Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

14 fevereiro 2015


Boa Noite
Há uns anos, já nem sei quantos, a esta hora estava a publicar um post para alguém, sem saber se o iria ver ou não. Viu, e respondeu-me, com o mundo de permeio, que o que viu o emocionou. Estávamos longe como acontecia de tempos a tempos, porque assim alguém (que não eu) escolhia, mas ainda assim eu a esta hora mais ou menos estava a publicar uma coisa a pensar nessa pessoa, como que para chegar a essa pessoa sem saber se chegaria. Só chegaria se o fosse procurar. Não fiz a pensar se iria ter retorno, se alguém o faria por mim, ou a querer que fizessem algo parecido por mim. Não, fiz pelo prazer de o fazer e pelo prazer de fazer feliz quem queremos ver bem, com um sorriso que enche a alma porque nasce na alma. Não pensamos se vão fazer alguma coisa por nós, para nós, parecido, ou não, pensamos - ou nem sequer pensamos, é uma coisa que não se chega a materializar em pensamentos - que só queremos que alguém goste, que fique bem, bem disposto, e que isso nos faz felizes. Muito. Que recebemos com o efeito no outro do que damos.
Hoje olho para trás e percebo que a única coisa que queria, era que o bem de alguém fosse o meu bem, a sua felicidade a minha felicidade. E não, não foi nada assim. Não houve eco, eu queria-o feliz e fazer feliz, e com isso sentir-me (e sentia) feliz, esperando - sim, talvez esperando - que do outro lado houvesse vontade do mesmo: ser feliz tentando fazer-me feliz, fazendo-me estar bem. Com pequenas coisas, com brincadeiras, com gestos, com atitudes, com o querer cuidar, mimar e ver bem, feliz, tratar bem. Amar. Não houve eco, não houve atitudes. Não houve nada, a não ser, afinal, perceber que não, que não conseguia, que não queria. Nada. Abandono, só. Sempre.
E agora estou aqui, e parece que nem o mundo está de permeio, porque não está ninguém do outro lado. E parece-me que, como eu pensei que estava, nunca esteve. Tanto, que só eu vou à procura duma coisa de há anos atrás, só eu fui ver, só eu me lembro disto, só eu.

13 fevereiro 2015

"É uma sensação esquisita... De vazio. Não sei explicar..."

Nem eu, nem eu sei explicar mas sei que olhei para o lado e o muro segredou-me estas palavras. Não sei explicar.
ehehehheh
pois, nem de graça, quanto mais...
e ontem alguém me perguntava dos meus planos para o dia de amanhã, 
respondi que não tinha... não me acreditaram, 
acham que tenho uma fila de mocinhos à porta... 
...e eu só penso que o raio da fila se existe, não anda... empancou, irra!! 
(mas o pior mesmo, é que não existe...)

Bom Diqa!





... Depois de meia garrafa de vinho, era o que caía bem...
Mas não pode ser, então, não é, 
Ficamo-nos por 
uma almofada para nos encostarmos e fecharmos do mundo...
 Já que a melhor almofada de sempre foi sequestrada pelo nunca, 
e me deixou órfã de mimo, carinho, ternura e colo. 
Hoje apetecia-me o cheiro, sim o cheiro, e o calor e o sabor da pele a saber a nós.
Hoje quero sonhar, mas sonhar longe do sonho de te ter perto e sentir-me bem, ao colo, mimada por alguém que não me deixe sempre por herança a fria e dura orfandade.
Alguém que chegue sempre sem partir. 
Alguém que não volte por nunca me ter abandonado.
Alguém que me traga dentro e goste, que queira e goste que o traga também por dentro.
Por dentro de mim, dos dias e do sorriso quente sem razão.
E me mime, me acarinhe, me respire, me toque -
que não me prove à colher, mas que lamba os dedos de tanta doçura.
Que me beije com a pele e me ame com a alma toda.

Boa noite.

12 fevereiro 2015

E quando nos beijávamos......
E eu perdia a respiração e, entre suspiros, perguntava: Em que dia nasceste? E me respondias com voz trémula:
Estou nascendo agora...

Mia Couto
[...e agora morrendo por cada um que demos, e não tenho, e me falta. Tanto ainda.]

Não nas nuvens, mas debaixo das nuvens. Mesmo debaixo das nuvens, em frente ao mar, com uma banda sonora doce para os ouvidos e sol na pele. Há coisas piores. Muitas vezes o pouco sabe-nos a tanto.

Bom dia!

11 fevereiro 2015


... E quem paga sou eu, o que não melhora nadinha...
Irra que dia...
A viagem de manhã não é a mesma se não for no nosso carrinho, as coisas que são nossas fazem-nos falta, é verdade. Até entendo isso. Não entendo que se sobreponha a coisas mais importantes, eu não teria de pensar muito no assunto. Mas hoje à noite já a música será minha e o motor aquele que já me conhece os pés. E isso, parecendo que não, é uma coisa boa, não fosse a parte de ter ficado com a carteira tão mais leve... Enfim é a minha sorte...
 E se nós pensarmos o dia inteiro em alguém?
e sorrismos e tudo, também... 
(às vezes também lhe partimos os dentinhos todos, 
mas talvez não interesse muito referir essa parte... digo eu)...
... essa pessoa é nossa?
Não??... 
pois também me parecia...
e sorrir, até devem sorrir, e muito, 
só não por se lembrarem que eu existo, quanto mais pensarem em mim...
Bahhhh...

Bom Dia
... Que nem uma lapa.
Parece-me bem, tão bem.
Ahhhh... coisa boa.

Boa Noite

10 fevereiro 2015


Sim, agora era um colinho. 
Antes de fazer o jantar. 
Podia ser na cozinha, podia ser em qualquer lado,
 desde que fosse um colo que desse colo. Doce. Tranquilo. Cheio de mimo.
...e agora ganhar coragem para mais uma viagem. 
Mais um regresso. 
Não me apetece ir onde tenho de ir, 
não me apetece voltar de lá como sempre volto.
Não me apetece, pronto.
Mas tem de ser, eu sei. 
Do vazio brota sempre uma escuridão nova.
Seja.

hum hum...
... é isto.
Bom Dia!


Boa Noite

09 fevereiro 2015

E não sei porquê, lembrei-me agora daquele fim de noite, já pintado com as cores frias da manhã, em que te vi ao longe... vi a cena toda de longe, não querias ir, não querias entrar no carro. Eu a ver-te, e de repente saíam-me da boca para dentro as palavras "não vás. se me amas, não vás". Palavras que nunca te disse, palavras que nunca te diria, que confessei surdas apenas a mim. E as palavras seguiam-se, as mesmas, desenfreadas, tanto quanto seria possível a repetição acelerada sem comer letras, nem futuro. E tu insistias que não querias, não querias entrar no carro, não querias ir, mas foste, mas entraste; vencido pelo cansaço, como sempre, ou pela vontade do mesmo que não muda. Nunca saberei. 
Entraste, eu calei-me para dentro e para fora, engoliste-me o futuro.
Deixaste-me o presente de não me amares para o futuro.
Ou de nunca me teres amado em tempo algum.

“Eu quase consegui abraçar alguém semana passada. Por um milésimo de segundo eu fechei os olhos e senti meu peito esvaziado de você. Foi realmente quase. Acho que estou andando pra frente. Ontem ri tanto no jantar, tanto que quase fui feliz de novo. Ouvi uma história muito engraçada sobre uma diretora de criação maluca que fez os funcionários irem trabalhar de pijama. Mas aí lembrei, no meio da minha gargalhada, como eu queria contar essa história para você. E fiquei triste de novo. Hoje uma pessoa disse que está apaixonada por mim. Quem diria? Alguém gosta de mim. E o mais louco de tudo nem é isso. O mais louco de tudo é que eu também acho que gosto dele. Quase consigo me animar com essa história, mas me animar ou gostar de alguém me lembra você. E fico triste novamente. Eu achei que quando passasse o tempo, eu achei que quando eu finalmente te visse tão livre, tão forte e tão indiferente, eu achei que quando eu sentisse o fim, eu achei que passaria. Não passa nunca, mas quase passa todos os dias. "

Tati Bernardi

[quase. 
quase sempre quase. 
um dia o quase completa-se. e um completo e acabado quase, acaba-se, extingue-se, deixa de ser quase, passa a ser qualquer coisa que ainda vou descobrir. sem "quases". não gosto de "quases". estou farta, não quase farta. farta mesmo. de quases, de quase tudo. de tudo o que é quase. de tudo que quase foi e nunca foi nada. mesmo nada, e não quase nada. mas um nada completo, ainda que não extinto, em mim, só em mim, ou não estaria vazia, quase a abarrotar de espaço ocupado por quem não está.]

... E não é tarefa fácil, essa...
E hoje comecei mesmo, mesmo, bem o dia. Tão bem que me vai custar bem caro... 
E logo este mês...irra!!
Canta, canta, minha linda, que tens muitos males para espantar...
Olhem, para vocês que seja um bom dia...

... Pois. Pois sim.
A ordem não é importante...
...o facto se ser uma ordem já é...
E devia estar acrescido de "right now!"
Bahhhh
(um dia vou arranjar um mocinho obediente para estas ordens, a sério que vou. Um dia)

Boa noite.

08 fevereiro 2015


(Ou acaso... )

"Diz Mallarmé: "o acaso deve ser fixado". Dizer: "amo-te", explicitamente, ou seja, enunciar o amor é, por isso, crucial: porque fixa um acaso, que é o encontro dos dois, num caminho, uma continuação, uma persistência, um destino. É a declaração do amor que transforma o que é potencial, talvez efémero, no que é construído, ou mais ainda, no que é eterno."


[há quem faça de dizer "amo-te" um acaso, há quem o diga sem fazer caso, há quem faça disso um caso bicudo e há até quem não o faça. Parece-me certo que quem o sente realmente está predestinado a dizê-lo, a enunciá-lo, a fazer disso não um acaso, mas uma declaração natural, porque quando se sente o "amo-te", guardá-lo, calá-lo, rebenta-nos pelas costuras. É rebenta todas as costuras, sai, acaba por romper-nos a boca, ou os gestos, ou os dias.  Dizê-lo é não só natural, mas uma necessidade, uma consequência, e até o alívio de mostrar o que se guarda, uma partilha, um destino. Difícil é saber distinguir qual o caso quando se ouve: se foi um acaso, se foi dito sem fazer caso disso, ou se se trata do sério caso de ser sentido. E aí o acidente fixa-se no que nos é eterno.]

Estavam os dois a ouvir a mesma música que o rádio ia debitando na noite, nas salas contíguas onde os dois se sentavam: ela no sofá à volta de palavras num livro, ele à volta de papéis de trabalho. Não era assim sempre, era assim quando calhava, quando tinha de ser, ou quando os dois queriam. A música que começava no rádio fechou-lhe o livro e o espaço para palavras, acordou-lhe o sangue da alma e a dança no corpo. Começa a deixar o corpo falar da música, invadi-la, conquistá-la até a sentir por dentro da pele, a comandar o corpo que deixava de ser seu, e ao mesmo tempo nunca falava tanto por ela, e dela, como quando se deixava dançar assim. Só ela e a música. Havia alturas em que parecia tornar-se uma necessidade, libertar o corpo, soltar a alma; e tudo isso fazer uma música que se sente por dentro, e que somos nós numa forma pura e estranha: essencial. Desfaz-se do casacao e das meias sem medo do frio, espanta o frio no calor dos movimentos que lhe cresciam no corpo, que a música vai roubando ao corpo sem licença de pudor. Tira as meias que se agarravam ao tapete, solta os cabelos quando já tudo corre solto e o sorriso lhe desenha as feições. De olhos fechados entrega a alma à música, deixa-se levar. Nada é tão reconfortante como deixarmo-nos levar sem medos, sem rédeas, sem muros. Abre os olhos e vê, em sobressalto, os dele. À porta, a olhá-la como se a visse pela primeira vez, a apaixonar-se tudo de novo, a querê-la com a urgência dos inícios. Ela reconheceu-lhe o olhar, era o mesmo que ela tinha quando o via a andar na rua, quando o via a trabalhar, de cigarro por acender na boca, a apontar aquele dedo não se sabe para onde quando se queria lembrar dalguma coisa que lhe parecia fugir, depois lembrar-se e "Ahh..." enquanto recolhe o dedo à normalidade absurda de não apontar para nada, quando o via a arrumar a cozinha ou atrás de fios teimosos, quando o via falar com o miúdo do bar quando ia pedir uma bebida - de cada vez, ela olhava-o assim, como agora reconhecia no olhar perdido dele, a meio caminho entre o sorriso e a perdição. Ela só disse "anda"... e estendeu a mão para lhe dar o corpo todo. Ele não sabia, mas ele era a música dela desde que tinha cometido o erro de lhe roubar um beijo, sem ela nunca aceitar que ele o devolvesse. Era ele que dançava nela a cada música que lhe chamava a alma.

Bom dia
(acordei com esta cena, tenham paciência, isto passa)
"O amor deseja, o medo evita. Por causa disso não podemos ser amados e reverenciados pela mesma pessoa, não no mesmo período de tempo, pelo menos. Pois quem reverencia reconhece o poder, isto é, o teme: seu estado é de medo-respeito. Mas o amor não reconhece nenhum poder, nada que separe, distinga, sobreponha ou submeta. E, como ele não reverencia, pessoas ávidas de reverência resistem aberta ou secretamente a serem amadas.”

Friedrich Nietzsche

[amar é, talvez, também entregar as defesas sem recear qualquer ataque, o que será diferente de por não esperar ser atacado baixar as defesas. A diferença está na entrega. Na entrega sem razão, entrega no reconhecimento de outro igual, entrega a quem nos pode tirar tudo sem nos subtrair nada, e, ao mesmo tempo, que nos pode dar tudo o que temos. Mas o único que nos dá a ponte para o que temos de melhor.]

Boa Noite

07 fevereiro 2015


( foto @sandrovbs)

... Café sentada no degrau da varanda. 
Com sol, mas frio. E agora banho, já são horas... 
Há coisas para serem feitas e vontade nenhuma de as fazer...
... Ronha... que coisa boa. Preguiçar devagar no quentinho, sem ter de apressar o dia entrar em nós, deixarmo-nos amanhecer ao ritmo do nosso sol.
Melhor só com alguém com um sol igualmente preguiçoso de uma preguiça doce. 
Bom dia.
... E isto é  tudo.
Quando é verdadeiro, basta.

06 fevereiro 2015

Ainda me lembro tantas vezes quando aqui passo, neste bocado de estrada com a berma enfeitada de árvores magrinhas, quando fazíamos o caminho entre mensagens, e uma vez me ameaçaste que se encostasse o carro me espetavas um beijo. Ora, claro que não admito ameaças. Encostei, e tu,  atrás de mi, encostaste. Saiste do carro, e pela janela, cumpriste. Eu reclamei "só um???... Pan#%*~£$!!!!"
... As coisas que devia esquecer de que me lembro... #%+£$#%!!
sim... definitivamente é do que ando a precisar...

Bom Dia.

05 fevereiro 2015


Preciso.
... Mas não precisa ser um lugar.
(© Christopher McKenney - apanhado aqui)

Dias tristes já de si, começamo-los ainda pior do que já nasceram por natureza. Conversas dificeis, que nos embargam a voz logo pelo frio da manhã, o futuro que nos enevoa o olhar e não há maneira de nos conseguirmos desembaciar, porque tanto de nós depende dos outros, tanto do que o futuro trará será o que outros no presente nos vão deixando e deixarão. Não há maneira de perceberem que fazem o futuro - o nosso - todos os dias, e que nos estão a enegrecê-lo a cada dia, que a ninguém fazem bem, nem a eles mesmos, nem a nós que herdaremos os dias ainda mais complicados que estes, como hoje, se é que isso é possível. E hoje além de tudo isto a sensação amarga de não poder fazer nada senão preocupar-nos, senão esperar que o sofrimento não seja demais, esperar, sempre esperar. E, no caminho, as lágrimas que espreitam sempre acabam por escorrer para dentro, caem por dentro, escorrem-nos pela alma como garras mudas. Ainda não consigo chorar, terei desaprendido? Estarei assim tão dura, endureci tanto assim? será por isso que hoje comecei o dia a dizer verdades duras? porque estou fria debaixo da carapaça que o frio fez em camadas, a cada dia, dos ultimos tempos, do último ano, talve? onde ando eu que não me encontro, onde deixei a miuda que a minha mãe dizia que sempre arranjava maneira de dar a volta por cima, que nunca parecia ter medo de nada, e que tinha nos olhos uma vivacidade que brilhava, que fazia rir? Onde estava ela de manhã quando a fez ouvir tantas coisas cruas sabendo nada adiantar? Onde anda essa miúda, quem a matou? Como é que eu a consegui matar? O que restou de mim? Uma carapaça que não sabe chorar e só sabe atirar verdades duras logo pela manhã de dias dificeis?
E ainda sem noticias... como querem que o dia me entre na alma?... Acho que lhe perdi a porta... no labirinto dos dias que ficaram, e ficam, a cada momento por viver, trocados por dias que não deveriam ter de ser vividos. 

...e por fora tentar estar como se nada fosse... Tudo a funcionar. Cores de normalidade como se a escuridão não nos submergisse. 
E na cabeça dela as cenas apareciam-lhe sem pedido, nasciam de mansinho sem chorar o ar nos pulmões, de nascidas tão amiúde, talvez. As cenas, como peças de puzzle, quando encaixavam na perfeição, quando tudo encaixava, nada fazia sentido. Como se não fazer sentido nao fosse o único sentido. Como se o fazer, ou não, sentido não fosse um cozinhado da razão, numa receita onde a razão não pode, nem sabe, chegar. Como se tentar entender um equívoco não fosse o único equívoco. Ou, talvez, chamar-lhe equívoco.
As peças encaixarem é o único sentido do puzzle, da sua existência, mesmo que não o consigamos entender. 

[é o que dá passar a noite a ler Cortazar e as suas conversas... "O absurdo não são as coisas, o absurdo é que elas estejam aí e nós as sintamos como absurdas. A relação que existe entre mim e isto que me está a acontecer neste momento escapa-se-me.(...) tu és muito mais que a tua inteligência (...) o absurdo é acreditar que podemos apreender a totalidade daquilo que somos neste ou em qualquer outro momento e intuir isso como algo coerente, algo aceitável, se preferires.(...) Os milagres nunca parecem absurdos; o absurdo é aquilo que os precede e se segue a eles."]

Boa Noite

04 fevereiro 2015


"(...) primeiro, quando somos mais novos temos a ilusão da busca da pessoa perfeita: aquela que se encaixa nos padrões idílicos que fomos construindo. já adultos, percebemos que essa coisa não existe, que perfeito mesmo é alguém que se encaixa em nós de uma forma inesperada. mas, em que de repente, tudo bate certo: a forma como ri, o toque do abraço, o cuidado nos dias, e o beijo - sempre no momento e intensidade certa. depois vamos querendo mais, alguém que nos faça maior, que nos desperte sensores desligados, que nos mostre mais do mundo, que nos faça querer ser mais completos. não pelo outro, mas por nós.
(...) porque há pessoas perfeitas, que nos despertam todos os sensores, mas em que simplesmente não acontece o clic: aquele milagre de querer o outro de uma forma louca, sem sequer perceber bem o porquê - e é delicioso não conseguir saber explicar o porquê. porque preciso do teu abraço? mais que o corpo, é sentir-te junto, colada, metade de mim.. não te sei explicar melhor. porque preciso do teu riso? porque só ele me sossega, só com ele respiro.. não te sei explicar. paixão é isso, essa coisa de não saber explicar de forma racional e inteligente. suspeita-se da causa, dos motivos, da origem, mas não há ciência que descubra a fórmula. e se calhar, a magia da coisa vem daí mesmo.
(...) é a paixão que dá a gasolina, a energia, a força. as noites passam, mas tem de vir o sol, esse calor que não se toca, para aquecer a sério. o amor prepara-nos, segura-nos. mas é a paixão que nos desperta, que nos faz avançar. por isso, preciso de manter este estado permanente de te querer a toda a hora, de suspirar pela mensagem minutos depois de desligar, de precisar do teu abraço todos os dias, até desta coisa física de te amar o corpo, estejas junto ou longe. ou, de apenas conseguir dizer-te adeus sossegado, depois de te soltar uma gargalhada. paixão pode não ser andar sempre nas nuvens, feliz, aos pulos, de peito cheio. porque não dá sempre - mas é sempre ter a certeza de querer esse estado. de correr para lá, de ansiar por chegar lá. é viver, todos os segundos, com aquele torpor de impaciência de chegar ao outro. isso sim, é estar apaixonado. explica-se? não.. ainda bem."

Momentos daqui

[Deve haver muitos tipos de paixão, muitos tipos de encaixe, ou de os sentir, ou de não os sentir, talvez não os sentir, sim, deve ser esse tipo em que é possível desapaixonarem-se tão fácil, tão rápido. De repente não se está apaixonado por ninguém. É como uma imitação barata, ou os artigos que se compram nas lojas dos chineses, funcionam muito bem meia dúzia de vezes, depois sem explicação aparente não funcionam de todo. Até duvidamos que alguma vez tenham funcionado de facto. E depois perguntamo-nos como sabemos nós distinguir as imitações baratas dos artigos genuínos? Mesmo que nunca mais entremos nessas lojas ? Mesmo que nunca lá tenhamos entrado?]

"Como o dia depende da inocência
O mundo inteiro depende dos teus olhos
E todo o meu sangue corre no teu olhar."

Paul Éluard

[...olhos meus de que fujo e que procuro sem descanso.
coisas estranhas, de fugir e querer agarrar. de ter de fugir por querer ficar.
de não olhar para que os olhos não falem o que tenho de calar com vontade de gritar.
vontade de viver tudo o tenho de matar em mim.]

só a mim.... grande barracada... estava eu a brincar por mensagem com a minha amiga B, que me atura as minhas piores neuras e quando eu estou mesmo chata (sim, eu às vezes sou chata, bem sei que é dificil de imaginar, mas é verdade, às vezes é verdade...)... ora então estava eu a contar... para animar o dia resolvi mandar esta foto acompanhada de:"serão gémeos?? ficava tudo em família, o pior mesmo era escolhermos...." ora acabo eu de enviar estes disparates... pronta a acrescentar que tinha já a solução... eu ficava com o mais velho, claro!! (uns minutos de diferença de idade pode fazer muita diferença... nunca se sabe...), e então reparo, no meio destes intrincados e complexos raciocinios, que tinha mandado isto para um amigo... carreguei na linha errada da conversa, e portanto quem ontem me convidou para passar uns dias em casa dele para visitar e passar uns dias recebeu esta bela coisa......... que barracada... meu deus!!!! Senhores, onde raio me escondo.. que vergonha, o moço até tinha boa impressão da minha pessoa.. e agora isto!! Respondeu-me há bocado a dizer que ainda bem que me andava a divertir... e com uma enorme gargalhada.... oh senhores, só a mim!!! 
( e o pior é que na verdade não me ando a divertir como devia, não... valha-me não ter posto uma outra pérola destas conversas parvas, onde dizia que com coisinhas destas até gene de mulher aranha me cresceria no sangue.... era só subir paredes.... olha se eu me tenho enganado no destinatário dessa.... isso é que era não subir paredes mas enfiar-me num buraco qualquer onde não me vissem.... oh meu deus, só a mim... é o que dá a parvoeira!!!... depois ainda pensam que sou uma doidona, quando na verdade sou só doida mesmo... a culpa é tua B!!)

...hoje no caminho foi isto. Lembrei-me do primeiro CD que me deram, esta era uma das primeiras músicas, a primeira era Wild is the wind pelo Bowie... enfim, memórias para arrumar nalgum lado... hoje está sol. Parece. 
Viagem boa.
Óculos de sol. Principio de dia... e isto: 

Everything is falling, dear
All rhyme and reason gone
It's just history repeating itself
And, babe, you turn me on
Like an idea
Like an Atom bomb
Boom!

...Bom Dia.
Boa Noite

03 fevereiro 2015

Lembrou-se do que um dia tinha recebido pela manhã, dizia apenas "olá amor" e isso era tudo. Como tão pouco pode ser tudo. E como tudo pode ser reduzido a nada em tão pouco tempo. E o tempo não ser nada quando se pensa, ou pensou, sempre em para sempre. O sempre é o tempo todo, mesmo quando é pouco. E é pouco. Sempre.
... espera aí que eu já vou!!
São só cinco minutinhos, sim?
...sim, sim, vamos passear, leva-me para longe e pertinho do que é bom...
agarra-me e não me largues, aperta-me a ti para o bem e para o mal,
eu já estou a descer...
... quando chegar enche-me de beijos como se eu não te tivesse pedido para o fazeres,
 podemos até viajar parados, navegar no olhar um do outro na próxima esquina, 
passear os dedos por trilhos conhecidos de pele sempre por explorar...
espera, espera um bocadinho que eu já vou, 
estou só a desempoeirar o corpo do passado e a limpar a alma do mundo que não gosto. 
Quando aí chegar estou pronta para uma viagem a dois no presente para o futuro, 
sim, sim, vamos passear... 
... quando chegar enche-me de beijos como se eu não te tivesse pedido para o fazeres, como se nunca te tivesse dito nada e tu me quisesses tudo.

(um moço destes mandava-me passear, sem dúvida, sim... mas pronto, não interessa muito essa parte, a outra interessa mais...)

Bom Dia


... Há vezes, alturas, em que manter a boa disposição à tona é uma arte terrivelmente difícil...
Tenho mesmo de me pirar daqui. Uma semana só eu e palavras, escritas, lidas, sentidas, e uma paisagem que me possa abarcar, ou fugir comigo.
Boa noite.

02 fevereiro 2015


Como quase desconhecidos de todos os restantes, olharam-se no silêncio conhecedor do outro. Ela encurta a distância entre eles, inclinando-se para ele como quem vai sussurrar. Ele sente-lhe a respiração quente no pescoço e uma mordiscadela na orelha. Ela olha-o, mergulhando no olhar quase surpreso dele, habituado aquelas brincadeiras mas sempre surpreso com elas, e diz "estava aqui mesmo 'al dente' ". Ri-se com ar de menina endiabrada, cabreirinha. Ele, a aproveitar o canto afastado onde estavam e ela estar de costas para a parede, começa a rir-se por dentro em antecipação; inclina-se para lhe sussurar a resposta silenciosa, que ela sente, com uma mão naquele sítio onde as costas mudam de nome a agarrá-la com vontade firme, enquanto ouve em tom quente, quase ronronado, "estava aqui mesmo à mão". Riem-se no olhar atrevido que trocam, denso de urgência. Entendem-se nos olhares como nas pontas dos dedos, dos dentes, da pele. Entendimento só possível quando tudo o resto está entendido. 
Estão fartos de desconhecidos cansados de conhecer. Não se fartam de se reconhecerem, e a urgência rosna selvagem no olhar quase quieto. Quase.

[...bem sei que não são horas destas coisas, mas aparecem-me sem aviso de relógio, ou geografia de bons modos, a qualquer hora. Perseguem-me os momentos e fervilham-me também nos dedos, deixo-os aqui à falta de mais onde os despejar com vontade.]

Bom Dia

... Dorme-se melhor de dia, pela manhã. Quando a cama sabe melhor e nem nos lembramos de acordar para lembrar a pele que nos falta e o dia que não apetece. Todas as verdades que a manhã leva e que da noite não arredam pé: o que falta; o que não apetece; o que não queremos pensar nem lembrar, o que nunca tivemos e pensávamos ter tido. 
Os sonhos que não dormem e a noite que não acaba.

01 fevereiro 2015

...é, mas há tantas leituras para esta frase... Cada um terá a sua. Ou cada um escolhe a sua, a que quer ler. Ainda que não seja essa a leitura certa para o seu caso... No meu caso ainda não avisto, nem procuro, novas portas, mas também  não sei dos caminhos debaixo dos meus passos... Não sei nada, só que tudo me fugiu.
Bom dia!

31 janeiro 2015

(Catherine Deneuve, por Helmut Newton)

Para atrasar a morte vamos abrir a noite
com música de jazz
Percorrê-la depois
num barco de borracha
Celebrar o segredo
Enforcar a memória
Descobrir de repente
uma ilha que nasce dentro do teu vestido
Chamar-lhe Madrugada
Adormecer contigo

David Mourão-Ferreira

[sim, abrir a noite com música, melhor se daquela que se sente e não se ouve; percorrê-la com o ondular meigo, do mar enamorado da lua, nos lábios. Enforcar a memória que embriaga de realidade o que se quer sonhado. Explorar o corpo do meu vestido, território submerso das tuas mãos. Acordar contigo a pele e adormecer nos braços da tua alma.]
Isto sim, é que é programa...
.... Uiiiii preciso disto!! Café e sol...
... A caminho! (espero eu...)

Bom Dia!
... Parece que hoje, ou melhor ontem, foi o dia da saudade. Quem deu um dia à saudade não deve fazer ideia do que é... Quando há saudade, todos os dias são saudade, todo o dia. É uma coisa que se nos pega à pele e se cola ao olhar, que impregna o pensamento e toma conta de nós. É um estado de alma, não um dia de calendário... Quem dera que assim fosse. Um dia por ano sentirmos saudade, e depois da meia noite, qual sapato da cinderela, descalçar-se, perder-se, quebrar-se o encanto... 
Quem dera. Assim seria fácil para quem não quer sentir saudades, lembrar-se de ontem com vontade de hoje.

Boa noite

30 janeiro 2015


Ahahahahah.... 
O que eu já me ri com isto!!
Muito bom!!
É preciso rir e fazer rir!!...
....amorzinho!!!! 

Bom Dia!

29 janeiro 2015





Quando uma pessoa não consegue dormir, não arranja posição, dá voltas e revoltas, e o conforto lhe foge de todas as maneiras, dá por si sem querer a lembrar-se das vezes sem fim que teve nas costas o calor dum peito que era o toque do conforto, da intimidade, do enrolar os corpos e as almas se misturar em. E, de repente, percebe que o conforto que a alma foi à procura sem querer nas sensações vivas dessas memórias adormecidas, dão uma saudade desconfortável do que talvez não tenha existido assim para toda a gente. Apenas para mim, apenas nas minhas costas, apenas na imaginação da minha alma. Mas o desconfortável, percebo, não é saber isso, mas sim descobrir saudades onde já não as quero. Sentir, ainda, o desconforto do nunca mais para sempre.
Hoje, de tão exausta, não me lembrarei de nada; e espero sonhar com o futuro, para o futuro. Onde partilharei memórias hoje ainda por fazer, memórias partilhadas ao adormecer no conforto dum abraço, a duas peles, que nos veste a alma. Aos dois.

Boa Noite

Uma fachada antiga cheia de janelas a espreitar entre os toldos.
Gosto.
É preciso abrir janelas, arejar, deixar o sol entrar.

Bom Dia




Cabeça quase encostada ao vidro, pelos olhos passa o mundo a correr, mas deixo de o ver, o meu olhar faz ricochete no vidro a fazer-se de espelho, devolve-me o olhar - vejo-me. Algo em mim mudou, não sei precisar, não consigo explicar, mas o mundo lá fora passa a correr e eu, no espelho disfarçado de vidro,vejo uma mulher. Quase não me reconheço, nao sei do paradeiro da miúda que me emprestava o cartão de visita, e pergunto-me por ela. Vejo-me mulher no vidro que vira espelho. Nunca cheguei a ser bonita, mas chegaste a fazer-mo sentir. Pouca gente o conseguiu, muito pouca. E só nessas alturas desejei mesmo sê-lo, para que não te enganasses ao enganar-me. Para que estivesses certo, se era isso que gostarias de ver, que gostavas de ver. E eu gostava que gostasses de ver, e de to ver no olhar e ler na ponta dos dedos, na temperatura da pele, e na falta de espaço entre eu e tu. Esse espaço que agora sobra e não é nada, sendo o mundo todo que corre desenfreado na noite lá fora, e o vidro a fazer-se espelho que não engana.
Às vezes o espaço da distância parece coisa que a vista alcança mas ao olhar não chega. Há olhares que fazem ricochete. E cá dentro não há espaço. Mesmo que tudo esteja vazio.

Boa noite

28 janeiro 2015

...sim, é isto...
%&!#?%$#$&%?... caramba já chegava, não?
 o dia ontem esboçou-me um sorriso....
...e pimbas o hoje já me lembrou que os dias sorrirem-me 
é assim coisa para não se tornar um hábito... irra!
Karma, estimo que te fod@s! 
(porque a mim estás farto de me lixar...)
Pronto era isto.

Bom Dia aos restantes mortais mais abençoados!


Hoje ouvi uma frase que me explica e que explica tanta coisa nos meus últimos anos. Já aqui disse e repeti essa mesma ideia, mas ouvi-lo fez-me bem, como se alguém percebesse o que tento dizer e ninguém que me conhece parece entender quando o digo. Como se não encaixasse, como se não encaixasse no que entendem de mim - e eu entendo que deveria entender de mim, mas entendo porque não o consigo entender assim... Foi a propósito do filme sobre a vida de Stephen Hawking, baseado no Iivro que a sua primeira mulher escreveu, a quem perguntavam como é que ela aguentou os tempos em que tinha os filhos pequenos, o marido já com um grau avançado da doença e ainda a fazer o seu doutoramento sobre poesia medieval espanhola (acho que era isto, mas não interessa em quê, eu fiquei a pensar que no meio daquilo era o escape dela), e ela respondeu simplesmente: "porque não tinha alternativa! Que havia de fazer? Matar-me? E o que seria dos meus filhos? e do meu marido? Não podia. Não tinha alternativa".
E é isto. Não conceber alternativa. Eu também não conseguia conceber, a alternativa era matar um eu que eu gostava, que me fazia - que me deixava - ser quem eu gosto de ser. E era sempre matar uma parte de mim com as minhas próprias mãos. Não conseguia conceber essa alternativa, logo não era alternativa. Não havia hipótese de ser considerada alternativa. A única coisa possível era aguentar como podia e me permitia, de acordo com o que sou, com o que penso, e sob a luz dos princípios que me fazem. Não magoar ninguém, não obrigar ninguém a nada, não provocar situações complicadas, mas fazer entender o que sentia e como sentia. Deixava-me no meu canto e aguentava o que houvesse para aguentar, enquanto eu quisesse aguentar, enquanto não concebesse outra alternativa. E se concebesse não era ameaça, não era jogo, não era estratégia, era porque genuinamente tinha, e sentia, uma alternativa àquele aguentar. Como agora não tenho. Agora é só outro aguentar, aguentar coisas diferentes, outras, e mais. Infelizmente mais, e tristes, e complicadas. Mas alternativa não se avista. Atirar-me da ponte não posso - a noção de deixar sobrecarregadissimo alguém quem gosto muito e não merece, só porque não me apetece mais aguentar, é pesada demais para o egoísmo de que sofro. Então não há alternativa senão aguentar. O que me lembra uma frase que alguém me disse há dias, quando perguntei a meia dúzia de pessoas que me conhecem de formas e intensidades diferentes como me descreveriam (as características comuns que atravessam as frases de quem nunca me viu senão pelas letras, e de quem muito me viu, são engraçadas...Mas isso agora não interessa para aqui, pode ser que dê um post um dia) e que dizia
"tu és uma idealista estóica que precisa que lhe ensinem a ser feliz. estoicismo é, acima de tudo, a capacidade de aguentar. de aguentar calado, geralmente. tu aguentas mais calada do que parece. isso do blá blá e da resmunguice é fachada. as coisas a sério tu aguenta-las calada. depois mandas vir é com tudo o resto."
E eu fiquei a pensar nisto por várias razões. Primeiro, nunca me tinha passado pela cabeça que alguém me pudesse tomar por estóica. Depois acho que não me calo muito, e escrever, escrevo até demais de mim, e finalmente porque foi uma coisa que eu ouvi muitas vezes acerca de outra pessoa: que era estoico, que aguentava, e que aguentava cada vez mais, tantas vezes calado, sem se queixar. No fundo, que era obrigado a aguentar. Mas não era. Havia alternativa, e estava nas mãos dele. Acho que ele também nunca concebeu a alternativa. Como eu nunca consegui conceber a alternativa de matar a parte de mim onde ele estava. Onde eu estava com ele, onde estavam estas e outras conversas, onde estava muito do tudo que eu consigo conceber como o todo.
O que é que eu podia fazer? Aguentar.

(o que me lembra uma resposta minha a uma pergunta - "enquanto tu quiseres e eu aguentar." Mas também é daquelas coisas que só eu me lembro, e estou sentada agora precisamente no sítio em que disse isto, só não tenho a lareira à frente, e falta-me o olhar que recebi depois da frase)

Boa Noite

27 janeiro 2015


Gosto de fotografia, gosto principalmente a preto e branco, e talvez por isto: as fotografias com cor enganam mais porque as tomamos pelo real. Engano, umas vezes para melhor, outras para pior. Neste caso acima para pior. O céu, como os meus olhos vêem a realidade, está em tons de rosa, vários tons, entre o calor e a doçura, entre o sorriso cândido e o atrevimento malandro, quente. E aqui não se vê nada disso, mas eu vejo. Mas eu vejo tanta coisa que não há, que nunca houve... A preto e branco sabemos sempre que a realidade tem mais tons, mais cor, mais ruído; é talvez mais teatral, mas enquanto representação parece-me mais verdadeira por assumir completamente o não querer reproduzir de forma fidedigna o que os olhos vêem, mas uma realidade própria. E eu prefiro. As realidades próprias. Sabendo que o são. Sem pretensões a uma verdade única, a uma realidade que nunca engana. Como se cada um não tivesse a sua própria paleta de cores nos olhos.

Bom dia

...A lua para companhia do último cigarro.
... e o frio que se embrulha em nós difíceis de desfazer.

BoaNoite

"Deixa-me ficar só assim, vamos ficar só assim, e o teu corpo ajeitava-se naquele espaço, encostado ao meu, sabíamos que existia mundo lá fora mas não queríamos saber dele, e na verdade, alheio a nós, girava como sempre. E porque não? O nosso sofá tinha rodas, levava-nos para todos os sítios, e eu acho que tu só querias carinho, naquele momento só querias as minhas mãos a dizer-te que tudo estaria bem. Sabias que eu falava muito com as mãos, pelos desenhos que elas faziam em ti. Deixa-me ficar só assim, aninhada em ti, e às vezes conseguias, outras não. Às vezes era só uma intenção, mas cedo se cedia ao desejo, que não se guarda muito tempo uma fechadura que tem chave certeira. E se isto faz parte de nós, se nos é próprio, resiste, aguenta a passagem do tempo, da água, do vento, de todas as coisas que nos orbitam."


Palavras a falar por mim...
...deixa-me ficar só assim... antes de se ceder ao desejo, ou depois, antes do cansaço ceder ao sono, em descanso, naquela que foi a minha melhor almofada de sempre. só não para sempre.

26 janeiro 2015

... E vontade de jantar?.... Nenhuma... Nicles.

(já a lua estaria boa para se comer...)
Fica dentro de mim, como se fosse
eterno o movimento do teu corpo,
e na carne rasgada ainda pudesse
a noite escura iluminar-te o rosto.
No teu suor é que adivinho o rastro
das palavras de amor que não disseste,
e no teu dorso nu escrevo o verso
em pura solidão acontecido.
Transformo-me nas coisas que tocaste,
crescem-me seios com que te alimente
o coração demente e mal fingido;
depois serei a forma que deixaste
gravada a lume com sabor a cio
na carícia de um gesto fugidio.

António Franco Alexandre
in Duende

[...coração demente e dormente... Onde andas tu? que não te sinto? Os lugares onde te deixei estão vazios.]
... quando esta música começa e estamos precisamente a entrar na via rápida, com o sol a bater de frente e a aquecer a vista por trás dos óculos de sol, algo em nós se alvoroça para se acabar num sorriso que nos faz crer que a música tem razão, ou queremos - e queremos tanto, tanto - acreditar que sim. Quase sem pensar, como resposta automática, carregamos no pedal, não por pressa de chegar, mas com pressa de sentir a pressa de alguma coisa, duma urgência que nos queima os lábios como um sorriso que já não sabíamos ter há tempos demais. Pedal a fundo, a velocidade na ponta dos pés, e logo um engraçadinho (não cheguei a ver se era...mas vamos crer que sim, que tem mais piada...) que se pica com a nossa urgência, também tem pressa de alguma coisa, ou não, sei lá... ultrapassou-me, e depois, eu já quase a duzentos à hora, passei-o de novo, pouco depois ele acabou por cortar na saída seguinte (ohhhh....)... e eu continuei até onde a estrada deixava, a velocidades tão pouco recomendadas... lembrei-me quando há dias me montei em 325 cavalos, deram-me essa oportunidade, sabem que adoro conduzir e que gosto da adrenalina da velocidade, fizeram-me o gosto e sei que tiveram gosto nisso. E aí, bom, aí devo dizer que se o meu carro demora um bocadinho a chegar aos 200, aquele chega lá só enquanto pensamos nisso... o que dá aquela sensação arrepiante das costas se colarem ao banco e o sorriso à pele que o sol hoje resolveu aquecer... 
(nunca poderei ter um carro daqueles, matava-me num instante...o que me parece uma boa desculpa para não o comprar... o facto do preço ter dígitos a mais para mim, não tem nadinha a ver...eheheh)
... a música dura uns minutos, e a nós apetece-nos tanto acreditar que sim, que estes dias acabaram, enquanto o ritmo e a sonoridade ainda se passeia pelos ossos e nos mastiga a alma devagar nesse sabor doce, mas a música dura só uns minutos... e seja quanto for, nesses minutos esteve-se bem, houve uma espécie de felicidade que nos invadiu, e se se pode aproveitar mesmo que só uns minutos, e não prejudica ninguém, tem de se aproveitar até ao tutano, mesmo que acabe logo a seguir. Os momentos que não se aproveitam não existem, há que aproveitar o que nos faz sentir bem. Eu sempre fui assim, ainda que tenha tantos momentos sombrios, também esses os aproveito à minha maneira, tantas vezes também até ao tutano - é um problema de intensidades. Para os dois lados. E hoje, hoje o dia começou bem... mesmo que possa acabar mal, ou que amanhã comece pessimamente, não sei. Agora não me interessa, só me interessa agora  o agora. Hoje o sol já me entrou nos ossos, mesmo que (só) por uns minutos.

Bom Dia!
(The Lovers, Rene Magritte)

"Não preciso de te ver, encontro-te os passos pela língua, descubro-te o corpo pelo toque. Dizem-me que sou cego porque me inspiro no amor, digo-lhes que de mim sou tudo o que levo para a morte. Carrego prédios inteiros do que não se vê..."

Daniel Camacho 

Boa Noite

25 janeiro 2015



Afinal tens razão - estragaste-me a vida. Só não tens a razão que pensas, porque não me estragaste a vida que tinha, essa só eu e quem fazia parte dela a poderia estragar. Não padeço dessa falta de inteligência que comodamente inverte o sentido entre causa e consequência. Não sofro dessa, mas sofro doutras, e como sofro por elas... Estragaste-me pela vida que vi, a vida que me mostraste, que me deste, que vivemos. Estragaste-me, e agora não há vida que me encaixe, que me sirva, que me reste, porque tudo me sobra. Sobra-me espaço, sobra-me vazio. O Lobo Antunes diz que as pessoas são como casas, nem todos os quartos estão habitados. Eu tinha quartos que não sabia até os escancarares, e juntos os habitarmos. Entrámos, despojámo-nos, abrimos janelas com vistas conversadas de mundo, daquele que se via fora das janelas e janelas adentro, tivemos o prazer da pele ao sol, dos banhos de luar quente, do silêncio que era só paz, dos beijos que encostavam as almas. Agora, tudo desabitado - a lua fugiu do céu, o sol veste-se de luto e o silêncio enche-se de vazio por ser. Bateste a porta por fora, carregas as chaves num bolso esquecido da alma que emprestaste, ou que devolveste à morte que sobrevive. Não, não tens a razão que pensas, não me estragaste a vida, apenas aumentaste a extensão de vazio que ocupa espaço. Estragaste-me a mim, desarrumaste-me uma casa que não sabia ter, trancaste o sol num roupeiro e arrumaste a lua numa gaveta sem estrelas, embrulhada num papel escrito na língua do silêncio - desabitaste-me. Desabitada, estragada na arquitectura que não sei viver, sobrevivo, sobreviverei, como sempre. Só me soçobra espaço ocupado de vazio. Sobrevivida ao vazio -um dia quiçá -, sairei mais bem apetrechada se alguém me entrar em casa, me invada sem aviso, de chave mestra nas mãos feitas para só tratar bem, com um sol desempoeirado pendurado em cada gesto quente, um luar em cada olhar que me banhe, e cheio de beijos de alma que me habitem. E que fique, e que eu queira que ele fique tanto ou mais do que ele queira ficar. Que me habite sem hábito de certezas, na certeza que esse querer não é um hábito. Talvez, talvez, possas não ter razão nenhuma, afinal.
Cores do outono tão minhas todo o ano...
Sons do Outono debaixo dos pés - há tanto que não os ouvia -, a acordarem o Inverno que mora em nós e a infância que não queremos deixar adormecer e ainda não esquecemos. Como os dias frios com sol.

Bom dia.