas, sem dever de gostar.

Bom Dia!

25 agosto 2015

Recebi estas mensagens há poucos dias, e partilho agora convosco, porque tem a ver com o comentário da Nanda no meu último post, talvez seja coincidência estas duas leitoras, nesta altura em que estou, me dizerem coisas que me sensibilizam e me fazem notar, e sentir, que este blog tem dimensões que eu desconhecia, e talvez outras tantas que posso ainda desconhecer. 
Na verdade acho que tem - ou ganhou ao longo dos anos, não sei -,  outras dimensões e vidas, e toca (ou tocou, vá) vidas que não imaginava, de formas que não poderia imaginar. 
Tudo ganha um sentido diferente ao ver isto, ao ouvir estas coisas que me dirigem, sem nunca me terem falado, ou visto, e no entanto, terem aqui, neste blog, tudo o que é preciso para me conhecerem por dentro, para me conhecerem melhor do que quem todos os dias me vê a cara, me ouve, me vê rir e viver os dias claros, como se a Eva não existisse, e é na verdade quem mais me faz, quem mais sou, ou talvez não, não me faz mais,  mas faz-me tanto como a outra parte que se vê, sou-o muito, sim,  mas reservado a poucas, muito poucas pessoas. É uma faceta muito íntima, que não divulgo com facilidade, que não dou a qualquer um. Poucos a sabem ver ou sentir, já nem digo perceber. Mas o que percebi nestas linhas da Nanda e desta outra leitora é que as minhas palavras, este meu lado serve a alguém para alguma coisa, sem que eu o desconfiasse, e isso é bom, e dá um outro novo sentido ao deixar fluir pelos dedos o que me está escrito na alma. Talvez alguém o aproveite, talvez alguém tenha gosto em lê-lo, talvez se identifique, ou talvez sirva para saber o que não quer. Não sei, mas aparentemente pode servir para mais do que eu pensava, e não só para mim.

Bom só para dizer que estas duas meninas me fizeram ver o blog, e o que escrevo, duma forma diferente, e que sim, talvez um dia destes as palavras voltem a surgir aqui. Não prometo, não sei, mas pelo menos por estas duas almas caridosas, vou tentar. :))

Ficam aqui as mensagens (há coincidências engraçadas, há que dizê-lo... ou eu achei. parece que chamam a Eva para onde é o sítio dela... e talvez o único sítio dela seja mesmo este blog e estas palavras - talvez nunca tenha tido outro. ):

Leitora do Blog - Olá, andei a ler-te durante 3 anos seguidos da minha vida. Todos os dias ia ver se havia novidades no teu blog. Depois, por motivos que agora não interessam para nada estive uns 2 anos sem te encontrar. Encontrei-te agora e até descobri que tens uma página no facebook. Tenho estado a ler todos os posts para trás que ficaram perdidos nestes 2 anos. ...e só queria dizer-te. É tão bom ler-te. É tão bom.

Eu- É tão bom ouvir isso... Mesmo! Obrigada.

(vi as mensagens pouco tempo depois de terem sido enviados e por isso deu origem à seguinte breve conversa...)

Leitora do Blog - Acabei de ler um post em que falas que te irrita que te copiem (mesmo que isso seja a melhor forma de elogio)... mas tenho que te dizer... foste a minha salvação muitas vezes.

Eu - como assim? a tua salvação?

Leitora do Blog - quando não sabia como explicar algum sentimento ao meu marido, copiava um texto teu e colava no espelho da casa da banho... às vezes leio-te e penso: é mesmo isto que eu sinto. Só que as palavras não me saem como a ti. Fluídas, organizadas e claras.

Eu - e ele entendia?

Leitora do Blog - entendia sempre e poupava-me de uma discussão

Leitora do Blog - é bom ter-te encontrado de novo e gosto muito de te ter por cá.

Leitora do Blog - beijos e obrigada

Eu - o blog tem tido e falado de tantas tristezas que essa deve ter sido uma outra fase do blog e da minha vida, e pelos vistos também da tua...

Eu - Beijo e obrigada, eu

Leitora do Blog - tudo se resolve. o mundo equilibra-se sozinho quando menos esperamos. Eu vou-te lendo e acompanhando. ...no blog, que é muito mais charmoso do que por aqui.

15 agosto 2015

Chego e todos os dias peço o mesmo: "um café e um copo de água, se faz favor". Hoje cheguei e não tive de pedir, surge-me com o café, o copo de água e um cinzeiro. Não só sabe o que peço como reparou que o cinzeiro é-me necessário, mesmo que nunca o tenha pedido, geralmente levanto-me e vou-o buscar.... Porque é que a vida não é assim? 
"Era isto, menina?"
Era, era isto... Sorri a acompanhar o "obrigado"... 
Mas aquele "menina", pôs-me de novo a pensar: porque é que a vida não me trata assim?

Bom dia.

13 agosto 2015


... E é isto.
Vale-me o sentido de humor, normalmente, não ficar entalado...

Bom dia!


Saudade: substantivo que se sente verbo do passado conjugado no presente meramente indicativo.

[tenho saudades de mim, saudades de me sentir eu inteira, inteira de falhas sem medo de as mostrar. Saudades de poder ser eu e de olhar o horizonte com esperança na ansiedade que o medo faz apertar mas que não asfixia. Saudades de acreditar nas pessoas, na vida, num qualquer equilíbrio justo do viver. Saudades de querer acordar e não me importar de não dormir. Saudades das gargalhadas destravadas e desavisadas. Saudades de não ter tantas saudades como se o passado me guardasse e o presente fosse um repetir-se mecânico inabalável e meramente indicativo: agora, hoje; amanhã será também agora, hoje, tal como hoje, tal como amanhã, tal como sempre, porque o passado, algures, ficou com os dias: com aquele dia, e o outro, e o tal, e o dia disto, o dia daquilo, o dia em que o nada foi tudo, o dia em que tudo deu em nada... dias com luz dentro mesmo à noite. Guardou-os numa gaveta fechada com a chave de saudades. Só assim se abre, mas nunca de lá saem. Talvez seja melhor que uma gaveta vazia, ou talvez não.]

12 agosto 2015


Toca-me como se fosse tua
Toca-me como se te fizesses meu
Toca-me como se me conhecesses
Toca-me como se me quisesses todos os dias desde sempre
Toca-me como se fosse tua rainha e tua serva
Toca-me como se fosses meu senhor e meu escravo
Toca-me como se nada mais importasse
Toca-me como se os teus dedos fossem só alma
Olha, 
olha-me, como se nunca me pudesses tocar.
Toco-te?



(Foto @real_simple)



Disseram-me que um dia me iriam escrever a explicar tudo.

Recebi a carta quando já nada esperava.
Era só uma palavra...
...inexplicável.


Dizia tudo, explicava tudo, era tudo

E não dizia nada, não explicava nada, não era nada.

Eu não quis perceber.
Eu não percebi.


Ainda não percebo.

11 agosto 2015

Hoje trocamos, conduzes tu.
Eu deixo. Hoje.
(Foto @zeosor)

Há memórias poisadas, 
espalhadas pelos sítios onde ando. 
Levantam-se como poeiras à minha passagem 
para me aterrorizar de felicidades passadas 
à espera de poisar.

10 agosto 2015

"Tudo isto deve ser tido por verdadeiro sem quaisquer provas; por outro lado, seria difícil demonstrar o contrário."

Ítalo Calvino, in Palomar

[...este, diria eu, é o problema em muita coisa. Em demasiadas coisas. O acreditar, pensar-se até que se sabe, apenas porque não é possível (ou muito difícil) a prova do seu contrário. Por outro lado, resume a fé em todas as suas roupas e com todos os seus perigos. O contrário dos impossíveis é difícil de provar. Talvez por isso se diga que não há impossíveis... ]

Há rotinas de que gosto. Mesmo. 
Acordar, sem pressas; tomar o pequeno almoço, sem pressas; arranjar-me sem pressas e sair de casa rumo aos barquinhos. Munida de um livro e tempo para parar. Pedir um café, sem pressas bebê-lo ao sol, pensar se me apetece ler, dar por mim, afinal, a escrever e a ver o que está à volta. Dar conta das mãos masculinas nas duas mesas que aconchegam a minha; surpreendentemente gostar dos dois examplares. Parar, para mais uma vez atentar nesta minha mania das mãos, e achar cada vez mais que as mãos são essenciais. Ainda procuro perceber o que lhes procuro. 
Parar, parar e estar comigo. 
Gosto destes cafés de manhã tardia sempre a tempo, enfunados nas velas recolhidas dos barquinhos que me guardam as viagens parada.

Bom dia
Há muitos anos que me sento aqui, nesta varanda, onde o céu aparece recortado, emoldurado entre as paredes  dos prédios que parecem fechá-lo, e ao mesmo tempo protegê-lo, cingi-lo, quase num abraço. É um pedaço de céu, mas não é céu com toda a propriedade e extensão, ainda que o seja, que seja da mesma matéria do outro que se perde de vista. A nossa vista é que muda - a nossa vista é que muda sempre tudo. Escrevo isto e dou-me conta que com as pessoas é o mesmo, às vezes esquecemo-nos que a parte pequena que vemos é parte do todo - que há um todo. A matéria de que somos feitos é só uma, mas é preciso saber ver, quando nos cingem num quase abraço ou quando nos dão largas a toda a imensidão da alma. Quando nos dão rédea solta para sermos o que somos, com toda a propriedade e extensão. Tudo é, talvez, uma questão de saber ver, e, na essência, querer ver. E este céu, que aqui vejo numa moldura de arestas incertas e travessas, já o conheço, e por isso noto que está diferente. Este céu, visto neste sítio particular, costuma ser doce, costuma ter a cor do algodão doce, daquele que povoa a minha infância e que é pintado em cor de rosa menina. Hoje não é de menina a sua cor, tem a cor de negro esbatido, vêem-se, perdidas, apenas duas ou três estrelas mais afoitas. Mas daquele rosa que me fazia sorrir e lembrar de algodão doce, só há vestígios na memória. Hoje não há reflexos rosa na neblina, as luzes mudaram, ou a neblina dissipou-se demais. Às vezes há coisas que nos fazem dissipar as ideias doces, às vezes começamos a ter na boca demasiado tempo o sabor amargo das tantas tortuosidades do caminho para nos conseguirmos lembrar daquela nuvem que se derrete na boca, que é feita de açúcar, sorrisos quentes e sonhos mágicos. Quando os engolimos ficamos doces e desaparecem, fica só a ideia deles e o calor das memórias, se a boca não nos amargar demasiado com a vida. Olho para o céu e fecho os olhos para os abrir para a memória, para ver por dentro do que vivi e me ficou, vejo um céu fofo, parece de algodão, e pela cor é doce. Dou por mim a pensar que em crianças nos deram a todos esse pedaço de algodão doce, mas demorámos a perceber que não era um pedaço: era o todo. E agora andamos a vida toda à procura do resto, da doçura a perder de vista. E muitos há que se perdem, outros esqueceram ao que sabe, outros desistiram de procurar esse açúcar que derrete na boca e nos engole de magia. Outros olham para o céu e perguntam por ele, na esperança disso querer dizer que não desistiram, e que o travo amargo da vida não os trava nessa procura tão inglória quanto mágica e incerta. Mas, parece-me, que já que nos podemos perder, ao menos que seja na busca de algo que faça sentido ser doce e mágico... E que não tenha sentido nenhum, como olhar o céu e faltar-nos na boca algodão doce. Cor de rosa menina.

Boa noite

09 agosto 2015


... ronhaaaaa não tira férias, e ainda bem!.. Anda-se aqui, vira-se de um lado para o outro, cheira-se a almofada de várias perspectivas sonolentas, deixamo-nos ficar sem saber porquê, e a vida vai-nos passeando pela cabeça em pensamentos matinais. É o que estraga, pois, pensar estraga muita coisa, mas também resolve muitas. Infelizmente nem todas, eu estou aqui a pensar que a mim me tem calhado a parte podre da maçã, e que depois de livre da parte má, alguém - que não eu - aproveita a parte boa. Parece as vezes que ando no mundo a melhorar o que nunca sou eu a beneficiar... A trabalhar para os outros e mal tratada. E isso dá-me uma ligeira irritação, que dá, não há como negar. E que tal aparecer-me alguém que me faça crescer e melhorar? A mim, euzinha aqui... Hum? E que não deixe isso para outro alguém aproveitar? Que tal trabalhar a par e em par? Uma variação das boas, quem sabe... Ando bastante precisada de variações das boas na minha vida... Se ando!

Bom dia

08 agosto 2015


Era um café destes, se faz favor!
Não tem... assim a pedido?! Não dá para encomendar???
Ohhhh... Traga-me um dos outros, pronto...

07 agosto 2015


Para onde vais tu, Eva?
... Não sei... Estou indecisa... Acho que vou abancar aqui para um café a pensar no destino...

E agora, ao fim do dia feito, ia um banho assim... Não, não é preciso água, um banho de luar em beijos, em que não comparecendo a lua, ficam os beijos pela noite dentro. Banho de imersão. 

04 agosto 2015


Quebrada, mas não presa... Navega-se a esperança, voa-se nas asas do azul adocicado de branco algodão doce.
Quebrada, mas não presa.
Pior de quem está preso, quebrado de desesperança. Não voa, só finge estar no céu.

Bom dia.

31 julho 2015





Nao sei de mim
Não sei de ti

Perdi-me no tempo
Do espaço que nos separa

Encontro-te no espaço
Do tempo que nos junta

Sei que onde tu começas
Eu não acabo

Sei que quando tu começas
Eu não sei acabar.


[só pode ser a lua que me faz fazer estas coisas, porque sei de mim e do resto, mas estes compassos de espera para ir banhar-me de luar fazem as palavras brincar aos pensamentos e os pensamentos às palavras, e numa varanda com a companhia dum cigarro aparecem-me estas coisas... Não liguem, ando com a alma na lua a passar férias...em noites de lua assim dizem-se muitos disparates, alguns, dos melhores que se podem dizer e ouvir...]

29 julho 2015

"A lua é o mais mutável dos corpos do universo visível e o mais regular nos seus complicados hábitos: nunca falta aos seus encontros e pode-se sempre esperá-la no caminho; mas se a deixas num sítio encontra-la noutro e se te lembras da sua cara virada para um lado, ei-la que já mudou de pose, por pouco ou muito que seja. De qualquer forma, se a seguirmos passo a passo, não nos apercebemos de que ela nos vai imperceptivelmente fugindo.(...)
Corre a nuvem, de cinzenta que era passou a ser leitosa e brilhante, o céu atrás dela tornou-se negro, é noite, as estrelas acenderam-se, a lua é um grande espelho resplandecente que voa. Quem reconheceria agora nela a lua de algumas horas atrás? Agora é um lago de luminosidade, que espalha raios de luz à sua volta, entornando no escuro um halo de fria prata e inundando de branca luz o caminho dos noctívagos."

Ítalo Calvino, in Palomar

[eu gostava de ser lua. Será que se eu quiser muito consigo ser lua? Nunca na mesma mas sempre a saberem o que esperar de mim? Quanto mais fechada a noite mais brilhante a minha luz, a minha alma? Irreconhecível comparada com semanas, anos, atrás? Será? ]

28 julho 2015

A luz brinca nas paredes 
O sol fecha-se no horizonte. 
Eu conto-me em janelas por abrir.

26 julho 2015

Toca-me, mas não me faças chorar
a minha música quero que seja outra:
as notas de riso
as lágrimas de felicidade.
a minha música quero que seja a nossa:
a minha dança o teu olhar
o teu tocar as minhas cordas.
...as minhas costas já não são piano.

(Foto @blackandwhiteisworththefight)

Se a pele guarda o sol em cor e calor, dias depois de o ter, por que é que do amor que se teve só fica o frio? E esse frio tão duro às vezes parece que nos aquece enquanto nos magoa... Porquê?
E porque é que continuo a ter perguntas e a escrever, se de nada vale? Se nunca valeu. As palavras para mim hoje nada valem, nem tem a ver com a voz que lhes dá vida, estão apenas completamente desacreditadas, venham de onde vierem... E, ainda assim, as minhas palavras, as que me segredo e desfio sem fio que as conduza, são a minha melhor companhia: a mais solitária, mas a menos só. E as únicas em que acredito. Talvez só se consiga acreditar no que não nos deixa sentir sós. Ainda que nem sempre se deva.

21 julho 2015


A manhã acordou-me com boca de beijo.

Apetecia-me um beijo: aquele beijo lento que devagar se emaranha na alma, que saboreia a ternura quente dos lábios, que cozinha a lume brando o desejo ao ponto de urgência explosiva.

Apetecia-me um beijo de mãos, mãos que percorressem a pele levemente mas sem cerimónias. Mãos que docemente partissem dos tornozelos e fizessem caminho pernas acima, com gosto pela viagem, a parar para apreciar cada recanto, por trás dos joelhos, no interior das coxas, sem pressa de chegadas, apenas tornando tudo num beijo longo, quente, demorado.

Beijos que eriçam ardentemente o desejo, que tornam o devagar em intenso, a pele em alma, o momento prolongado à eternidade.

[Hoje acordei assim, talvez por causa disto que li ontem, não sei, sei que tinha de o despejar em algum sítio... não encontrei uma boca à altura...]

Bom Dia

14 julho 2015


Apetecia-me fechar os olhos e deixar de respirar. No entanto, não são os olhos que respiram, mas sim, talvez, o olhar. É este olhar que respiro, respirando-me. Se fechar os olhos talvez consiga ser outra, e a vida ser-me diferente, eu ser diferente. O mundo mudar.
É o olhar que nos dá o mundo. Não quero este mundo, não quero esta vida. 

Boa noite.

13 julho 2015


"Repara que é daqui que nasce o medo.
E se alguém te faz sentir mais forte?
E se alguém, que já houve, te torna mais forte?
E se alguém, por te tornar mais forte, me torna mais fraco?
Foda-se, e se alguém te faz querer gritar? Como tu me fizeste querer berrar por ti em todos os cantos do mundo."

O miúdo a costurar o medo do medo.

Este é um medo que entendo.
É um medo que tenho se amo.
É um medo que quem sempre disse ter medo de tudo nunca teve. 
Talvez para ter este medo seja preciso querer gritar pelo outro, num grito que nasce bem dentro do peito, onde guardamos quem queremos, quem precisamos sentir perto, quem queremos agarrar no silêncio do berro que calamos por medo, quem abraçamos no vazio que o desespero enche por medo de um dia não mais abraçar, não mais poder gritar, não mais ter medo de perder, por já tudo estar perdido. Por haver naquele peito a vontade do grito por outro alguém que o faça mais e melhor.

apaixonar-me.
afogar-me de paixão na boca que me incendeia,
arder com a poesia dos sentidos
sussurrada quente ao ouvido,
que, devagarinho, nos rosna o prazer 
e com pressa nos morde o desejo 

O beijo que nos engole, 
o toque que nos arrepia, 
a invasão que se recebe como abrigo,
a intrusão que se consente ser casa,
que se quer urgente, 
que se pede com os olhos, com as mãos, 
com as unhas cravadas na pele.

A vontade faminta que nos desperta todas as camadas de ser, de sentir, 
que nos engole em bruto e nos deixa a pingar a essência finamente lapidada 
do amar amar quem se ama com paixão.

[apaixonar-me, era bom poder pedir... quero uma paixão se faz favor! Quente, doce, bem humorada, sem cerimónias, que me desalente e me dê a mão.
Era bom poder pedir... e despedir também. Despedir uma paixão, despedir-se sem paixão, despedir-se, e com o adeus ir tudo, mergulhar tudo numa escuridão onde o oxigénio não respira, e nós, logo de seguida, enchamos o peito vazio de ar puro. Era bom poder pedir, era bom... mas aos bocadinhos o ar puro vai-nos chegando, e a paixão -  quem sabe - há-de chegar de repente e fechar atrás de si, com estrondo, a porta do passado.] 
Ora então Bom Dia!!
Para alguns há-de ser, pois... gente atrevida (e com piada, senão não tem graça, claro)...
eheheheh



O sono não aparece e uma pessoa poe-se a ver fotografias na net. De repente dá-se com isto, e então percebe nitidamente que era ali que lhe apetecia estar, que já se jantava outra vez, que a luz das velas é coisa que gosto e me relaxa, percebo também que o numero de lugares é demais para este lugar, não é coisa para jantares em grupo, ou eu não seria o que escolheria. Por mim seria só eu, alguém que me faça rir, que tenha um brilho no olhar quando o deixa poisar em mim e ficar, alguém, que com um céu enorme e estrelado por cima de nós, procure as estrelas nos meus olhos, alguém que tenha um nervosito miudinho para acabar o jantar para ir comer, alguém que queira adormecer a contar as estrelas comigo enquanto me entrego ao seu colo e à ternura do beijo de boa noite poisado com doçura na testa, quando as estrelas já me venceram na contagem. Alguém que me faça especial. Só alguém que valha muito a pena o conseguirá fazer, e isso resolve tudo.
 Isto sim era uma boa noite. Em que a falta de sono não atrapalhava nada e onde não me dedicaria a ver coisas na net... Bahhh 
(Foto @milad_rahimi.94)

"Não sei o que me aconteceu para ficar tão triste.
Lembro-me de ter percorrido meio mundo à procura de imagens.
Tinham- me dito: é no movimento incessante de quem viaja que encontrarás a imobilidade que desejas.

Mas eu não sabia para onde ir.
Deambulei anos a fio, e nunca encontrei as imagens
que queria. Gastei as parcas forças que tinha neste trabalho,
até que um dia me perdi junto ao mar.

Resolvi construir, ali mesmo, uma casa.
(...)
Algum tempo depois, a casa transformou-se subitamente em prisão.

E talvez tenha sido isso que me pôs, assim, triste para sempre.
Custava-me a crer que aquilo que eu próprio construíra acabasse de me atraiçoar."
(...)

Al Berto, "O Esconderijo do Homem Triste"

[Somos nós que construímos as nossas próprias prisões. E só nós podemos desconstrui-las, libertar-nos delas, para voltarmos a ser nós. 
Às vezes temos de mudar para continuarmos a ser nós, para sermos fiéis ao que somos, à nossa essência.]

Boa Noite

12 julho 2015


Escorres-me pela pele
Em memórias líquidas
O tempo as tornará sal
Que alguma língua,
Sedenta de mim, 
Lamberá
Esquecendo que o sal
se torna sede sem fim
E a minha pele,
Com sede, água fresca.


É isto!... Uma desgraça... Bahhhh 

Bom Dia


"por muito que pareçam similares, "estar só", e "estar sozinho", são quase opostos.
quando se está só, sente-se uma tristeza imensa, uma falta de alguém que seja a nossa procura, o nosso objectivo de vida: uma amizade, um amor, ou uma família. quando se está só, pode-se viver o mais bonito dos momentos e continuamos a sentir o vazio de não ter alguém que, longe ou perto, presente ou ausente, seja a pessoa que gostávamos de partilhar aquele bocado de vida.
estar sozinho é diferente - porque é um estado de alma transitório. é quando se passam aqueles momentos apenas connosco, entre o jantar de amigos de ontem e o beijo de amor de amanhã. quando se está sozinho, especialmente quando é por opção própria, sente-se um alivio imenso de poder fazer o que se quer, como se quer, quando se quer, porque haverá sempre alguém que nos acompanha. para quem "está - apenas temporariamente - sozinho", mesmo no meio do vazio, sentimo-nos completos, realizados na forma como vivemos, como partilhamos, mesmo no silêncio.
na correria dos dias e das agendas cheias, pode-se disfarçar a falta do que queremos: entre risos e abraços amigos, tudo parece menos menos urgente. mas também é aí que realmente damos valor ao que precisamos. porque não é de um abraço, é daquele abraço. porque não é de quem nos faça rir, é daquele riso que é igual ao nosso. não é de um beijo de carinho, é daquele beijo em que se sente o ar a fugir. a certeza de uma paixão maior, é quando nos sentimos sozinhos, mesmo no meio dos nossos. é aí, que percebemos que a vida só faz sentido ao lado de quem amamos. que cada alegria vivida com os outros, é sempre incompleta, pela falta de partilha da nossa outra metade. confusa esta coisa de viver: quando se está longe de quem queremos, sentimo-nos sozinhos no meio dos amigos, mas completos nos momentos de solidão.."

Escritos destes momentos

Tão verdade, pelo menos para mim.
Estar sozinho é muitas vezes uma opção, é preferir a nossa companhia ao ter alguém ao lado que pouco nos diz e nada, ou quase, nos acrescenta - alguém que na verdade não queremos. Grande parte das vezes que estou sozinha é opção minha, sempre, e de cada vez, que me sinto só não. A solidão não é opção, é um estado de alma que nos lembra que sentimos falta de uma parte de nós. Nso conseguimos escolher não o sentir, não é opção faltar-nos, se nos falta é porque não sabemos onde reencontrar essa parte que nos fugiu, ou sabendo, nao a podemos alcançar. Curioso é que quando a alma está nesse estado, estamos menos mal sozinhos, parece que os outros nos atrapalham a solidão mas não a afastam de nós. Então afastamo-nos, escondemo-nos na nossa solidão, onde encontramos o sítio do que nos falta, onde estamos à vontade com as nossas vontades, onde estamos sozinhos. Por opção.

Boa Noite

11 julho 2015


(Foto @adolfovalente)

A luz entra devagar pela janela, o vento corre com pressa lá fora, saio da cama ainda entorpecida do calor dos lençóis, que, vagaroso, me vai abandonando a contragosto. Gosto de acordar devagar, de gozar a lentidão permitida dos fins de semana sem horários, das obrigações sem horas, dos deveres reduzidos ao mínimo para dar espaço à liberdade de nos dispormos no tempo como se ele não existisse. Fazermos o que queremos dentro do que podemos fazer. Gozar, afinal, a nossa liberdade. A esta hora ainda mal a cama saiu de mim, e eu, talvez por isso, ainda não me tenha enfiado completamente em mim, ainda me passeio nua de mim, numa languidez preguiçosa de mundo. Quando a pele acordar e a cabeça despertar vou precisar dum café ao sol, de ver gente, de sentir o vento na pele, de a cobrir com coisas leves e frescas, que ondulem atrevidas ao vento, e que não me acordem a consciência da vida de repente, antes a guardem e esqueçam onde. Começar um fim de semana como se nao fosse fim, mas início. De tudo. De nada. De mim outra vez eu.

Bom Dia

10 julho 2015

Há quem já o tenha começado. Também gostava de começar o descanso mais cedo, com boas perspectivas e vontade, e orçamento adequado, pois claro (mas eu é que pago as minhas contas e isso enfim encolhe um bocadinho as coisas que se podem querer fazer... ); mas eu só agora começo a pensar em modo de fim de semana...
Bom fim de semana!! Que seja assim, com esta boa disposição, e braços lançados aos céus!!



“Minha alma tem o peso da luz.
Tem o peso da música. 
Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. 
Tem o peso de uma lembrança. 
Tem o peso de uma saudade. 
Tem o peso de um olhar. 
Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. 
Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros."

Clarice Lispector

[há dias em que a minha alma também pesa isto tudo, pesa-me nisto tudo.
Hoje estou assim, será do tempo? Não da falta de sol (ainda que também), mas do tempo que não passa, e o tempo que não nos passa tem um peso terrível, prende-nos o olhar, embarga-nos os movimentos, enrola-se como um novelo na garganta. Há-de passar. O tempo, e eu sentir-me assim. Chamam-me intensa, e nestes dias o que não dava para não o ser...]

09 julho 2015

- As pessoas juntam-se normalmente por um objectivo comum, ou é isso principalmente que as mantém juntas, não é gostarem muito uma da outra, pelo que vejo. As pessoas acomodam-se, e nem se chateiam, aliás é por isso que não se chateiam.
- Achas que ele casou mas não gosta dela?
- Ele gostar, gostou realmente duma pessoa, por essa realmente ele correu atrás, depois não deu certo, ela não sentia o mesmo. Mas não digo que não goste da pessoa com quem casou, eles dão-se bem, queriam os dois casar e ter filhos... querem as mesmas coisas, ou coisas parecidas.
- Sabes, acho que a partir do momento em que gostas a sério de alguém, em que achas que encontraste "aquela pessoa", qualquer outra serve perfeitamente. É como se a partir daí todas fossem igualmente erradas, nenhuma é a que elegeste como "a certa", o que as faz todas igualmente certas. Estão todas feridas da mesma falha, nenhuma será "aquela pessoa". Por isso, no fundo, qualquer uma é certa.
- Acho que é mesmo isso. De certa forma, depois, qualquer uma, ou quase, nos contenta, por sabermos que nenhuma nos fará feliz. Escolhe-se alguém com objectivos comuns e vive-se com isso.
- Pois... Vive-se com isso. Não sei se consigo "isso" para viver...

[Tive esta conversa há uns dias e agora, aqui, lembrei-me disso: como a partir de certa altura é tudo um bocado indiferente. Como os dias, talvez. Antes de esbarrarmos com certas coisas achamos que podemos escolher melhor ou pior, pensamos que há escolhas mais acertadas que outras para a pessoa certa para nós, racionalizamos. Depois percebemos que só se pode escolher mais acertadamente ou menos a pessoa que nunca será a certa, porque essa, infelizmente não se escolhe, sente-se.]




O dia está a ir-se embora, dissolve-se no ar como o fumo deste cigarro, e no ar não fica nada a não ser o cheiro. Nada mais resta, nada mais há.
 Já não sei sair de mim, fico-me em mim como se assim me perdesse menos, mas o que encontro em mim faz-me perder ainda mais. Não me encontro, não sei se me resto, não sei se de mim algo mais ficou além do cheiro, que as janelas abertas varrem do ar, esquecem.

Boa Noite