Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

05 outubro 2014


Mario Benedetti

Auto defesa, sobrevivência do viver, vontade de vida a correr nas veias... Ou só estupidez perfeita. 
Várias receitas uma só cura.

Bom dia

03 outubro 2014


 - Quando é que foges comigo??

- Quando me quiseres.
Quando quiseres ir comigo e vir comigo, quando quiseres regressar a casa comigo, quando quiseres adormecer comigo e ver-me descabelada a acordar, quando tiveres a certeza que me queres, quando não me vieres com desculpas e números esfarrapados, quando quiseres namorar comigo, rir comigo, barafustar comigo e fazer as pazes comigo, quando quiseres ser teimoso comigo mas saberes que eu tenho razão sempre e reconheceres que eu não sou teimosa, quando quiseres dizer parvoeiras e ouvir as minhas frases tão acertadas e ajuizadas em resposta, quando achares que não te cansas de mim, e quando te cansares de me dizer que me vou cansar de ti, quando arranjares um bocadinho para escaparmos ao mundo e ficarmos só nós dois para depois voltarmos e nos misturarmos no mundo os dois, fazendo ainda assim um mundo dentro doutro.
Quando o teu dia começar com um beijo de bom dia que te arranco e acabar com um beijo de boa noite que me dás...... Vê lá na tua agenda para quando é....depois avisa que eu confiro a minha!!
...eu gosto mais da última... e não não é por aludir ao que me falta...
mas porque sou uma pecadora (i)nata.... 
e o "sin" saltou-me logo aos olhos!!!
eheheheh... 

...hoje o dia amanheceu estranho e nem sei porquê... 
não sei explicar, 
por isso o melhor é mesmo uma fotografia destas para alegrar o dia.
Bom Dia.

Para amar é preciso assumir que se ama. Amar não é relativo, não é mais ou menos, não é assim-assim. Amar é absoluto. É o amor a acordar quando abrimos os olhos e a respirar quando o ar nos entra nos pulmões. A viver enquanto vivemos. Amar não tem localização, não há sítios onde se pode amar e outros onde o amor é envergonhado ou encapotado. Não há capota que cubra o amor, como não há nuvem que cubra o céu inteiro, o amor tem pés grandes e chega a todo o lado. O amor não se tapa e não se abafa. Não, para amar não é preciso assumir nada, estava errada, amar é já assumir. A única prova é sentir. Sentir é assumir. Tu sentes?

Boa noite

02 outubro 2014

...sempre foi a minha filosofia!!
Se calhar está na hora de mudar de filosofia...
é que leite condensado derramado... é um desperdício...

- (...) acho que temos os dias contados...
- Os dias contados? porquê? Não me contas nada pahhh. Que se passa?
- Diferenças no sentir. No mostrar. Onde estamos quites é no querer.
- E então? Isso é normal as pessoas não são iguais....têm de acertar agulhas.
- É isso que estamos a tentar, mas é complicado. E dói. Ela esfria-me muito...
- Porquê? Achas que ela não mostra?
- Sim, sou eu que quero mais. Sou eu que tenho pressa. Sou eu que estou apaixonado... ela não mostra como eu...
- Mas mostra, só tem mais medo, não?
- Para ela somos uma "cena" calma. Tranquila. E ela é tudo menos tranquilidade para mim...
- eheheheh... que giro, miudo! Tu és paixão ela é amor. Queres melhor? É juntar isso!!
-... quero. Quero melhor. Sinto-me a morrer!!... aos poucos. Devagar. Com dor. Com tudo. Sem sono. É drama, mesmo...
- Porque ela não ferve como tu?
- Não. Não vejo. Não sinto. Sou o porto seguro dela. Com orgasmos. É isso.
- Mas isso é bom, não?
- É?
- Talvez ela seja do tipo calmo e tranquilo. Queira um porto seguro para amar e ser amada. O porto seguro é carinho é compreensão é ternura é apoio: é amor. Quem me dera ter esse conforto de ter com quem partilhar um lugar tranquilo no porto... e sim depois com paixão, com pele, com orgasmos partilhados. Vocês estão a velocidades diferentes é esse o problema. Tu vais chegar onde ela está, onde há mais tranquilidade, acho eu. Ela é que nunca chegará à tua asfixia, a asfixia que te faz sentir completamente cada respiração.
- E sei viver assim?
- Se os dois quiserem muito arranjam maneira de se encontrarem a meio, porque a alternativa de perder o outro, de perder a respiração, não é alternativa, não se concebe sequer. Se se conceber não é realmente forte...

(...)

- Falaram? Ontem fiquei preocupada contigo...
- Falei... disseste-me tudo.. acredita...
- Tudo? como? Expliquei-te como vejo esta coisa de gostar realmente de alguém...
- Fizeste-me ver as coisas de uma maneira que não conseguia.
- Como? Explica lá... Não te disse nada que não soubesses, pois não?
- Disseste....Eu achava que ser porto seguro era redutor de tudo o que sinto.Eu sentia que ela não merecia tudo o que sentia por ela.Que ela gostava menos, ou que não gostava de todo, e senti-me espalmado, asfixiado, encolhido com tudo o que sentia.. Sentia-me uma botija de gás com fogo a aproximar-se...eu ia explodir, mais cedo ou mais tarde. E algures tu dizes-me: "Tu és paixão. Ela é amor"

(conversa de ontem acabada, ou continuada, hoje com um miúdo que adora deixar conversas a meio e às vezes desaparecer... mas com quem gosto de conversar e das ideias, mesmo que um bocadinho bruto, às vezes... é um bom miúdo)

[as pessoas são diferentes, gostam de maneira diferente, mostram de maneiras diversas. O importante é gostarem e saberem que gostam e o quanto gostam, o quanto não querem a alternativa: a de ficarem sem a pessoa de quem gostam, aquela pessoa que torna os dias em alguns minutos que valeriam anos, que nos fazem depois, longe, sorrir sozinhos, e que nos fazem sempre sentir bem. O importante é que independentemente de como se gosta e se mostra é que os dois se sintam bem a mostrar e se sintam bem com a forma como o outro mostra. Às vezes é preciso sairmos dos nossos sapatos para entendermos o outro e as suas formas diferentes de mostrar, outras vezes as pessoas mostram de formas idênticas, o que interessa é que se goste de como somos gostados e como gostamos. Ambos têm de amar o amor que têm além de amar o outro.
Mas nem todos estamos nas mesmas fases, nem todos temos os mesmos ritmos... há pessoas que por serem muito atraentes valorizam muito mais o sentirem-se bem com alguém, o carinho, o mimo, a ternura, a amizade, a tranquilidade dum porto seguro que sabemos que nos quer bem pelo que somos, não pelo que todos vêem. Como se o privilégio deste porto seguro ser para cegos que só nos vêem pela alma, que nos sentem, e não os que passam por nós na rua e que os olhos sadios fazem rodar cabeças. E esse privilégio entrega-se quando há confiança, quando nos entregamos a alguém mais de alma que de corpo - tão mais de alma que de corpo... Quando todos nos valorizam o corpo, nós valorizamos quem nos valoriza a alma. Acho que é o que se passa com esta mulher.
E eu fiquei a pensar nisto, porque comigo foi o contrário. Precisamente o contrário. Sempre me disseram inteligente, perspicaz, amiga, boa para conversar, melhor ainda para ouvir. Isso para mim era o normal, reconhecido por várias e variadas pessoas ao longo da vida. Agora alguém que me fizesse sentir desejada, alguém que me fizesse acreditar que valia umas torcidas de pescoço na rua (nisso nunca acreditei, mas bastava-me acreditar que isso aconteceria em casa ou por quem eu realmente quisesse e me quisesse, e isso sim aconteceu), alguém que gostasse do meu corpo e mo fizesse sentir, dentro e fora dele, alguém que gostasse da maneira como me mexo, como me rio, da minha gargalhada, das brincadeiras parvas de mulher que só se tem com o nosso homem, no fundo da mulher que há em mim para além da pessoa. Isso surpreendeu-me, enganada ou não - que diferença faz? se se sente assim para nós é assim... -, e talvez isso me tenho feito encontrar-me completa, e sentir-me bem com quem sou, com o que sou, sentir que alguém me quer e deseja se me olha, que me olha e o desejo vê-se nos olhos e sente-se na ponta dos dedos, na boca, na pele que pede a minha. Alguém que me faça inteira e completa. E foi isto, fiquei a pensar nisto... eu acho que me sentiria bem na tranquilidade dum porto seguro que de vez quando se aventura mar adentro, às vezes revolto, às vezes frio, às vezes profundo, mas sempre verdadeiro, genuíno, e que sabe poder voltar à paz dessa tranquilidade, talvez só assim se possam aproveitar todas as viagens.

Será que estar longe afasta? Será que estar afastado gasta as saudades? Ou habituamo-nos e deixamos de as sentir? Deixa-se de sentir? Será que estar perto aproxima? Será que só sabemos e pensamos o que temos quando nos falta? Como a saúde ou o amor? Será que nos habituamos a uma presença e deixamos de senti-la? E a ausência? Sente-se?
Será que alguém sente a ausência da minha presença ou a presença da minha ausência?
Será que as saudades são ausência ou presença? Ou é a presença sentida duma ausência não sentida?
As distâncias têm medida? Medem-se pelas saudades? E como se medem as saudades? Pelas faltas que provocam ou pelo amor que convocam?
Haverá por isso distâncias diferentes num mesmo espaço entre duas almas. E o espaço separa?
E o tempo? O tempo conhece a distância? O tempo aumenta com a distância? Ou a distância aumenta com o tempo?
As almas conhecem o tempo? E sabem o que é distância? Ou só sentem, sem saber sequer que sentem no tempo na distância ou na proximidade? Só sentem sem saber de variáveis relacionadas, correlacionadas, ou equacionadas.
Será que a distância afasta? Será que estar perto aproxima?
E eu onde estou?
Sem tempo, sem distância, sem proximidade?
Na saudade que mora no amor.
Do amor.

Boa Noite

01 outubro 2014

... também servem para uma mulher, só vos digo...
as regras, claro!!

Bom Dia!
(é o primeiro post e ainda há luz... vamos dizer bom dia, ok?)

...parece-me uma boa receita.
para qualquer coisa
muito boa.

Boa Noite

30 setembro 2014


"O consenso é o oposto da submissão, mas não parece.Porque não pode haver consenso com quem é submisso, por mais que te digam “sim”. Nunca sabes, num submisso, de quem é a língua que te fala, se da alma, se da mente, se do medo. E de falsos em falsos consensos se tece a teia em que tramas tudo."


Do Menino,  e eu não podia concordar mais... 

Submissa nunca me conheci e não me parece bom para ninguém. Quando tenho a dizer, digo. Não me calo para manter a paz podre. Acredito que fazer-me submissa ou concordante não resolve problemas, encapota-os. Concordo quando concordo, discordo quando discordo. As duas com respeito e consideração pelos outros. Quando se tem de discutir, descabelar e despejar o saco, é isso que se deve fazer, tendo o cuidado de o tentar fazer com justiça e sem magoar ninguém. Explicar o que se sente e como, o que se gosta e não; só assim pode haver entendimento e felicidade. Submissão e dizer sempre sim, ou ouvir sempre um sim, não pode ser felicidade para ninguém, alguém se anula e alguém abusa, permitindo que o outro se anule, nenhuma das posições é saudável e em nenhuma há respeito. Um mente e o outro deixa que o que mente se anule. Que não seja o que é. É porque não pode gostar do que o outro realmente é. 
Quem diz amar um submisso não o ama porque ele não age como o que verdadeiramente é, apenas concorda em ser o que o outro quer que ele seja. De mim gostam ou não gostam, mas do que sou. Em geral não gostam digo o que penso e reclamo quando me magoam. 
De submissão não sofro, posso é às vezes sofrer por pensar assim, por dizer o que entendo que devo dizer e o que não gosto, ou por mostrar que gosto tanto quando gosto. Sou um bocado transparente, e isso deve ser monótono, não é preciso ser detective ou bruxo para perceber o que sinto ou penso. Eu digo, não deixo espaço a grandes descobertas ou grandes enganos. 

Casava-me já contigo - MEC

"Quando eu era pequenino e vi um cartaz do filme The Seven Year Itch, de Billy Wilder e de 1955, perguntei à minha mãe o que era. Ela respondeu: "Ao fim de sete anos a novidade do casamento começa a passar".

Ao fim de 14 anos, cada vez que eu olho para a minha mulher, cada dia que acordo ao lado dela, o que mais me comove e impressiona é precisamente a novidade de vê-la, poder amá-la, ter a sorte de ser amado por ela.

Cada coisa que fazemos é ao mesmo tempo antiquíssima – como uma cerimónia que construímos juntos só para nós os dois – e novíssima, pelo desejo e pelo entusiasmo de lá estar, naquele lugar que ela abriu para mim e ela no lugar que só é dela, que sou eu.

O casamento é só uma palavra: é verdade. Mas também pode ser a vontade de casarmos e ficarmos casados, todos os dias, com a mesma pessoa que amamos.

Cada vez nos casamos mais. As diferenças dela vão cabendo cada vez melhor nas minhas. Cada vez somos, a Maria João e eu, mais livres de sermos como somos, cada um de nós, e de sermos como somos, nós os dois.

Ela torna-se mais ela; eu torno-me mais eu, ela e eu com menos medo que o outro fuja por causa disso. Mas com medo à mesma. E ganância de viver e curiosidade em saber como é que o décimo quinto ano vai ser melhor do que este.

Mas vai ser."

MEC, aqui


E ler estas coisas ao mesmo tempo que me dá uma tristeza profunda e dura, dá-me esperança por perceber que existe e é possível, e talvez um dia possa voltar a acreditar que isto é possível até para mim. Quem sabe? Talvez um dia oiça "casava-me já contigo" sem ser da boca para fora, e depois de estar casada há anos.
(é capaz de ser difícil, porque não me quero voltar a casar, mas a ideia, a intenção, é que me seduz, me encanta, me adoça, não o papel. Muito menos o contrato reduzido a escrito segundo normas que alguém estipulou. Papel por papel que seja um nosso, com as nossas regras. Isso podia ter a sua piada... eu, por exemplo, de repente já me estou a rir por dentro. Quero alguém que ria por dentro também e comigo nestas coisas parvas, e sem precisar de abrir a boca para explicar o que se sabe. Ele saberia da parvoíce de cada regra mais parva que a outra, e isso é talvez o melhor contrato que pode existir.)

Bom Dia

29 setembro 2014

... Seria bom, tão bom. Se pudesse ser assim ou acreditar nisso.

Boa noite

... Seria bom, tão bom. Se pudesse ser assim ou acreditar nisso.

Boa noite

28 setembro 2014


E hoje foi dia de ronha...
 Dormir e muita ronha até tarde, 
almoçar tarde e sem relógios na varanda, 
perceber que afinal está frio... 
E agora tomar um café.... 
E tentar que o tempo cinzento não se entranhe.
Bom dia!



"Fala-me tu do Amor e dessa coisa esquisita que é o tempo com quatro dedos de distância entre o ardor das línguas e a asfixia dos corpos.

Fala-me tu do Amor e desse desejo que arrasta a proximidade que anula todos os intervalos em pequenas existências que de tão insignificantes desaparecem numa doçura e amargura.

Conta-me do constante faz e refaz, de ressuscitar e morrer, de adormecer e sonhar, do conforto da luz dos dias na realidade que nos mata. Porque do Amor também se morre e também se vive, como alimentação programada às calorias necessárias para respondermos."

Al Berto

[já não tenho as calorias necessárias ao amor, ao faz e refaz, ao morrer e renascer, as que tornam a amargura em doçura e os intervalos em instantes que se perdem no tempo no momento preciso em que tudo se refaz como se nunca desfeito tivesse sido. Já não tenho calor suficiente para aquecer o amor que me restou, ou para arrefecer o que ficou por dar. Já não sei contar a distância em dedos, nem estar a braços com a recordação de abraços que nunca se desfizeram, percebendo que nunca se fizeram como se recorda. e já não sei o sabor dos corpos em asfixia de desejo, ou o ardor das palavras não ditas que guardei debaixo da língua, donde nunca as libertaste, onde nunca chegaste.] 

Boa Noite

27 setembro 2014

...e por falar em beijos cruzei-me com isto, e pelo que sei não estará muito errado...
 ...e fiquei cá a pensar que parece um menu, e assim sendo não sei que "prato" escolheria...
p'roquem'aviadedar!!!...

 
Hoje sonhei. Sonhei que passeava com alguém e conversávamos, e ríamos. E parámos sem saber porquê, continuávamos a falar e de repente os olhos olharam-se e ele dá-me um beijo, e encaixa a minha cara perfeitamente entra as suas duas mãos, como quem pega com cuidado em algo que quer manter. Que quer guardar acarinhando. Acordei e tive muita pena, porque não sei quem era ele, mas principalmente porque me senti mal por pensar há quanto tempo não me sinto bem com alguém. Sentir o carinho, a ternura... E um beijo. Um beijo que pode ser todos os beijos, e tudo de bom lá dentro.
Sinto falta de estar bem entre as mãos de alguém. De entre as mãos de alguém sentir ter tudo.
Bom dia!

26 setembro 2014

...procura-se um destes lá para casa...
e não, não é um avental....nem do fogão...
E hoje, para dia, já chega, já me disseram ficam nervosos quando falam comigo
 e não raciocinam direito...
 'tá certo, ainda bem que não é a pilotar um fogão, senão seria perigoso...
 já ouvi desculpas mais bem amanhadas... 
mas esta de eu meter medo, não é simpática, digamos... bahhhh...
...agora vou descansar a mioleira e os ossos, não sei qual estará pior....
e depois, provave3lmente, chegar a casa e cozinhar... bahhhhh


Sugestão (compulsiva...) para bilhete a  deixar em qualquer lado,
 desde que no meu caminho...
 a caminho das minhas mãos, olhos e coração...
 por alguém que substitua o "creo" por " "irremediavelmente", por "sei", por "sinto até aos ossos", qualquer coisa menos incertezas, dúvidas e balelas... 
alguém sincero, doce e cheio de mimo, de vontade de o dar e receber,
 que saiba o que quer e me queira. 
Se for alto e giro e com piada convém ver mal ... muito mal, pronto, e correr pouco. 
De resto tudo bem...
Acabamos essa crise que é um instantinho meu querido...

Bom Dia!!

25 setembro 2014

... a única coisa madura nisto é mesmo a estupidez.
Estou cansada de ser estúpida.
Há que começar a magoar quem me magoa, 
há pessoas que se calhar só entendem na pele
 e não mergulhando na alma dos outros tentando entende-los. 
Seja.
Na pele, na lata.
Para que sintam o que fazem sentir.
Assim eu consiga fazê-lo e vou andar ocupada por uns tempos.

Ahhhh.... Bom Dia

24 setembro 2014

É isto!.....
....Socorro!!!!
Tirem-me deste filme!!!

 Hoje até a porra do gps funciona!!! Deve ter tomado os comprimidos... Hoje que está um sol radiante e não havia problemas de não ir direitinha o gajo está bom... A sério um pano encharcado no focinho é o que apetece... Isto é só sorte irra!!!! Parece que alguém lá em cima se diverte as minhas custas... É só gozar aqui com a palerma... Caminhos há muitos sua palerma e kms ainda mais!!...Como é para ir direitinha trabalhar tudo funciona, até a porra do clima...

E hoje o tempo está assim... É a minha sorte de despedida... Vim tomar o pequeno almoço cá fora. Mais uns dias e arranjava um amigo para a vida, anda sempre atrás de mim, só não entra em casa, é um gajo de muito respeito, se me sento dentro de casa deita-se à porta, quando estou cá fora que é quase sempre vem para ao pé de mim, e não não é de comida que vem à procura, porque à excepção de hoje que dividi a torrada com ele, nunca lhe dei comida, mas sempre que se chegava fazia-lhe festas. Ontem quando à noite a ver as estrelas deixei de lhe fazer festas começou a esfregar o focinho nas minhas pernas e depois a chamar-me com a patita... Os cães normalmente gostam de mim, simpatizam, não sei com que defeito vêm os humanos que não é a mesma coisa. Hoje quando lhe dei comida abanou o rabo mas o que ele veio sempre à procura foi de mimo, e isso eu tenho mesmo para dar e voltar a dar. Chamo-lhe Tôni mas disseram-me que se chamava Bobi, eu é que acho que tem cara de Tôni e nunca lhe consegui chamar Bobi, saía-me sempre Tôni! Foi o meu companheirao, não chateia e só quer mimo, nem preciso de lhe dar almoço e jantar... Perfeito!!
Bom Dia!!

 
(da página do facebook poeme-se)
Boa noite

23 setembro 2014


... Mais um fim de dia, despedirmo-nos dos dias às vezes custa, mas quando as despedidas custam é porque o que as antecede é bom e deixa saudades. O mau é isso ficar atrás, no passado, e termos de continuar para a frente com esse peso das saudades que aumenta com o tempo que passa. Tenho tido nos últimos tempos demasiadas despedidas, mas não tenho como evitá-las. Tenho só que saber como fazer para as saudades não pesarem, aprender a lidar com as recordações sem o peso de se conjugarem no passado, mas apenas sinal de que se viveu e foi bom. Não as deixar morrer, as que valem a pena viverem em nós, mas não nos pesarem. Serem uma luz para o futuro, como a beleza desta luz que vejo agora neste céu a espreitar por entre as nuvens negras com uma luz quente e doce.

Eu e o Cortazar a meus pés enquanto fumo um cigarro e oiço chover. De volta ao cadeirão e à manta. No outro dia a experimentar umas aplicações novas de fotografia dei por mim a brincar com fotos minhas que ia tirando sem luz que não das velas que estavam acesas, e ponho-me a olhar e a pensar que raio de esquizofrenia será a minha de olhar as fotos e não me reconhecer, a sensação estranha de ver por fora o que os outros vêem, e chegar à conclusão que nao me reconheço muito na minha cara, à excepção dos olhos que me parecem familiares do que sinto por dentro do que forra o que por fora me parece estrangeiro. E isso é estranho. E hoje duma dessas fotos diziam-me "olhar doce, profundo e tranquilo". E eu fiquei a pensar nisso. Qual é a parte estrangeira de mim? O que se vê e não se vê. Como se vê o que não se vê? Quem aqui me lê, sem se me ver mas sabendo-me mais do que qualquer fotografia do meu focinho pode dar a saber, como me verá? E eu como me vejo, que quando me vejo não me pareço eu mas também não sei como deveria parecer para me parecer eu? Se calhar assim? O olhar sim, é a ligação de vários mundos que me fazem, que me habitam, ou eu a eles, isso reconheço como meu, o resto não sei, é estranho. Será uma esquizofrenia como outra qualquer.
E agora chove. Bem





"Vejo aquilo que não sou. Por exemplo (isto volto à explicá-lo, mas vem da mesma ideia): existem zonas enormes às quais jamais cheguei, e aquilo que não se conheceu é aquilo que não se é.

(...)

Toco a tua boca.
Com um dedo, toco a borda da tua boca, desenhando-a como se saísse da minha mão, como se a tua boca se entreabrisse pela primeira vez, e basta-me fechar os olhos para tudo desfazer e começar de novo, faço nascer outra vez a boca que desejo, a boca que a minha mão define e desenha na tua cara, uma boca escolhida entre todas as bocas, escolhida por mim com soberana liberdade para desenhá-la com a minha mão na tua cara e que, por um acaso que não procuro compreender, coincide exactamente com a tua boca, que sorri por baixo da que a minha mão te desenha.(...) Então as minhas mãos tentam fundir-se no teu cabelo, acariciar lentamente as profundezas do teu cabelo enquanto nos beijamos como se tivéssemos a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de uma fragrância obscura. E se nos mordemos a dor é doce, e se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo do fôlego, essa morte instantânea é bela. E há apenas uma saliva e apenas um sabor a fruta madura, e eu sinto-te tremer em mim como a lua na água."

Julio Cortazar, in O Jogo do Mundo (Rayuela)

[sim, há coisas que se pudéssemos imaginar antes de as sabermos as imaginaríamos exactamente como viriam a ser. Ou assim achamos. Como tentar imaginar a perfeição. Tentar agora imaginar a perfeição é reproduzir com retoques o melhor de tudo o que se conhece. Quando a vida nos surpreende a imaginação explode, conquista territórios desconhecidos que não sabíamos existir, e todo um novo mundo se abre. Novas imaginações, perfeições mais perfeitas. Novos limites e novas dimensões de felicidade. E novas dimensões de infelicidade, por perdê-las, por desperdiçá-las, o que for. Aquilo que não se conhece é aquilo que não se é, mas aquilo que passamos a conhecer passa a ser parte do que somos, e de como descodificamos a loucura do mundo. Renegar isso não é não andar para a frente é andar para trás. Nada volta ao que era. Passamos a ser pessoas diferentes quando os nossos limites de imaginação, felicidade e infelicidade se movem. O mundo altera-se, nunca mais o vemos da mesma forma mesmo que nada tenha mudado, a essência alterou-se, a essência do nosso olhar sobre as coisas. E as coisas não são coisas são a maneira como as vemos. Um parafuso pode ser um deus (esta é de outra passagem do livro, mas estou preguiçosa), tudo depende do que vemos. E eu pergunto-me vezes sem conta o que verão quando me olham? ]

(É sacrilégio estar a escrever estas coisas com um texto com a beleza deste, duma boca perfeita que afinal existe. )

Boa noite


...Ouvem-se só as cigarras e o vento a inquietar as folhas, um chocalhar ao longe e a conversa dos cães no fundo, corre uma brisa do lado de fora da manta. O silêncio aqui traz paz, ainda que esteja cheio de ausências. No céu não há estrelas que os olhos alcancem, só um tapete de nuvens que as estrelas pisam lá em cima. Fico-me aqui parada à espera das respostas que estão em mim, são as únicas que podemos ter, são as únicas que são resposta. Por muito que se procurem respostas nos livros, em tudo o que vemos e ouvimos, as únicas respostas para nós estão encerradas dentro de nós. Só às vezes não as queremos, só as vezes nos duvidamos, e isso também são respostas. De que estamos sempre inacabados. Que o tempo corre e ninguém fica imóvel e inalterado. Que  o tempo nos traz incertezas e perguntas, porque estamos sempre a crescer, porque há sempre o desconhecido amanhã, daqui a bocado, agora. Só podemos continuar a crescer enquanto houver desconhecido e perguntas e a tentativa de buscar respostas. 
E eu tenho tantas perguntas... É vários medos para cada uma.

22 setembro 2014

21 setembro 2014



É isso... Eu hoje já tenho uma!!! Eheh
Mas saltar da cama nunca é fácil....
Ainda aqui estou. Mas vou levantar-me, que hoje o dia vai ser bom...
 Pelo menos espero eu....
Bom dia!


Último cigarro numa janela antiga, com estrelas que se vêem no céu que serão novas e eu que sou a mesma. Cada vez mais na mesma. Sem outra sombra que não eu. Na mesma.
Boa noite.

20 setembro 2014


Pre-aquecimento do dolce fare niente.......
:)))
Este clima tropical está do melhor!! Em dois minutos começou a chover torrencialmente. Agora só nos falta- ou a mim pronto - o espírito tropical!! Venha ele, alma quente de chuvadas rápidas. Lavam tudo.
(Ainda bem que não vim de t-shirt branca, senão o espectáculo seria outro... Ou melhor espectáculo talvez não fosse a palavra indicada, era mais vergonhaça...)
Sim, tentar que pensem pela própria cabeça, 
se cada um vem com uma não é para usarmos a dos outros...
... Coisa que nunca fui habituada a fazer,
mas parece-me tantas vezes hoje em dia
que nem pela minha ando a pensar...
Mas isso vai mudar. Os próximos tempos vão-me ser muito exigentes.
Vamos ver afinal de que sou feita...
E há muito medo nesta pergunta, nesta expectativa...
A resposta é uma espécie de auto sentença.
Temos de nos ver como somos é para isso temos de o descobrir.
E há descobertas muito dolorosas. Tenho tido muitas...


... Assim parece-me justo.
Não estando, não estás.
Boa noite.

19 setembro 2014

... Pois, depois desencanto, e desencano quando? Porque a parte do desencanto já percebi. Muito bem até... Bahhh

... Vou ficar uma artista com a esquerda então, de tão canhota!
Mas sempre se fica mais polivalente. 
Principalmente poli... Porque valente ando muito pouco...

Bom Dia!!
Verdade.  Muito verdade, mas o que nos dá vontade de continuarmos sempre a entender-nos, 
quando não concordamos, quando as vezes não entendemos, quando nos magoam, ou nos chateamos, é gostar do outro e ter consciência que se gosta e quer, e então sabe-se que tudo tem de se resolver e arranjam-se sempre soluções que sirvam aos dois.
Quando há amor tenta-se sempre, tenta-se tudo.
 E essa vontade de resolver, e continuar, só amando. E só resolvendo e as pessoas dando-se bem é que o amor se sustenta. 
 É a chamada pescadinha de rabo na boca... A tonta, sempre à volta de si mesma.
Boa noite.

18 setembro 2014



...É isto. Aqui.
Antídoto para certos dias do ano. Para hoje.
Para onde fugimos do mundo em que não encaixamos,
que não entendemos,
em nos voltamos para dentro em busca do que há-de restar de nós.
Preciso desta paisagem, preciso de horizonte, preciso de ar.
Preciso-me com urgência...
...mas ainda vai ter de esperar uns dias. 
E hoje eu devia já estar longe, daqui e deste coração teimoso que guarda estrelas como quem colhe conchinhas da praia e traz no bolso. 
Chocalham e cheiram a mar. 
As estrelas soam só a distância que brilha.

Bom Dia!!

Boa Noite

...às vezes penso, sorrio e sonho uma vida que não tive, e depois obrigo-me a lembrar por que apenas sonho e não vivo, e lembro - obrigo-me a lembrar e a repetir até à exaustão - a resposta à minha própria pergunta; e pergunto-me quando deixarei de ma perguntar e de sorrir quando dou por mim a sonhar acordada esse sonho, que de tão meu, tão apenas meu, nunca chegará a vida. Lembro-me que não estás porque não (me) queres... e então penso que não te quero, nunca quereria alguém na minha cama que não me quisesse. Isso não pode fazer ninguém feliz. E infeliz por infeliz, antes sozinha, porque a solidão sozinha pode um dia deixar de ser solidão, a solidão acompanhada nunca deixará de ser solidão.

17 setembro 2014

...Sim!!
Isto, era mesmo isto, agora, ao chegar a casa!!
Um bom vinho tinto e um sofá suspenso...
... não sei é se aquilo será de confiança... 
ainda assim há sempre o chão...eheheh
Bom Dia!!

(eu sei que é tarde, quase noite, mas que importa? o meu dia, verdadeiramente, ainda não começou... e na realidade nem me parece que vá começar tão cedo, por isso tanto faz!! )

Boa Noite


"Pensar é difícil. Fazer é fácil. Quando fazes já pensaste o que vais fazer. Não existe fazer sem pensar. E o que dói, o que custa, é sempre o momento em que pensas. E nunca o momento em que fazes. Quando fazes já estás no instante em que já viveste, por dentro do pensamento, tudo o que estás a fazer. O mais difícil de suportar é pensar o que vais fazer: aquele momento em que vives, por dentro, o que sabes que vais viver por fora. E sentes cada espasmo, cada corte, cada rasgão. Lá por dentro. Onde os actos não conseguem tocar. Onde fazer não consegue fazer nada. Fazer é fácil. Coisa de meninos. Brincadeira de crianças. Fazer é fácil. Qualquer um resiste ao fazer. Muito poucos resistem ao pensar."

in In Sexus Veritas de Pedro Chagas Freitas

[de alguma forma é verdade, há coisas que me custa mesmo pensar, porque antes de fazer (quando se é uma pessoa normal) pensa-se, pondera-se, confronta-se com a realidade antes da realidade. E é isso que é dificil, resistir a isso, levar os pensamentos até ao fim quando se quer fazer alguma coisa até ao fim. E para quê fazer se não for para fazer até ao fim? e eu tenho de pensar mesmo até ao fim muita coisa que tenho de fazer. até ao fim.]

16 setembro 2014

Quando é que a capacidade de sofrer se torna em incapacidade de sentir?

... Parece a entrada em arco para o paraíso quente no meio da neblina espessa do limbo... Será? Dá para entrar? É só ir entrando sem pedir licença? É preciso merecer ou pode-se fugir para lá e escapar aos dias que não passam e todos os dias se repetem? 
... que dia!!
A parte boa foi que não tive tempo para ter sono 
ou para pensar, ou para o que fosse!!
Estou cansada e com mais vontade do trabalho... mas precisava duns dias para tentar assentar ideias, para fugir um bocadinho dos dias e dar-me tempo. Mas eu precisava de tanta coisa... e não é por isso que tenho nada do que preciso...
Enfim, agora rumo a casa, debaixo de chuva e ao som das músicas cheias de poesia do Nick Cave, que adoro. E combina com fins de tarde chuvosos e melancólicos e cheios de saudades não se sabe bem de quê, mas dá a sensação que é de mim mesma... e da poesia que eu tinha e sentia.
Enfim... 




....isso vai mesmo bem com uma chuvada!!...
... mas isso vai bem com qualquer coisa!!
quando é a boca certa, vai sempre, sempre, bem!!
E eu tenho saudades disso:
 de abraçar em beijos 
e de beijar em abraços.
De baralhar tudo e nada conseguir ser mais simples...
... ou melhor.
A simplicidade é a coisa mais complicada de atingir.
Como abraçar em beijos 
e beijar em abraços.

Bom Dia!!



"Fazer dois barcos seguir juntos implica, a cada momento, que se decida o que é importante: se ir para onde queremos, se ir com quem queremos. Quem não decide acaba por ir na corrente, não vai parar onde quer, e quando olha para trás está sozinho.

O amor, como os caminhos no mar, não está escrito – escreve-se todos os dias."
Do Menino 

Boa Noite
...outra versão do "este vestido é mesmo bom para fazer assim"...
as coisas com que eu me cruzo... enfim, um dia deixo de me lembrar...

15 setembro 2014


“Estou perdido; e já não sei o que querias para mim com isto; se querias mostrar-me o que tinha de fazer ou se querias mostrar-me o que não tinha de fazer; se querias mostrar-me o amor conseguiste; agora sei o que é o amor; sei que é esta coisa que não sei dizer; este aperto que não consigo desapertar; esta precisão que não consigo saciar; esta saudade maior do que nunca tive; este abraço maior do que todos os que apertei; se querias mostrar-me o que era o amor conseguiste.”

"In Sexus Veritas", de Pedro Chagas Freitas

[...e agora faz-se o quê com isto?]


...Claro!!!
... mas que é que estavam a pensar?? 
Não gosto de intimidar ninguém é o que é!!
eheheh
Bom Dia

Só mais esta frase porque esta é também uma definição de amor (por causa daquele post delicioso das definições de amor das crianças de que não me esqueço) que me toca e me anima e me faz sonhar, e com que me identifico, e um dia quero para mim:

"- Gosta muito dela?
Nesse momento ele levantou os olhos e o seu rosto feio e pequenino tinha o ar maroto de um colegial."
Somerset Maugham, in O Véu Pintado

E isto é um doce, uma ternura, porque o homem era careca e atarracado e nada bonito, mas o amor que sente ilumina-o de dentro para fora e fica agradável a quem vê.
O amor faz-nos mais bonitos, da luz interior que se reflecte na aparência, naquela que se vê à superfície. E era do que eu andava a precisar!!...
Na verdade tive de andar aqui à procura duma coisa que me tinha esquecido de pôr aqui e que me tem ocupado os pensamentos durante o dia, e que vem daqui:

"Ela sabia que nunca mais veria nos seus olhos aquele olhar de afecto a que dantes estava tão acostumada e que achava simplesmente exasperante. Percebia agora quão imensa era a sua capacidade de amar. Estranhamente, ele derramava agora esse amor sobre aqueles pobres enfermos que apenas o tinham a ele. Ela não sentia ciumes, sentia sim uma sensação de vazio. Era como se um amparo, ao qual estava de tal maneira acostumada que nem se apercebia da sua presença, que lhe tivesse sido retirado de repente, deixando-a a balançar para cá e para lá como um sempre-em-pé.
Só sentia desprezo por si própria, porque um dia tinha sentido desprezo por Walter. Ele devia ter percebido como ela o olhava e aceitado o seu juízo sem amargura. Ela era uma pateta e ele sabia-o, mas, porque a amava, esse facto não fizera qualquer diferença para ele. Agora ela já não o odiava nem sentia por ele qualquer ressentimento, mas sim medo e perplexidade. Não podia admitir outra coisa senão ele que ele tinha qualidades notáveis e por vezes considerava até que ele possuía uma grandeza de alma estranha e pouco atractiva; era curioso que ela não conseguisse amá-lo e continuasse a amar um homem cuja ausência de valor se lhe afigurava agora tão  óbvia.(...) Ela fora a única que não enxergara o seu mérito Mas porquê? Porque ele a amava e ela não o amava. O que se passa no coração humano que faz uma mulher desprezar um homem que a ama?
(...)
A conversa dela, que outrora o entretinha, porque a amava, agora, que já não a amava, nada mais era para ele do que entediante? Kitty ficava mortificada só de pensar nisso.
(...)
Reconhecia que Walter tinha qualidades admiráveis; mas acontecia que não gostava dele; ele sempre a tinha entediado."

Somerset Maugham, in O Véu Pintado

E é isto, esta coisa dos ciumes que não são ciumes é uma especie de vazio que se sente onde dantes se sentia algo com que contar, um apoio, ou pior que isso alguém que nos fizesse as vontadses e adulasse. E depois essa coisa extraordinária que nunca tinha pensado, as pessoas que não amamos entediam-nos. Como Walter quando supostamente deixou de amar Kitty deixou de ter interesse nas suas conversas, aliás nunca terá tido, mas tinha vontade de ter e esforçava-se para a agradar porque ela de alguma forma o agradava, porque ele a amava e procurava reciprocidade. Quando percebeu que essa reciprocidade era impossível, deixou de ser o amor que lhe tinha como o tinha, como o sentia, e então ela passou a entediá-lo. Vingança por ela o ter desprezado tanto e valorizar um homem sem qualquer caracter que a abandonou ao primeiro embate? Essa vingança fá-lo desprezá-la porque ela apesar de fútil e superficial não o conseguiu ver e valorizar? 
Andei com isto às voltas durante o dia. Pois aqui fica para a posteridade. Sem respostas. Mas hoje em dia até já me desabituei de respostas, já das perguntas não me consigo, nem quero, desabituar.

14 setembro 2014

Só mais esta frase porque esta é também uma definição de amor (por causa daquele post delicioso das definições de amor das crianças de que não me esqueço) que me toca e me anima e me faz sonhar, e com que me identifico, e um dia quero para mim:

"- Gosta muito dela?
Nesse momento ele levantou os olhos e o seu rosto feio e pequenino tinha o ar maroto de um colegial."
Somerset Maugham, in O Véu Pintado

E isto é um doce, uma ternura, porque o homem era careca e atarracado e nada bonito, mas o amor que sente ilumina-o de dentro para fora e fica agradável a quem vê.
O amor faz-nos mais bonitos, da luz interior que se reflecte na aparência, naquela que se vê à superfície. E era do que eu andava a precisar!!...

"A alma dele estava completamente dilacerada. Ele vivia num mundo de fingimento e, quando a verdade destruiu esse mundo, achou que a própria realidade tinha sido destruída. A verdade é que ele nunca lhe perdoaria porque não conseguia perdoar-se a si próprio.
(...)
O rio, porém, apesar de fluir tão devagar, dava ainda assim a sensação de movimento e transmitia-lhes a melancolia da fugacidade das coisas. Tudo passava, mas onde estavam os vestigios dessa passagem? Para Kitty parecia que todos os que compunham a raça humana eram como gotas de água naquele rio e que continuavam a fluir, cada um tão perto dos outros e, ao mesmo tempo, tão longe, num fluxo sem nome, rumo ao mar. Quando tudo durava tão pouco e nada tinha grande importância, era uma pena que as pessoas, dando um valor absurdo a objectos triviais, se fizessem a si próprias tão infelizes.
(...)
-Ando à procura duma coisa e não sei exactamente de quê. Mas sei que é muito importante para mim conhecer essa coisa e sei que se a conhecesse tudo seria diferente. Talvez as freiras saibam o que é; quando estou com elas sinto que escondem um segredo que não querem partilhar comigo. Não sei por que razão me passou pela cabeça que se visse a mulher manchu teria um indicio do que procuro. Talvez ela mo dissesse se pudesse.
-O que a leva a pensar que ela sabe o que é?
Kitty olhou-o longamente de viés, mas não respondeu. Em contrapartida fez-lhe uma pergunta:
-Você sabe?
Ele sorriu e encolheu os ombros.
-O Tao. Alguns de nós procuram o Caminho no ópio, outros em Deus, outros no Whisky e outros ainda no  amor. Mas é sempre o mesmo caminho e não leva a lado nenhum.
(...)
-É o Caminho e o Caminhante. é a estrada da eternidade, percorrida por todos os seres, mas nenhum ser a fez, pois ela própria é ser. É tudo e é nada. Dela brotam todas as coisas, todas as coisas estão em conformidade com ela, e, no fim, todas as coisas a ela tornam, é um quadrado sem ângulos, um som que os ouvidos não podem captar, uma imagem sem forma. É uma vasta rede que apesar de ter as malhas tão grandes como o mar, não deixa passar nada. É o santuário onde todas as coisas encontram refúgio. O lugar não existe, mas conseguimos vê.lo sem ir à janela. Deseja não desejares, é o que o Tao nos ensina, e deixa que todas as coisas sigam o seu curso. Aquele que se humilha será preservado. Aquele que se curva será levantado. O fracasso é a base do sucesso e o sucesso o preâmbulo do fracasso; mas quem poderá dizer quando se dá a viragem?
(...)
O passado estava acabado; os mortos que enterrassem os seus mortos. Seria isto ser terrivelmente insensível? Ela esperava de todo o coração ter aprendido a compaixão e a caridade. Não sabia o que o futuro lhe reservava, mas sentia-se com forças para aceitar o que quer que viesse de espirito leve e optimista. E então, subitamente e por qualquer razão desconhecida, das profundezas do seu inconsciente emergiu uma reminiscência da viagem que tinha feito, ela e o malogrado Walter, até à cidade empestada onde ele tinha encontrado a morte: uma manhã partiram nas liteiras quando ainda estava escuro e, à medida que o dia clareava, ela imaginou, mais do que realmente viu, uma cena de tão arrebatadora beleza que por breves instantes suavizou a angústia que lhe invadiu o coração, reduzindo à insignificância todo o sofrimento humano. O sol ergueu-se, dissipando a neblina e ela viu, serpenteando pelo meio dos arrozais até onde a vista alcançava, atravessando um riacho e continuando por terrenos acidentados, o caminho que deveriam seguir: talvez os seus erros e loucuras, a infelicidade que sofrera, não fossem inteiramente em vão se ela fosse capaz de trilhar o caminho que agora vagamente discernia à sua frente, não o caminho de que o pândego do Waddington falara e que não levava a lado nenhum, mas o caminho tão humildemente trilhado por aquelas queridas freiras do convento, o caminho que levava à paz."

Somerset Maugham, in O Véu Pintado

[mais um que chegou ao fim. Estava à espera de melhor, francamente. A personagem feminina não me parece consistente, ou eu não acredito que as pessoas mudem tanto, acho que a vida muda as pessoas, sim, o sofrimento altera-nos as perspectivas e faz-nos crescer, mas a descrição da personagem no início do livro fá-la demasiado fútil, tonta e ôca para ganhar esta dimensão espiritual; principalmente o ôca, quem é ôco não tem substracto, não é estar enganado no substracto, é ele não existir; não se preocupar com nada, é não ver além de si próprio, e até em si próprio não ver além do que querem que se pense e veja de si mesmo. E é uma coisa inata, não muda para passar a perceber uma dimensão diferente das coisas, das pessoas e da vida, se nunca esteve nela nenhuma dimensão, nenhuma profundidade, senão as aparências. Mas gostei do livro, só não simpatizei com nenhuma das personagens a não ser o Waddington, esse sim uma figura curiosa.]
Que preguicaaaa... Que maravilha de ronha... Acordar comer qualquer coisa voltar a enfiar-me nos lençóis, esperar um bocadinho entre pensamentos que os olhos se tornem pesados e deixar-me ir nessa dolência boa da preguiça, do sono que repousa. E depois voltar a acordar com a chuva, com uma chuvada monumental e sinfônica! Adoro o barulho da chuva ouvido na cama, no quentinho. Acho que este fim de semana foi o primeiro em que consegui dormir, em que me senti repousar. Não sei porquê, mas finalmente tive a minha cura de sono, o primeiro capítulo só, porque vai haver mais, ando muito cansada. E preciso de dormir e de ronha e também precisava aqui de alguém para estar na brincadeira e com conversas parvas, beijos, mimos pequeninos e gargalhadas grandes. Mas pronto, pelo dormir já consegui, já não falta tudo!!
Bom Dia!
(Ainda não sei se me vou levantar já, não sei não.)

Pronto, acabou. Tenho sempre uma sensação estranha quando acabo um livro de que gostei. Como se não gostasse que tivesse acabado, mas quando começamos um livro é para ler até ao fim. Sabemos que tem um fim. Já na vida há coisas que começamos que não sabemos se terão fim, ou quando, ou como. Talvez por isso a sensação seja diferente, só mais à frente na vida é que acho que percebemos que fechámos o livro depois da última página. Na vida só é difícil saber quando foi a última página. Quando percebemos finalmente vemos que já fechámos o livro, mas não sei se conseguimos precisar exactamente quando.

Há fins que só se reconhecem muito depois do fim, - mas até aí temos de os querer ver, temos de assumi-los, temos de saber e sentir que acabou, que fizemos tudo - como há começos que começaram muito antes de termos consciência do seu início. É por isso que só se entende a vida quando se olha para trás, para o caminho já feito e nao quando, a caminho, olhamos para os pés.

Boa noite.

[depois hei-de pôr aqui as ultimas passagens que marquei no livro para guardar para a posteridade.]

13 setembro 2014

"Havia uma barreira a separá-la delas. Falavam uma língua diferente, não só com a voz, mas também com o coração."

Somerset Maugham, in Véu Pintado

[dito duma maneira tão simples o que às vezes é tão difícil de explicar...]
"De um momento para o outro, agigantando-se no meio da neblina e tocado aqui e ali por um raio de sol, surgiu um aglomerado de telhados verdes e amarelos. Pareciam enormes e era impossivel divisar-lhes um padrão; a ordem, se é que ordem havia, escapava aos sentidos; eram irregulares e extravagantes, mas de inimaginável riqueza. Não se tratava de nenhuma fortaleza nem de um templo, mas sim de um palácio mágico de algum imperador dos deuses onde nenhum homem podia entrar. Era demasiadp grácil, fantástico e imaterial para ser u trabalho executado por mãos humanas; era uma construção retirada de um sonho. (...) A Beleza estava ali e ela guardou-a como o crente guarda na boca a hóstia que é Deus.
(...)
A luz intensa do meio dia roubara todo o mistério ao palácio mágico, que agora não passava de um templo na muralha da cidade, aparatoso, mas decadente. No entanto, e porque o tinha visto uma vez em tal extase, nunca mais poderia ser para ela apenas trivial; e muitas vezes, de madrugada ou ao crepusculo ou de novo à noite, sentia-se capaz de reassimilar alguma dessa beleza."

Somerset Maugham, in O Véu Pintado

[Realmente se calhar há coisas que uma vez vistas e entendidas com tal beleza nunca mais podem ser olhadas completamente desprovidas desse encanto que nos tocou. Por muito, e mais repetidas vezes, que depois vejamos as mesmas coisas de outra maneira, como o que são de facto, e não como parte de um qualquer sonho que nos roubou de nós, que nos extasiou e prendeu, há sempre algo em nós que faz reluzir a antiga luz que brilhou em nós ou que nós fizemos brilhar. Há sempre alguma coisa extraordinária que fica do que nós apreendemos como a Beleza. Sejam palácios mágicos ou pessoas que nos fizeram sentir a magia da vida.]