Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

05 março 2012

Vim o caminho a ouvir Jorge Palma. Gosto das músicas pelo que elas dizem, e as letras daquelas músicas são poemas que me tocam, quase todos. Mas não há nada que me afaste da cabeça as ideias que não quero lá. E as comparações, as malditas comparações, que nascem não sei de onde, até de músicas que nada têm a ver com comparações, mas dou-me comigo a comparar muitas coisa que não devia, e que doem, porque não me sou meiga, porque não me poupo. Nem os outros.
Chego aqui à porta com a ideia que não vale a pena pensar mais, e que já não tenho lugar para sentir, desde que me desalojaste de mim, de ti; desde que já não me sentes e que tenho de te anestesiar em mim, que criar uma dormência com o teu nome. Tenho de passar por ti sem te ver, sem te sentir cá dentro a remexer o que em ti não existe. Não vale a pena comparar-me, perco de todas as vezes, resposta que me serves sempre fria e sem dores tuas, as pontas dos teus dedos têm outros nomes e escolhem outra pele, mas então porquê? O que andámos a fazer tanto tempo? Quem andámos a enganar tanto tempo? Afinal, eu fui o quê em ti? Tempo que passou? Dias que se consumiram num fogop mais vivo para melhor se viver a própria vida? E eu? E a minha vida que é a que vivia contigo?
e a música do Palma a latejar-me na cabeça, a vibrar no coração quase parado:
"Tira a mão do queixo não penses mais nisso
O que lá vai já deu o que tinha a dar
Quem ganhou ganhou e usou-se disso
Quem perdeu há-de ter mais cartas pra dar"
Será? Acho que desisto, que desisti.
Depois de ti não acredito em mais nada.
Não acredito em nada do que se sente.
Nem em palavras que os olhos dizem com a mesma clareza que as palavras que nunca proferiste.
Porque no silêncio cabe tudo o que nós quisermos, e o tamanho do erro não cabe em nós depois de descoberto.

04 março 2012

"Isto foi o que vi em ti. E tu? O que viste tu em mim? Que magia fez com que nos amássemos? Que poderosa vibração nos atirou para a temerária fronteira onde descansam os deportados da terra onde se não pode amar demais, onde se não crê na possibilidade de amar excessiva, insanamente. Lembras-te? Lembras-te de te ter dito que não há outro modo de gostar que não seja este, desabrido, e que não acredito que ao resto se possa chamar amor? Que só ama quem gosta à maneira antiga, fora de moda; os que escrevem cartas, os que cultivam olheiras, os que sofrem loucamente e são capazes de morrer de amor. Tu sorrias."

(...)

"E o teu braço puxou-me para ti e o beijo que estendias não era já só um beijo, mas um corpo uno - os nossos dois corpos enovelados."

in O Amor é para os parvos, Manuel Jorge Marmelo

03 março 2012

"Dois corpos não carecem de mais do que da fugidia linguagem dos sussurros, dos beijos que eriçam a pele, dos arquejos que preparam a doce deflagração de um amplexo. O idioma topográfico da epiderme transpirada é o único que importa - o único que é preciso dominar quando não se trafica mais do que o amor."

in O amor é para os parvos, Manuel Jorge Marmelo

Este livro é definitivamente para mim, se eu escrevesse bem dizia as coisas assim. Vou para a caminha aninhar-me no livro, e deixar-me ser parva.

29 fevereiro 2012

- Quantas vezes é que queres repetir isto??
-Quantas tu quiseres e puderes, e eu aguentar...

[era mesmo de passar noites em claro, directas de muita conversa, brincadeira e mimo, que se estava a falar...]

25 fevereiro 2012

Estou na sala, os livros à minha frente, e a luz que me entra pelas janelas pinta o ambiente duma cor linda, que me leva sempre até às saudades de ti. Das paredes alaranjadas de final de tarde, da melancolia do dia que se começa a despedir. Sempre as despedidas. As despedidas que não sei despedir, as vontades que não consigo apagar em mim, calar de ti. Apetecia-me que esta pausa que faço fosse para me ir enroscar em ti uns minutos partilhando luz e calor, um lanche a meias, e regresso aos afazeres depois. Esta é a única maneira que tenho de o fazer, pelos ecrãs das máquinas, e não me chega, que eu não sou máquina e não funciona em zeros e uns. Falta-me colo, mimo, pele. Tu perto. O teu pescoço para me pendurar. Mas por muito que queira fico sempre pendurada na solidão de ti.
[E não, está visto que a telepatia não funciona. Nada.]

24 fevereiro 2012

Ahhhhhh...era tão bom ficar na ronha. Quentinha. Aconchegada.
O mundo é muito injusto, só vos digo.
Fechei o livro agora mesmo, depois dele se fechar para mim numa passagem que me levou aquela noite, em que pela única vez estive contigo e não senti nada. Naquele momento em que o corpo foi vencido pelo espírito e não me deixou acabar a frase que eu não queria dizer, não me deixou fazer o que não queria fazer, venceu-me, deixando-me vencer afinal. Uma onda estranhamente fria percorreu-me a cara e foi morrer à força que me faltou, que me apagou o corpo, eu agarrei-me a ti e deixei-me ir, deixei-me mergulhar naquela escuridão confortável sem dar conta, sabendo que estava bem nos teus braços. Não sei quanto tempo submergi, quanto tempo me libertei dos sentidos, da realidade de tudo, não sentia nada e era bom. Foi o que senti quando, sem saber como, comecei a lentamente entrar na realidade desfocada de uma cara que me chamava, sem saber onde estava, quem eu era, ou quem me chamava. Quando a nitidez da visão me ofereceu o teu rosto, tão perto de mim, só me lembro de sorrir, e de pensar que estava bem, estava tão bem sem sentir nada, sem pensar no teu ou no meu futuro, sem pensar que sentia ou o que queria. Estava bem, mergulhada naquele vazio confortável, donde saí para os teus olhos e me pendurei no teu pescoço, e na tua preocupação por mim. Eu estava tão bem!!... e agora apetecia-me isso, deixar-me cair nos teus braços e esquecer-me da minha existência, confiar-me a ti, e fechar os olhos ao mundo, enquanto velasses por mim e pudesse acordar no teu olhar.

23 fevereiro 2012

Não faço ideia por onde andas, ou a fazer o quê, o que te passa pela cabeça, se te lembras, se não te lembras. Se me procuras nas multidões, ou só nos recantos das memórias, se as tiveres e se as procurares, que nem isso sei. Não sei nada. Enquanto não sei nada penso muito, porque acho que tu também não sabes nada. Não de mim, de ti. E então sinto raiva, muitas vezes ódio, por não perceber nada, por nada fazer sentido. Por não querer sentir e não querer perceber nada, mas cá dentro alguma coisa não me deixar não querer nada, e sentir tudo. E então o caminho torna-se mais longo, o horizonte mais longe, a solidão mais escura, a vida mais fria. E não saber, não saber a que dia, a que horas, o meu horizonte me entrará de rompante ouvidos dentro e me levará com ele, avassalador, para um sítio onde ainda estás menos, onde te riscas definitivamente de mim, mas onde já sei o que pensas. Como agora, sinto que sei, mas ainda não me notificaste. Dizem que tenho pouca esperança. É verdade, não tenho, já não acredito em nada, em ninguém, muito menos no pouco a que me poderia agarrar para acreditar. Os sonhos não se agarram, as palavras, poucas, a que me poderia agarrar são tão fáceis de enganar como eu no teu colo, e os gestos jogam em todas as equipas, não têm dono, nem intenção. E eu não sei, não sei nada da falta que não sentes, ou do que sentes falta.
Ai ai.... hummmm
Gosto tanto de pescoços!!!
(sim sim devo ser vampira e está na moda...pois)
Try not to jump to conclusions, ok?? eheheh
[é como nos contratos, têm de ler as letrinhas pequeninas...]

18 fevereiro 2012


Luz de fim de tarde, o sol no horizonte em cores quentes, a brisa a ondular os cabelos, um cigarro e isto nos phones. Tudo bem enroladinho numa manta e a cabeça cheia de coisas sem lugar para arrumar, tudo baralhado e um sorriso teimoso que surpreende entre passas do cigarro. E não se entende eu não me entender, eu não entender nada, e achar que isso é entender tudo o que não pode ser entendido. E entretanto o sol esconde-se, como é que uma coisa tão grande, tão boa, tão quente se esconde atrás do horizonte tão depressa??

13 fevereiro 2012

Açucar do café de sábado, que ontem tomei-o ao sol na minha esplanada privada, com os phones nos ouvidos, também é muito bom, mas não somos presenteados com estas coisas, que vão já migrar para o ecrã do meu pc: "Uma noite faço o teu chão tremer".... e agora acrescento eu, e espero que eu seja o epicentro...

12 fevereiro 2012

Um sítio calmo. O frio a abanar lá fora, cá dentro o calor a dançar dentro da lareira mesmo ao meu lado. O chocolate quente que se come em vez de se beber a arrefecer à espera para me aquecer. Ainda há coisas boas, mesmo para gozar sozinho..

10 fevereiro 2012

07 fevereiro 2012

Sugar lips...
E hoje o dia amanheceu-me assim com a primavera na boca a calar o frio, com a recordação do teu olhar quente a mergulhar-me por baixo da pele, donde ainda não saíste, onde ainda te sinto e quero. O coração bate melhor, mas falha vários batimentos à ideia da tua falta, tiras-me o compasso de vida que às vezes ainda sinto no peito, desatinas-me o coração, desconcertas-me a vida que a alma ainda vai descobrindo de vez em vez. Os tons suaves pelo caminho, num misto de saudade, melancolia e um doce sabor a sonho entre os lábios. E os sonhos, com toda a força que possam ter, que possam beber de nós, com que possam ser sonhados, são frágeis como a primavera que deixaste esquecida na minha boca.

04 fevereiro 2012

Estou cansada. Não do corpo, não das horas, não do tempo lá fora que agita o que não mexe. Estou cansada da luz e da escuridão, nem na penumbra me sinto mais, nem na sombra me refugio da luz. Estou cansada de me ver ao espelho, de ver sempre o mesmo, de nada me dizer, apenas uma imagem a duas dimensões onde eu não caibo. Duas faces duma moeda que não é minha, onde só uma vê a luz do dia a outra é enterrada na superficie fria onde me poisam de castigo, virada para a parede. Estou cansada de ver o vazio do espelho antes do mundo, e depois à noite de me despedir do mundo. Estou cansada de nada encher, do frio que não aquece, do vazio que não preenche, estou cansada de me ver e de me ter, se nem me tenho, se nem me sei. Não sei por onde ando nem por onde me perdi, se me perdi, nem se me quero encontrar para lá das duas dimensões onde não caibo. Onde não estou.

29 janeiro 2012

"Gosto muito dele, mas não há homem nenhum de quem possa gostar mais do que gosto de mim."
Gostava de ter esta distância racional dos sentimentos, como se lhes estivesse por fora, como se lhes sobrevivesse. Não consigo, nunca consegui, por muito que racionalize tudo , ou tente, a mão, o acto, vai depois de acordo com a alma. O corpo trai a razão tantas vezes, mas não a alma. Desisti já de os tornar independentes, andam de mãos dadas, e aprendi que assim a paz interior é maior, ainda que muitas vezes em tumulto, ainda que tantas vezes com dias dificeis, ainda que tantas vezes essa pouca paz tenha o barulho de fundo ensurdecedor da razão, a gritar-nos aos ouvidos.
Não consigo pensar assim, talvez seja falta de amor próprio, talvez, não digo que não. Mas eu entendo-o propriamente,  apenas como um amor diferente, é que há pessoas de quem gosto porque gosto de mim, e gosto de mim porque gosto deles, está tudo misturado, os terrenos invadem-se mutuamente, nunca consegui muito bem estabelecer fronteiras internas à razão de regra e esquadro. Para mim, gostar de algumas pessoas é como gostar de mim, porque elas já se fizeram um pouco parte de mim, não gostar delas é trair-me um pouco, enxotá-las é esvaziar-me aos poucos. Nem sempre esse gostar de alguém, ou de mim, é pacífico, nem sempre me traz apenas alegrias e felicidade. Eu tenho também tantas características em mim que só me trazem problemas e dissabores, e mesmo que muitas vezes diga, e queira pensar o contrário, gosto de mim assim, não mudava os meus defeitos, porque isso mudaria as minhas qualidades, alteraria o meu (des)equilibrio natural, e deixaria de ser eu, e eu no fundo, não desgosto assim tanto de mim que me que me queira mudar por dentro, como quem refaz a sua decoração de interiores. Sofro, mas sou eu a sofrer, e sofro perto e na pele não à distância remota a que controlo o que sentir ou não, e por quem. Não tenho o comando da minha vida de fora de mim. Não sinto à distância. Sinto, porque sentir, para mim, é ser por dentro. É sermos o que somos quando gostamos de quem gostamos, ou de quem não conseguimos gostar.

27 janeiro 2012



[Desliga a luz. Deixa a vela a dançar nas sombras dos rostos. Fecha os olhos. Segue o calor, segue o cheiro que é teu sem te pertencer. Encosta-te. Ouve a respiração e o outro coração debaixo da tua pele. Agarra-lhe nos braços e embrulha-te neles. Fecha-te neles. Mistura os dedos dele nos teus ao fundo das tuas costas, não o deixes fugir. Cola o corpo ao dele e devagarinho dança a música que já não ouves.
Beija o beijo que sonharam.]


It's like my whole life never happened
When I see you, it's if I never had a thought
I know this dream, it might be crazy
But it's the only one I've got. Okay.




26 janeiro 2012

Hoje vou sair do trabalho mais uma vez sem pressa, sem pressa de chegar a lado algum. Sem ter a vida embrulhada para encaixar cinco, dez, quinze minutos para saborear um bocadinho bom, um momento que dura muito mais do que os minutos que me come da vida. Alterar às vezes a vida toda por uns minutos e nunca me arrepender. Nunca me arrependi, mesmo quando depois de tanta cambalhota nas horas, de arranjos e rearranjos, que o outro lado nem sabia que aconteciam, não dava nada, outras só ao telefone, outras a conversar perto, quase em sussurros, outras só embrulhada em silêncios quentes que depois nos aconchegam na hora de adormecer, menos sozinha do que diz o espaço vazio que o corpo não ocupa na cama. Agora nada. Os silêncios de agora são frios, duros como pedras, até os sonhos me gelam quando finalmente cedo ao sono. O telefone não apita a queixar-se de mensagens, não toca com a urgência de ouvir, ou de falar, com ninguém. A vida torna-se mais calma, mas menos em paz, é uma tranquilidade cansada do nada e de tudo. 
Lembrei-me disto porque hoje, pela primeira vez, vou ao martirio e não tenho companhia na espera, nem ninguém à minha espera no fim. E este sim, é um martírio que não acaba, e que começo a ter medo de um dia acabar para recomeçar, para voltar a passar pelos dias em que parece que passamos meio zombies por uma zona devastada de nós, um deserto sem sol ou calor, uma anestesia ao que nos fazia sorrir. (sorríamos? será? mesmo?). Não quero passar por isso tudo outra vez. Por isso o medo. Também a mim, o medo. Essa kriptonyte do que poderia vir a ser bom.
Começo a achar que também já me tem, já me agarrou.
Pior, não sei se lhe quero fugir.
E isto não sou eu.
Ahhhhh...coisas boas coisa boa
[se bem me lembro...]

24 janeiro 2012

Obrigadinha, sim?
Vim o caminho sem música, desliguei. Vim a apreciar os pensamentos e o sol. Tinha acabado de ouvir pedaços de vida que me tocaram, por leves que fossem, puseram-me a pensar que de facto males de amor por muito que doam, que doem, por muito que nos suguem toda a vida que nos corre nas veias, é um luxo. Enquanto não tivermos de pensar em como vamos dar de comer e vestir aos filhos, enquanto não tiverem fome nem frio, os problemas por muito sentidos que sejam, são já um luxo. Há tantos luxos que classificamos como necessidades básicas, que todas as classificações são injustas e relativas. Pus-me a pensar o que de facto é básico, é suporte para mim e lembrei-me duma conversa que tive com o meu pai, já eu estava separada, no Verão no meio das nossas caminhadas e cafés nas esplanadas, quando eu ainda olhava para ele e não me lembrava sempre de alguém que amando muito, agora me dá muita raiva também, porque em muita coisa são parecidos, e ele tem sofrido bem por isso, coitado. E nessa conversa em que me dizia que a vida não era fácil e que isto e aquilo, e eu respondi "Enquanto estivermos todos cá, com saúde e perto o suficiente para estarmos quando queremos e precisamos, enquanto nos apoiarmos uns aos outros, está tudo bem, tudo se arranja." E é verdade, o essencial é termos perto quem gostamos e quem precisamos, quando alguém assim nos falta é um pilar que rui parte da nossa vida, que nos ajuda a suportá-la. E é aqui que nos ajudam também a assegurar as necessidades básicas à sobrevivência, e para mim essa sobrevivência passa também pelas pessoas, e por tê-las perto, porque são também a nossa vida. Porque muitas vezes a vida, em si, é já um luxo.
"No ensaio da «Degradação» é que aparece tal expressão, «correntes de sentimento». Para «uma atitude amorosa plenamente normal» (mereceia uma análise semântica atenta, este «plenamente normal», mas adiante), para uma atitude amorosa plenamente normal, diz ele, é preciso que se conjuguem duas correntes de sentimentos: os sentimentos ternos e afectuosos, e os sentimentos sensuais. E em muitos casos, isto purisimplesmente não acontece, infelizmente. «Quando esses homens amam, não sentem desejo; e quando desejam, não conseguem amar».
Pergunta: Deverei considerar-me  incluído nessa multidão fragmentada? Em linguagem clara e simples: os sentimentos sensuais do Alexander Portnoy estão fixados nas suas fantasias incestuosas?O que é que acha Doutor?
(...)
Sim, mas se assim é, como é que se explica aquele fim-de-semana em Vermont? Porque aí romperam-se os diques da barreira do incesto, ou pelo menos assim pareceu. E pluf, os sentimentos sensuais misturaram-se com as mais puras e mais fundas torrentes de ternura que alguma vez conheci! Garanto-lhe que a confluência das duas correntes foi espantosa! E nela também! Ela até me disse o mesmo!
Ou terão sido só as folhas coloridas, doutor, e o lume na lareira da sala de jantar da estalagem de Woodstock, que nos enterneceram a ambos? Terá sido ternura um pelo outro o que sentimos, ou apenas o Outono a fazer o seu trabalho (...) "
----

"Começámos o regresso ao fim da tarde, fazendo o trajecto todo de carro até Nova Iorque para prolongar um pouco mais o fim-de-semana. Ao fim de uma hora de viagem, ela sintonizou a WABC e começou a baloiçar-se no assento ao som da música rock. Depois, de repente, disse: «Ah que se lixe o barulho», e desligou o rádio.
Não era bom, disse então, não ter de regressar?
Não era bom viver um dia no campo com uma pessoa de quem se gostasse muito?
Não era bom acordar cheio de energia ao nascer do Sol e ir para a cama derreado quando escurecesse?
Não era bom ter uma data de responsabilidades e passar o dia todo a tratar delas sem lhes sentir o peso?
Não era bom uma pessoa estar dias inteiros, semanas inteiras, meses inteiros sem pensar em si própria? Andar com roupas velhas, sem maquilhagem, e sem precisar de estar constantemente em forma?
O tempo foi passando. Ela assobiou. «Não achas que era incrível?»
«O quê?»
«Ser adulto. Adulto, sabes?"

Philip Roth, in O complexo de Portnoy

23 janeiro 2012

Estou a morrer de sono, quem me manda ficar a escrever e a ler e mais o raio até as três da matina??... sair da cama foi uma penitência para a qual não fiz mal, nem bem, nenhum. Não percebo, dantes não dormia nem metade e levantava-me com mais vontade e melhor cara. Suponho que era uma penintência depois da compensação, era o preço a pagar para ter o lado bom da vida, custa é pagar o mesmo sem ter o mesmo serviço.... deixa de se estar equilibrado e até reequilibrar a vida custa demais... Estou a precisar duma calibração expresso é o que é!!
"Não o amor não tira férias mas também não se queima com distâncias. Se existe ele lá está e estará sempre mesmo que se tente colocar uma tonelada de pedras por cima para o abafar.


30 de Agosto de 2011 18:55 "
Será??
Quantas pedras já teve, e terá, em cima?
Quão, e quantas  vezes, o pobre já foi abafado, sufocado, martirizado?
Será que está lá? Que ainda está? Que alguma vez esteve?
Se não se queima com as distâncias nem com este tipo de tratamento, como raio é que faço para acabar com ele? Não acaba?
Qual é a receita maravilha?
Ahhh já sei perceber que se fosse realmente assim, eu não estaria assim...que o amor, quando é amor, tem a força de suportar toneladas de pedras e de as tirar do caminho, uma a uma, até à última.
E se não for amor acaba. Deve ser isso.

22 janeiro 2012

Deram-me o nome de Eva, curiosa, fui ver o que significa:

"Nome Hebraico "hawwâh" - Significado: Viver.


Significa vida e indica uma pessoa voltada para o lar e para a família, faz questão de inventar e de percorrer seus próprios caminhos. Essa é a sua receita de felicidade. Tem tanto amor para dar, tanta compaixão que é capaz de passar a vida fazendo o bem para os outros, esquecendo muitas vezes que também precisa de receber ajuda e amor.


Eva é por natureza sedutora e possui a força embriagante chamada liberdade. Dinâmica, aventureira, corajosa e audaz, é dificil resistir-lhe . Gosta de arriscar aproveitando ao máximo o que considera as coisas boas da vida.

Frequentemente parece solitária e desinteressada, mas a sua lucidez diz-nos que apenas faz pequenas pausas, sempre na mira dos seus objectivos e dos seu ideais."
Quem me baptizou assim acho que não pensa que sou muito diferente do que aqui está... cheira-me...
Aqui há uns dias fui tomar cfé com uma amiga, anda meia desorientada da vida e não vejo que esteja a melhorar. Casamento com problemas há algum tempo, já havíamos falado e agora pioraram, porque onde o espaço se abre alguém aproveita. Foi o caso, apareceu alguém, alguém que a fez pensar, estremecer, interessar-se. Agora anda baralhada, não sabe que há-de fazer. Disse-lhe o mesmo que havia dito há tempos ainda antes deste extra conjugal, que tinha de ver o que queria da vida, da vida que tinha, se não lhe chega se não a preenche se não a faz feliz, tem de saber se quer tentar remendar o que tem ou começar do zero. Ninguém gosta de começar do zero, é sempre mais fácil quando já se tem uma alternativa de reserva, eu até percebo, acontece que se o que se tem não está bem ou se faz porque fique ou se acaba de vez com a coisa, independentemente de tudo o resto que haja. O que me parece é que quando surge mais alguém é quando a pessoa já não está na relação que tem, já não acredita nela, normalmente já passou pela fase do tentar melhorar e não melhorou, apenas continua a sustentar uma situação porque a alternativa de começar do zero não parece mais atractiva do que continuar como se está, pelo menos não se está sozinho. Entretanto e depois de toda esta conversa passaram-se mais coisas, ela envolveu-se mais, assustou-se, sente-se muito insegura em relação à nova pessoa que lhe surgiu no caminho, que é uma coisa muito fisica, demasiado fisica, e que sexo por sexo tem em casa. E foi esta frase que deu razão a estar a escrever, porque fiquei pasma com a frase. "Sexo por sexo tenho em casa" (o que me pasma é que parece que em casa também é sexo por sexo, andará toda a gente louca?ou eu é que sou louca?) Eu até percebo  a lógica se é só para sexo, isso não lhe falta em casa, se não há mais valia para quê ter outra pessoa? Então perguntei-lhe, "então se não é por sexo porque isso tens em casa alguma coisa deves ter nessa pessoa  que não tens em casa, estás apaixonada? Não, nada disso, longe disso, este homem não é a minha praia. Já teve mulheres a mais, é giro demais e é areia demais para a minha camioneta. " Aqui tive de me rir por dentro. Mesmo, mas continuei, "mas se não é a tua praia, se tens essas inseguranças todas, acabou? Acho que sim. Achas? Se é só sexo e não estás apaixonada, porque é que só achas? Não estarás já apaixonada só não queres admitir porque tens medo? Não, não estou. Isto nunca daria nada e só sexo não quero." Pronto está bem, eu não argumento, porque não vale a pena e não quero incentivar uma coisa que pelo que me pareceu do que ouvi, do outro lado parece-me mesmo só sexo, do dela é que acho que é só negação, mas o tempo dirá.
A questão aqui é que não conheço nenhuma situação em que uma mulher, ou mesmo um homem, não se envolva fora da relação que tem se a relação que tem o realiza, o nutre do que cada um precisa. Nunca se acaba uma relação porque apareceu uma outra pessoa, a relação já tinha acabado antes, pelo menos na sua forma abstracta, ainda que as pessoas possam continuar juntas, algo na relação abriu uma fenda que com o tempo e as quezilias do dia a dia foram abrindo e abrindo, até dar espaço para os olhos começarem a olhar em outras direcções e a ver o que se lá passa. Só que nunca ninguém resolve as coisas por não estar bem, ninguém (ou muito pouca gente, infelizmente) diz basta na altura certa, deixam as coisas arrastar e tentam ignorar o problema que só vai adensando e tornando a solução cada vez mais dificil. Deixam passar, não dizem não a isto nem aquilo que os chateou, empurram com a barriga, o problema subsiste e um dia, só mesmo dando um murro na mesa. Quando o dão, quando não dão entra-se muitas vezes numa guerra surda feita duma paz podre, que dá origem a uma revolta interna a uma raiva silenciosa contra o outro, que mais dia menos dia terá as suas consequências, muitas vezes essa consequência é aparecer alguém. Quando não se resolve a doença, o foco do mal, e vamos tomando placebos de vários tipos, vamos repetindo os mesmos erros, não eliminamos o mal. Por isso tanta gente faz da traição um modo de vida. Cada traição um placebo, o casamento a doença que têm medo de curar.

21 janeiro 2012

Prendada uma porra!!
Retiro o que disse, aquela m.... saiu aos bocados.. Bolo desmembrado...metade no prato, metade na forma....lá vou eu ser gozada forte e feio... Mas para que é que eu falo??? bahhhh

20 janeiro 2012


“Every saint has a past and every sinner has a future.”
Oscar Wilde

[É engraçado encontrar frases que dizem em poucas e curtas palavras exactamente o que pensamos, e neste caso, que até escrevi há poucos dias algo que diz, ou tenta dizer, algo semelhante.]

Uma amiga minha está decidida a emendar-me o desleixo, quer que cuide de mim, até quer que eu desencalhe, antes de me tornar no novo Concórdia, e já agora com menos vítimas...
Supostamente há cremes que ajudam (eu acho que nada chega a uma pessoa sentir-se bem e a tocar fios de felicidade), que nos fazem sentir melhor, e depois há as pinturas de guerra em alturas de paz, paz podre normalmente, mas pronto, que nos fazem parecer mais bonitinhas, arranjadinhas e frescas, e o raio. Eu sempre fui dada a poucas coisas dessas, é meia bola e força e pouco mais. Mas vou tentar, vou ver se resulta um bocadinho, pode ser que me melhore a cara, e de caminho o espírito, e nesse espírito acabei de dizer na brincadeira: "É desta que eu vou ficar linda e maravilhosa!!". A resposta, em tom sério, é que me deixou de boca aberta, antes de largar uma gargalhada..."Olha que isto também não há milagres!!"
Oh meu deus!!! Estou lixada... é que nem mesmo com um milagre lá ia, e ainda por cima ela diz-me que não há milagres!! Bom, deu para me desatar a rir!!! Menos mal.

19 janeiro 2012

Há tempos dei por mim a pensar se será possível pessoas com princípios, com bons princípios, com bom fundo, podem ser pessoas sem bom carácter. E andei a mastigar isto muito tempo, muitas viagens. Hoje, em mais uma, mais uma vez me pus a pensar, porque não tinha ainda conseguido ordenar as ideias, de forma coerente e lógica. Cheguei à conclusão que não, não é possível. O carácter cumpre as fundações dos princípios.
Não basta ser boa pessoa da boca para fora, ser sério na teoria, ser honesto no abstracto, há que perante a situação que a vida nos impõe cumprir com esses princípios, ou será só fachada para enganar turista. Toda a gente é honesta e incorruptível, pelo menos da boca para fora, até ao dia em que afundado em dívidas lhe oferecem um suborno para fazer algo ilícito, que pode até não ser grandemente prejudicial a ninguém, mas que ainda assim é errado, ou que até aquele momento, sempre o tinha sido, pelo menos da boca para fora. Na verdade todos temos muito bom carácter até ele ser posto à  prova, só aí sabemos do que somos feitos, até lá é só ideais de compromisso, nada mais pálpavel que isso.
Penso que alguém com carácter é alguém cujos princípios e vida correm, quase sempre, adjacentes, são consistentes.
Se os principios forem bons - bom carácter, se os principios forem menos recomendáveis, será o que se chama de mau carácter. Porque também os há, e não são poucos.
Mas, e apesar de tudo, um bom carácter também erra, o que o distingue dum mau caracter é que se erra, não o faz com má intenção, não o faz para levar a melhor, e no caminho, se preciso for, pisar ou lubibriar quem se interpuser no seu caminho. E principalmente, se o fundo for bom,  pesa-lhe a consciência do erro, algo o levou a fazer uma coisa que considera errada, e isso pesa-lhe todos os dias, não o faz despreocupadamente, há culpa e arrependimento. Fez porque errou, porque alguma circunstância o atenua, porque terá uma justificação, boa ou má, mas que seria a sua justificação, e nunca com maus fundamentos. Tal como um mau caracter, que sempre o demonstrou toda a vida, repetida e inequivocamente, não deixará de o ser por ter feito algumas coisas bem, também um bom carácter não pode ver uma vida inquinada porque algumas vezes agiu mal. As pessoas merecem quanto mais oportunidades quanto mais fizeram por elas. Não percebo aquelas pessoas que são consideradas quase santas, uns modelos de vida, e um dia porque fizeram uma qualquer coisa que ninguém as julgava capazes, caem do altar e vão directo para a valeta... e no fim ainda se ouve dizer (quase contentes, ou mesmo contentes) "nunca me enganou.." Não concordo com isso, quanto melhor alguém se esforçou por ser até fazer asneira, mais oportunidades deve merecer (até eventualmente deixar de merecer, porque também acontece...)
No fundo, o importante é o fundo que forra as pessoas, a forma como tratam e pensam nos outros, se com respeito, consideração e igualdade, ou apenas como ferramentas, degraus, caminhos, para se obter algo. Erros toda a gente comete. Erros conscientes e consistentes, não eliminados ou reparados, já podem desmoronar todo um carácter, em vez de apenas deixarem brechas que nos lembram por onde não ir. Porque também há as pessoas sem carácter (a quem muitas vezes se chama de mau carácter, embora a mim não me pareça que seja a mesma coisa), e estes são os que ainda não decidiram que princípios têm ou querem seguir, tanto fazem bem como mal, tanto se fazem reger por bons princípios como são exímios em contorná-los em proveito próprio, ainda que a custo de uma ou outra pessoa, ou manipulando esta e aquela, e aí por diante. Não são consistentes em si mesmo, não têm personalidade formada, boa ou má.
Como dizia Gandhi a felicidade está em poder fazer-se e dizer-se segundo pensamos (mais ou menos isto, não decoro frases...), e acho que o que ele queria dizer é que a tranquilidade e paz de espírito que se vive, por podermos ser consistentes e fieis a nós próprios, por não nos sucumbirmos perante a vida, será algo próximo da felicidade (eu não lhe chamaria felicidade, mas...).
Já fiz coisas de que me arrependi, que acho que foram erradas. Poucas, mas algumas. Acho que isso abriu brechas nas minhas fundações, questionei-me dos meus princípios, avaliei o meu erro e o que podia fazer para repará-lo ou eliminá-lo, e fiz. Abalou-me o carácter, sim, modificou-me em muitas coisas, fez-me pensar muito, e obrigou-me a tomar posições em que me possibilitasse aproximar-me da felicidade que Gandhi falava, e que me devolvesse a minha consistência, que não me traísse. O que esteve nas minhas mãos, o que eu consegui fazer, fiz. O que não consegui, por ter mais força que eu, não fiz, porque era apenas outra forma de me trair, e felicidade seria a última coisa que me poderia trazer, quanto mais paz.

15 janeiro 2012

Nem na cama estava bem, levantei-me por fim, farta de sentir o vazio de olhar para o lado vazio. O tempo está-me com a alma. Apetecia dormir em frente à lareira, abraçada a quem nos espanta a solidão, a olhar o fogo, em silêncio entrecortado de conversas parvas, ou não e muitos risos e sorrisos distribuidos por bocas e olhos. Mas nada disso é o que temos, por isso, vamos sair porta fora para fugir do vazio que hoje se sente por aqui. Ver gente, tentar não pensar, e principalmente sentir. E porque a dispensa não se enche sozinha...

14 janeiro 2012

Jantar num tabuleiro em frente a lareira. Sozinha. A pensar que este sozinha foi escolha, convites para jantar não faltaram, mas nenhum deles me ia fazer sentir menos só. Por isso, apesar de jantar sozinha por opção, a solidão nunca é solidão por opção. O ter companhia, ou não, é que é.
Não se consegue prender o mar
nas mãos em concha
Nem o coração
de ninguém preso
Encontramos um oceano inteiro
Ao tropeçarmos num búzio
Que chamam vazio
Morto
Vivo na força do mar
Que se ouve eterno
Que mãos algumas conseguem conter
É preciso abrir as mãos
Para o coração bater livre
No peito certo
Para encostar a minha cabeça
Ao teu

11 janeiro 2012

" A criança é pequena e encerra o homem; o cérebro é estreito e abriga o pensamento; o olho é um ponto e abrange léguas."

Alexandre Dumas, A Dama das Camélias

As aparências enganam. Raramente o que parece ser é, e nem sempre o que pensamos que vemos é o que vemos quando pensamos...
"Quando a vida contraiu um hábito como o deste amor, parece impossível que esse hábito se rompa sem quebrar ao mesmo tempo todas as outras molas da existência."

Alexandre Dumas, A Dama das Camélias

10 janeiro 2012

 
Há imbecilidades que eu tenho pena que não mas digam a mim. Tenho tido poucos momentos de diversão ultimamente, e isso sempre animaria. Ouvi no outro dia que alguém teria dito que as pessoas que se separam nunca mais conseguem ser felizes. E eu tenho pena, tenho mesmo pena que estas coisas, não só não me sejam ditas a mim, como não sejam ditas em público, talvez porque saibam o quanto são imbecis e não estarão convencidos do que dizem, ou então, pior, estão disso convencidos, mas não o assumem com medo de que em reunião social haja algum infeliz separado, que certamente não se calaria à imbecilidade em questão. Para além do perigo de haver pessoas que podendo já ter sido divorciadas, ou separadas,  já estariam em novas relações e agora felizes, e era chato ter logo ali à mão uma prova empírica que apontava o dedo bem recto à crua imbecilidade proferida. Seria humilhante, mas devia-o ser mais dizer certas coisas e ficar impune. De facto não sei qual das duas hipóteses a melhor, porque as duas me parecem bastante más. Se se diz sem se estar convencido disso, não faço ideia porque será que o dizem, a não ser que estejam a fazer de quem os ouve imbecil (tentando-os convencer duma imbecilidade), e por isso seguro de não replicar. Se se diz convicto da barbaridade em si, mas não se repete em sítios susceptíveis de discussão, parece-me um pouco cobarde, ou hipócrita, no mínimo. 
Parece-me estranho que alguém não se separe com a razão de que depois de separado não mais será feliz. Não me parece o ponto de partida, o inicio lógico seria perguntar se a pessoa casada está feliz. Se está, a questão não se coloca, pelo menos não a ela, poder-se-á colocar se a pessoa com quem está casada não estiver feliz. E se uma não estiver feliz, será possível fazer a outra feliz?? Melhor, será possível alguém ser feliz sabendo que a pessoa com quem está não está, ou é, feliz com ela? Que a razão de se manterem casados é porque as pessoas que se separam nunca mais são felizes? E casadas são? Uma das partes obrigando o casamento a aparentar manter-se é felicidade? Para quem? A infelicidade é reconhecer isso mesmo e tentar ser feliz???? Ver que não se está bem, e que é impossivel alguém o estar junto de alguém contrariado? Dar a oportunidade de os dois serem mais felizes, um por vontade própria e o outro porque não se consegue ser feliz ao lado de alguém que só o está por obrigação, contrariado, para cumprir contrato? 
Bom, só consigo encontrar maneira de responder que sim se virem a felicidade de se estar com alguém duma maneira muito diferente da minha, ou seja, estando com alguém mas sozinho, e assim ser feliz com isso. E isso é um casamento? É. De há uns séculos atrás, mas é. Quando o casamento era um contrato onde cada parte tinha um ganho, uns casavam com o estatuto e posição social, outros com o dinheiro novo, ou então juntavam grandes e boas famílias para aumentarem fortuna, poder, ou laços estratégicos de negócio. Sim, assim faz sentido. O casamento tem uma razão racional e bem sustentada, e cada um vivia, mais ou menos, a sua vida. O homem era feliz se tivesse dinheiro, estatuto e mantivesse a amante que gostasse. A mulher, a mulher não faço ideia, era feliz porque tinha uma certa posição social, e os filhos, e lia, e bordava, ou coisa que o valha. As mais audazes e espertas lá conseguiam maneira de também arranjarem muito discretamente (muito mais do que os homens, que abertamente lhes era admitido) um amante que lhes alegrasse as horas entre os bordados, as leituras e o canto. E pronto, era assim. Ninguém se separava, claro, porque o fundamento do casamento não era a felicidade, quanto mais o amor. Depois puseram-se a inventar e acharam que a inovação do amor como fundamento do casamento era mais engraçado, deram liberdade às pessoas para se escolherem entre si. Estragaram tudo, estava tudo tão direitinho, certinho e racional e deram cabo da instituição. O paradigma mudou, ou melhor, para alguns mudou, para outros pelos vistos não (devem ser pessoas retrógradas e machistas, só pode). Realmente, e no que toca ao casamento, o amor, ou a pretensão à felicidade, estragou tudo, porque se tornou muito mais difícil escolher, acertar nessa escolha, e ainda por cima logo à primeira (uiii...porque se nos separarmos temos o carimbo da infelicidade nas trombinhas...)!! Até aí concordo plenamente, agora que se assuma que as pessoas casam por amor, e para serem felizes, e não o sendo, não se separam, porque senão serão infelizes é que eu não percebo... E a quantidade de pessoas que se divorcia e que encontra alguém com quem realmente se dá bem (acertam à segunda, vá... bolas...cambada de pessoal com má pontaria na escolha!!)? De quem realmente gostam? Problemas, chatices?? Terão, claro, mas não terão mais ainda presos a um casamento onde não são felizes e onde já não sentem razão para estar? Onde tudo é um problema e uma chatice só, sem príncipio nem fim? 
Não percebo, devo ser estúpida que nem um pneu. 
E expliquem-me por favor como é que alguém consegue ser feliz se achar que a sua felicidade está em prender alguém? Em saber que só não se está sozinho por ter o poder de prender alguém? ou tentar, sequer? Em obrigar alguém a estar ao seu lado? E estar bem assim? Isto chama-se o quê? Manipulação? Ditadura? Egoísmo extremo? Estupidez?
Alguém me quer explicar? 

06 janeiro 2012

" Ele admira igualmente os «esposos divorciados» que têm a coragem de assumir aquilo que são, «de se revoltarem abertamente» contra a vida matrimonial, assente mais nas conveniências e nas tolices moralistas do que no amor mútuo. Em contrapartida, não poupa nas palavras contra os preguiçosos do casal, esses traidores do amor, que se alapam com moleza ao lar, «aqueles que se revoltam apenas em pensamento, sem ousar passar à acção, esses miseráveis esposos que suspiram pelo amor há muito tempo desaparecido(...), que se encerram como dementes na sua célula conjugal, agarrando-se às grades e debitando frivolidades a respeito da amarga tristeza da sua união». "
(sobre Kierkegaard)

" A paixão, o sexo, o espanto dos primeiros dias, tudo isso é transitório. Restam as palavras que se trocam, as conversas que enriquecem. De tal modo que a única questão a colocar verdadeiramente antes de casar com alguém será, no fundo, a seguinte: «Acreditas poder conversar com esta mulher até à tua velhice?» Para lhe responder, será ainda necessário aprender a «amar para além de si mesmo», ou seja, com o desejo de melhorar. "
(sobre a visão de casamento de Nietzsche)

" «Em vez de, como antes de sermos amados, nos inquietarmos com esta protuberância injustificada, injustificável que era a nossa existência; em vez de nos sentirmos "a mais", sentimos agora que esta existência foi retomada e desejada nos seus mais ínfimos detalhes por uma liberdade absoluta que ela ao mesmo tempo condiciona. Está aí o fundamento da alegria do amor desde que ela existe: sentirmos a nossa existência justificada.» Amado, já não sou um elemento que se destaca com o mundo como pano de fundo, sou aquele através de quem o outro vê o mundo. Amado, eu próprio me torno mundo."
(o doidivanas do Sartre e a sua visão do amor como me parece que nunca o viveu verdadeiramente)

tudo in Os filósofos e o amor, Aude Lancelin e Marie Lemonnier

Neste livro em que o amor se reduz a transitório, basicamente fortemente justificado apenas naturalmente e instintivamente, com pouco de elevação de sentimento, ou união de almas, para além da ilusão necessária para surtir o seu efeito natural e passageiro com fim à procriação e manutenção da espécie. Tantos ilustres a pensarem sobre o amor, todos a viverem-no mal, ou a nem sequer o viver.
É um bom instrumento de reflexão, ou foi-o para mim, para saber o quão devo estar enganada e quanto quero continuar enganada. Às vezes é bom não ser um grande ser pensante, e ter-se ideias mais comezinhas sobre coisas que se consideram grandiosas como o Amor.

05 janeiro 2012

A boca deste homem agora persegue-me em cada curva da cidade
 (felizmente não com esta camisa, ou começava a ter pesadelos...)
Em cada curva me espalho em memórias, me escancaro em sorrisos que não se vêem, em lágrimas que estão por cair, e em tantas que já secaram e se esqueceram que foram.

07 dezembro 2011

Olhar para o telefone não adianta, ele não sabe, não toca, não sente, não me lê o olhar ou os sonhos desfeitos. Pela janela vê-se a chuva cair, lamber os vidros e arrastar-se até ao chão, e para quê? não há lá nada.. mas ela cai e arrasta-se e faz-me pensar porque não nasci chuva para cair e arrastar-me, sem pensar que caio, e que não gosto de me arrastar. Acende-se mais um cigarro, pensa-se no que foi, no que ele foi, no que fomos sem nunca ser, sem nunca termos sabido o que fomos, sabendo-o desde o princípio que isto não ia não ser nada, não ia ser uma coisa que cai sem razão, não se ia arrastar sem nos arrastar com ela, mas foi, e não foi nada. E o telefone não toca, não apita, não nada. O que será que do outro lado se pensa? O que será que não se sente? O que será que é? Porquê esperar alguma coisa, se nada há para esperar? A lareira aquece as pernas mas a alma entorpecida não aquece por nada, memórias que vêm sem aviso que nos deixam um sorriso nos lábios e uma lágrima que rola, que nos lambe a pele e que cai... tudo cai e eu não me levanto, já não o sei fazer, já me cansei de o fazer para cair de novo, deixai-me estar no chão que é para lá que tudo cai. Menos as memórias, que não me caem no abismo do esquecimento, na frieza do vazio do que já não existe, mas que eu faço existir porque é lá que estou, no vazio. Toca o telefone, do outro lado uma voz doce que nos tenta arrancar do sítio onde nos perdemos da última vez que existimos, "Como estás??, estou bem, e tu? Não inventes, queres companhia? Não, não quero, estou bem, a sério... acho que vou dormir o tempo está bom para isso..." Desliga-se, e o mundo fecha-se outra vez, deixa-nos de fora, ou só dentro do mundo que criámos sem que o conseguissemos encaixar nesse que se vive, onde se finge que se vive. Telefone mudo, surdo, e a chuva cai lá fora, e dormir não é opção, porque o sono não deixa, porque me acordas os sentidos que já não sinto, porque sinto o que sentia sem querer sentir ou ter sentido, e tudo o resto não tem sentido. Como na mensagem que me mandaste há tanto tempo que já não me devia lembrar, "tenho tantas saudades tuas que não sei onde as encaixar, e tudo fica sem sentido." Teria sido sentido? Sentiste-o? se o sentiste, onde está? onde estás? E o telefone mudo, e tu mudo, e tu surdo, e eu no chão.

11 novembro 2011

Há mulheres bonitas, depois há mulheres que têm raça e são bonitas.

02 novembro 2011

Sem aviso, apareceu-me na cabeça, ou não sei onde, a cena de quando me puxaste com uma mão pela cintura, e me fizeste sentar ao teu colo, quando estava zangada contigo. E foi ali, naquele preciso momento, em que me tocaste e puxaste com a força certa, com a firmeza e vontade exacta, que me rendi, não to deixei perceber, mas tiveste-me logo ali, perdi-me naquele instante, foi como se se apagasse tudo. Só com esforço pus a cabeça a trabalhar e não me colei logo a ti, colei-me às palavras que me magoaram tanto para que não me deixasse logo ir na conversa do teu toque, que sempre me desconcerta e desconcentra. Até agora, não sei quanto tempo depois o sinto e me leva para onde queres, mesmo que não queiras...

29 setembro 2011

Estou tão atafulhada de coisas que quero fazer, que gostava de fazer, vontades atadas com nós cegos, que o próximo que me apanhar até vai fugir de tanto que gostaria de dar e guardo. Como uma represa que um dia se vê liberta vou fazer tudo o que sonho contigo, que não pude, não posso fazer, mas que queria. Queria raptar-te numa sexta à tarde, sozinhos, levar-te para longe do mundo e perto de nós, queria fechar-me num quarto de paredes caiadas de branco e janelas enfeitadas de cores plenas de vida, no meio do nosso mundo, com espreguiçadeiras no terraço a convidar ao mimoe à conversa ao ouvido e o teu calor perto, queria perder-me contigo a contar as estrelas do céu limpo e sem luzes a poluírem a noite, ou a admirar a lua pestanuda que pisca o olho ao céu e nos sorri atrevida, queria sentar-me na varanda e encher-la de gargalhadas partilhadas, beijos roubados, trocados, dados, mas sempre sentidos. Queria leituras partilhadas e sorrisos cúmplices no olhar, queria adormecer em qualquer lado enroscada nos teus braços e aninhada no teu peito, sorrir a dormir e sonhar acordada. Queria parar o carro no meio de nada porque a música que está a tocar, tenho de a dançar contigo, colada a ti, e não pode esperar, como nada deve esperar, porque o tempo foge e não espera por ninguém. Queria passear de mão dada a conversar ou em silêncio, queria partilhar contigo as coisas boas e más, ajudar-te, deixar ajudares-me, deixar que tomes conta de mim, mesmo que tenha de tomar mais conta de ti... O próximo, se existir, espero que goste disto tudo, porque eu gosto e quero, e tu gostas de certeza, mas de certeza que não o queres.

28 setembro 2011

"- Oh menina, agora não me dá muito jeito!..."
[...silêncio]
(a mim também há muita coisa, muitas vezes, que não me dá jeito nenhum, mas eu arranjo maneira de dar um jeito. Mas isso sou eu que sou parva, já sei. Ninguém mo pede, por isso também não o peço a ninguém, nunca pedi, e nunca vou pedir. Atenções mendigadas são obrigações veladas. Não quero ninguém ao pé de mim por obrigação, como não estou com ninguém por obrigação, acho que é demasiado medíocre para a minha consciência desperdiçar o pouco tempo que se vive, e a que nunca podemos fazer contas, com pessoas que não quero. Mas isto sou eu que sou estúpida, já sei)

30 agosto 2011

O que pensei estas semanas? Nada, acho que não pensei nada. Só que o amor não tira férias, se tira vem queimado e nunca foi amor. De resto,, fiquei apenas a dedilhar o silêncio do tempo na sua música cruel.

26 agosto 2011

"Viver só. Estar só até à morte. Ninguém quer conhecer-nos para nos amar. Defendermo-nos sem uma falha de atenção. Fechar a porta com duas voltas. E vir então para a rua. E ser quotidiano e medíocre. E ser amável. "


"Que te ignorem, te suprimam, em que é que isso te pode chatear? Está só, que estás bem. Reinventa aí toda a razão de viver. Que os outros sejam em público na grandeza para que nasceram. Não nasceste para isso. E vai-os olhando como espectros de um outro mundo. Conseguires ausentar-te totalmente e estares presente a ti próprio. É quanto chega. Sê todo em ti na exacta medida em que fores nada para os outros."


Vergílio Ferreira, Conta-corrente I


Incrivel, como se falasse por mim.
Também eu não sei ser em público, só sei ser público. E nunca niguém me conheceu e me amou, ou me conheceu para me amar, ou me amou conhecendo-me. Mas esqueci-me uma vez de fechar a porta com duas voltas antes de ir para a rua. Assaltaram-me, agora estou despojada de mim como era e devolveram-me o que não sabia já ser. Saíram, fugiram e deixaram a porta escancarada, e descubro que não sei viver assim. Descubro que não sei viver. Ainda não sei ser plena, sendo nada para os outros. Os outros, os "meus" outros, são também eu e o que me vejo, como me vejo. Não sei ser sem eles, mas aprenderei. Não tenho mesmo outro remédio. Viver só.

24 agosto 2011

"Eis porque o prazer de uma «fantasia»...Impossível ou difícil para mais gente do que se supõe. Carrément. O peso da «irregularidade» a estragar o prazer. E todavia, uma subtil insinuação de «fraqueza». Ser «forte» explica a assunção do «pecado»? Ser mau é ser bom? A virtude terá raízes pecaminosas - e vice-versa? É-se «moral» pela cobardia de não aguentar o incómodo da «imoralidade»?, de se saber que essa imoraçlidade iria magoar outrem se a conhecesse? Por sobre tudo, no meio de tudo, a horrível sedução. O ter o fruto à mão, com o seu violento apetite, e não o colher. Na infinitesimal fronteira, a incandescência da loucura. Sabe-se como é que se pode enlouquecer. Um pequeníssimo desvio. Um breve toque mais. Recuar para cá - um esforço violento. Curiosamente, a intensidade do prazer prometido, a intensidade da sua possibilidade, arrasta consigo a dificuldade moral de o conseguir. E a loucura está no crescimento simultâneo das duas tensões. Para que o salto se dê, é necessário que uma delas abrande."
               Vergílio Ferreira, Conta-corrente I

A virtude, ou é natural porque assenta no pecado, e este sim é natural (?), ou assenta no constante evitar do pecado, ou seja, não é uma virtude "natural" ou intrinseca, é um evitar de. Nunca tinha pensado nisto antes de começar a ler este livro, que a virtude vive sempre do pecado, duma ou doutra forma. Em sentido figurado, obviamente, porque pecado é uma invenção da Igreja, para suportar e aclamar a virtude suponho.  E vamos todos atrás. Porque para onde me remete isto é: O que é então a virtude? em que assenta? Na vontade de fazer bem "o" bem, ou só no fazê-lo?

23 agosto 2011

Sim realmente sou inquieta, mas não vivo da inquietação, principalmente se se apelidam de inquietação, ou já teria morrido há muito. De qualquer maneira é mais um defeito a acrescentar à já vasta lista que possuo..

21 agosto 2011

"Há uma imagem de nós nos outros e há o que em nós permanece e reconhecemos, quando uma pequena fenda se abre. Valerá a pena mudar? Mesmo que esse outro de nós seja real? A ironia, o riso, é um dado real de mim. Valerá a pena sobrepô-lo ao mais? Não é esse mais o quase tudo?" Vergílio Ferreira, conta-corrente II
"A grandeza de tudo está na grandeza com que se for esse tudo. Não nesse tudo."

"Quando a vida nos habitua a desprendermo-nos dela, a firmarmos o pé em  nada, vive-se obviamente no provisório. E se o que mais amamos falha sempre ou disso nos ameaça, o recurso é, para haver o que amar, amar-se o que como «ideal» nunca falha - a harmonia, a tolerância, a paz. Por mim e por sobre tudo, amo a vida, que é onde acontece o que se há-de amar ou não."

Vergílio Ferreira, Conta-corrente I
E quando o «ideal» falha? Quando começamos a questionar o nosso ideal?? Tudo se torna provisório? Por isso é o nosso mundo, e a nossa sociedade de consumo imediato, e por isso tudo tão provisório?? É o reflexo da falta de ideais que nos guiem?? E que não falhem?? 

Talvez eu me converta ao eterno provisório de facto, porque começa-me a falhar o ideal de mim mesma, e do que valorizo na vida para a conseguir amar. Para conseguir amar.

19 agosto 2011


"Estar-se cheio, tenso, farto, às vezes no limite da loucura. Cintado de moral, da vigilância dos princípios, do "parece mal". E da cobardia, decerto, e do comodismo. E uma vontade oculta de se rebentar com tudo. Ser-se livre, como quem já nada tem a arriscar. O mais difícil, é que tudo seria fácil. Porque, se fosse difícil, era mais fácil de aguentar, (...) Foi possível, porque já nada havia a perder. O cálculo do futuro não entra já no seu cálculo."

"Cansado. O futuro restrito. A vontade de chegarmos à beira e atirarmo-nos. A monotonia dos dias fiscalizados, a sedução do diferente. Digo diferente. Só o pecado é diferente. Ou sobretudo. Será talvez útil regressar ao pecado de vez em quando, para que a virtude seja mais suportável? Mas não é fácil. É preciso coragem. Coragem? Que é isso de coragem? Em todo o caso, não propriamente pelo pecado em si (para subdesenvolvidos morais como eu, ele pesa), mas porque não é fácil equilibrar o prazer dele com as chatices anteposteriores." 

Vergílio Ferreira, Conta-Corrente I
Parece que escreve para mim em tanta coisa, e faz-me parar muitas vezes a pensar, e dar por mim a sorrir por entender tão bem, e por me sentir menos diferente. Há quem goste de ser diferente, eu não, e pelos vistos tenho razão, porque " só o pecado é diferente", e só serve para se prosseguir a pureza das virtudes... apoiada no pecado.

17 agosto 2011

"As gerações futuras deverão desembaraçar-se do tempo. Parece que já o tentam. Vida em superficies lisas, desinfectadas, vida no instantâneo presente."

"Aliás a sua razão não funciona (nenhuma razão) no que é a quase totalidade da vida humana. O que nos importa passa por outro lado. Quando a razão lá chega, já tudo está decidido"

Vergílio Ferreira, Conta-corrente I
Algo me diz que vou gostar muito de ler este senhor, e ainda agora comecei.

14 agosto 2011

"Ah! bem sabia que me amavas. Os teus primeiros olhares, esses olhares cheios de alma, o teu primeiro aperto de mão, disseram-mo, e todavia quando te deixava, ou que via Alberto a teu lado, tornava a cair nas minhas devoradoras dúvidas."

Goethe, Werther

Mesmo findo o livro, não, não sei se ela o amava na verdade, sei que não o queria amar, sei que se queria convencer que não, que a ser amor seria amor fraterno, compaixão, amizade. Ainda assim, concluído o livro e as últimas reacções da bem amada de Werther, não sei se ele era, de facto, amado ou não por ela. Uma dúvida, no entanto, não tenho, não o amava como ele a ela. Disso não há dúvida, ele morreu por isso. Dela diz-se apenas nas últimas linhas, que se temia também pela sua vida desde a morte dele.
"O que é o homem, esse semideus tão gabado? Não lhe faltam as forças precisamente no momento em que lhe são mais necessárias? E quando ele toma voo na ventura, ou que se abisma na tristeza, não será então ainda limitado, e sempre reconduzido ao sentimento de si próprio, ao triste sentimento da sua pequenez quando contava perder-se no infinito?"

Goethe, Werther

12 agosto 2011

" «Ou tens alguma esperança de êxito junto de Carlota ou não tens. Bem! No primeiro caso procura realizar essa esperança e obter a realização dos teus desejos; no segundo, robustece a tua coragem e livra-te de uma desgraçada paixão que acabará por consumir as tuas forças.» Meu amigo, isso é bem dito... é fácil de dizer!
E esse desgraçado, cuja vida se apaga minada por uma lenta e incurável doença, podes tu exigir dele que ponha fim aos seus tormentos com uma punhalada?, e o mal que lhe devora as forças não lhe tirará ao mesmo tempo a força de se libertar dela? "

Goethe, Werther
Não importa a época, o ser humano é igual e intemporal. Eu já pensei isto, e já no século XVIII o pensaram e o escreveram.
A humanidade persiste no sentir, no viver que toca o que de mais fundamental temos, aí somos todos iguais. Quando sentimos somos todos muito iguais, quem assim não for, não sente.
"Que figura de parvo eu tenho na sociedade quando me falam nela! Se tu visses quando me perguntam com gravidade se eu gosto dela! Gostar! Odeio esta palavra até à morte. Que homem será aquele de quem Carlota gostar, ao qual não encha ela todos os sentidos e todo o ser. Gostar! Ultimamente alguém me perguntou se eu gostava de Ossian!..."
          Goethe, Werther

Percebo perfeitamente, mas comigo é simpatizar.

10 agosto 2011

"(...) em um elefante há dois elefantes, um que aprende o que se lhe ensina e outro que persistirá em ignorar tudo, Como sabes tu isso, Descobri que sou tal qual elefante, uma parte de mim aprende, a outra ignora o que a outra parte aprendeu, e tanto mais vai ignorando quanto mais tempo vai vivendo, Não sou capaz de te seguir nesses jogos de palavras, Não sou eu quem joga com as palavras, são elas que jogam comigo "



José Saramago, A viagem do elefante
A mim acontece-me precisamente o mesmo, há uma parte que nunca aprende, e com as duas as palavras brincam. 

[o que é que aprendeste a ignorar que aprendeste?]

08 agosto 2011

Não sei que fazes,
 não sei que fazes ou por onde fazes,
sei que não me vês, não me falas, não me sabes.
Aí com os pés enfiados na água refrescas as ideias, em que eu não estou, nem nas novas, nem nas velhas.
E ontem o teu nome na minha boca, tantas, mas tantas vezes. Depois refresco as ideias e penso, sei, que eu não estou na tua, e não sei porque não te afasto duma vez, não te tiro de dentro duma vez. De alguma maneira, não importa como.

07 agosto 2011

"As vacas têm história, tornou o comandante a perguntar, sorrindo, Esta, sim, foram doze dias e doze noites nuns montes da galiza, com frio, e chuva, e gelo, e lama, e pedras como navalhas, e mato como unhas, e breves intervalos de descanso, e mais combates e investidas, e uivos, e mugidos, a história de uma vaca que se perdeu nos campos com a sua cria de leite, e se viu rodeada de lobos durante doze dias e doze noites, e foi obrigada a defender-se e a defender o filho, uma longuíssima batalha, a agonia de viver no limiar da morte, um círculo de dentes, de goelas abertas, as arremetidas bruscas, as  cornadas que não podiam falhar, de ter de lutar por si mesma e por um animalzinho que ainda não se podia valer, e também aqueles momentos em que o vitelo procurava as tetas da mãe, e sugava lentamente, enquanto os lobos se aproximavam, de espinhaço raso e orelhas aguçadas. Subhro respirou fundo e prosseguiu, Ao fim de doze dias a vaca foi encontrada e salva, mais o vitelo, e foram levados em triunfo para a aldeia, porém o conto não vai acabar aqui, continuou por mais dois dias, ao fim dos quais, porque se tinha tornado brava, porque aprendera a defender-se, porque ninguém podia já dominá-la ou sequer aproximar-se dela, a vaca foi morta, mataram-na, não os lobos que em doze dias vencera, mas os mesmos homens que a haviam salvo, talvez o próprio dono, incapaz de compreender que, tendo aprendido a lutar, aquele antes conformado e pacífico animal não poderia parar nunca mais. "

José Saramago, A viagem do elefante
Moral da história???  hummmm??
Isto fez-me pensar e pensar, e ainda não consegui descortinar uma conclusão lógica, uma qualquer conclusão moral que me agrade, ou pelo menos, que me responda à pergunta...com uma conclusão.

06 agosto 2011

"(...) a quem talvez não vejamos mais, ou talvez sim, porque a vida ri-se das previsões e põe palavras onde imaginámos silêncios, e súbitos regressos quando pensámos que não voltaríamos a encontrar-nos."

José Saramago, A viagem do Elefante

[e que palavras vão nesse silêncio? que previsões ou regressos?]

15 julho 2011

Mas não parece que esteja a chover... e o guarda chuva está a mais...

13 julho 2011

Voltei, tinhas desligado a luz e acendido duas velas, sorri com uma luz que se acendeu em mim, e tu perguntaste:
- Gostou?
Acho que não te respondi com palavras, mas percebeste-me, de certeza, na perfeição de estarmos juntos.
As palavras são tão imperfeitas.

12 julho 2011


OK vamos lá animar isto...
 Pode ser um destes para a mesa 5? que isto reuniões a manhã toda não está com nada... Pode ser? Ok obrigadinha.

08 julho 2011


Are you talking to me??

Sim, sim, tu.
Portaste-me mal, fechaste-te outra vez na casota onde eu não caibo, e para onde foges sem eu saber porquê. Ficas sozinho a roer o teu osso e deixas-me do lado de fora de ti.
Não gosto.
Não gosto da tua resposta tonta, nem de agradecimentos daquilo que não tem agradecimento. E também não é uma dádiva, é uma inevitabilidade sem qualquer alternativa aparente. Pelo menos para mim.

07 julho 2011

Acho que já até aqui falei neste assunto, mas depois de ler isto voltei a debruçar-me sobre ele, e continuo a gostar mais de adoro-te do que de amo-te, ainda que ache que os dois não se anulam. Aliás, dependendo da situação um encaixará melhor do que o outro, se quisermos realmente traduzir em palavras o que se sente em cada momento. Porque há uma palavra para cada momento, mesmo que essa palavra seja tantas vezes o silêncio dum olhar que diz tudo o que nenhum adoro-te ou amo-te consegue dizer.
Adorar alguém tem, para mim, algo de selvagem, de irreprimível, de louco, de desenfreado, basicamente implica sempre a pimenta que vem com a paixão, é, como dizia Camões, "Um não querer mais que bem querer" é algo que ainda nos mexe com os fusíveis, que nos faz duvidar das coisas mais certas, que nos surpreende.
O amo-te é a plenitude trazida pela tranquilidade de se amar, e de se saber amado, é forrado dum sentimento consistente, mas mais meigo, mais contínuo e de menos erupções emocionalmente destravadas.
Agora, acho que é possível adorar alguém que amamos, mas parece-me difícil adorar alguém por muito tempo, sem que se tenha também de dizer inevitavelmente amo-te. Mas, para mim, uma relação completa tem de, de vez em quando, ter essa loucura incontida da paixão, de adoração pura do outro, como se às vezes olhássemos para ele como se fosse a primeira vez, como se nunca o tivéssemos visto assim, como que surpreendidos por estar ali, connosco, admirados por podermos adorá-lo enquanto o amamos.
O amo-te sem a adoração, sem a raça do gostar com ganas, parece-me sempre um amor morninho, um (a)marasmo pacifico e tranquilo, confortável, bom, muito bom, mas a quem falta um choque enérgico de vez em quando para nos acordar para a vida, para a paixão pela vida.

05 julho 2011



Some things fall apart
Some things makes you hold
Some things that you find
Are beyond your control

I love you and you're beautiful
You write your own songs
What if the right part of leaving
Turned out to be wrong

If I could kiss you now
Oh, I'd kiss you now again and again
'Til I don't know where I began
And where you end

(...)
Moby (where you end)

Ahh poizé!! Deviam pensar que não servia para nada. Enganaram-se, e olhem que não é para todas, é só para algumas. As mães não querem sempre que os filhos sejam um exemplo? Ora, eu não desiludi a minha (espero é que a minha me desiluda a mim nisto...)!!

26 junho 2011

Quando chegamos à última página dum livro, viramos uma página de vida, vida que não vivemos, mas que fica a fazer parte de nós. Sem frases, sem vírgulas, sem pontos finais, mas segue connosco de alguma forma. Seja bom ou mau o livro, aliás, eu acho que meço a qualidade pelo tempo que demoro a despedir-me dele, fecha-se o livro mas parece que continuamos a flutuar num mundo que não é nosso, que nos obriga a virarmo-nos para dentro e para nós. Este ensinou-me, ou confirmou, que o medo está dentro de nós, nunca vem do exterior. Só o eliminamos quando nos confrontamos connosco, e com o que tememos em nós, não nos outros. Eu descobri que tenho medo de me descobrir. Talvez por isso ande sucessivamente a testar limites que não sei onde ter.

O mais importante, no que diz respeito à vida por estas bandas, é o facto de as pessoas se deixarem absorver pelas coisas.
- Absorver pelas coisas? Que quer isso dizer?
- Acontece o mesmo quando estás na floresta. Tornas-te parte da floresta. Quando estás à chuva, tornas-te parte da chuva. Quando é manhã, tornas-te parte da manhã. Quando estás comigo, tornas-te parte de mim.
Haruki Murakami, Kafka à Beira Mar

16 junho 2011


Desculpa... só mais uma coisinha.. e já agora arranja-me um destes, tá? Com a cabeça a funcionar bem (bem sei que é pedir demais, mas já que se pede...)
Pode ser? Combinado.
(é certo que se cumprires eficientemente com o primeiro pedido o segundo já não terás trabalho...)

08 junho 2011


Fotografia um bocadinho psicadélica mas o significado não me parece nada psicadélico. Beijos que não descolam que nuncam deixam de ser beijos? Beijos permanentes. Só fico na dúvida se se estão a tentar despegar e não conseguem, se se querem despegar, ou não.

Eu gosto desta, apetece-me esta hoje, bem sei que não tenho esta idade, mas às vezes tenho. E gosto, gosto do que representa de carinho e ternura, de partilha de intimidade e brincadeira. Gosto, pronto. Nada a fazer!


[na verdade ainda gosto mais por causa do chapéu dele à Robin...]

Gosto.
São a minha cara, não quero cá rosas nem orquídeas finas nem coisa nenhuma. Margaridas, isso sim, frescas e não demasiado domesticadas ou com a mania, simples e sem finesses. Lindas. Para mim, claro. Além de que tenho falta disso, de margaridas...

06 junho 2011

Não gosto de fins, só de começos e meios, mas não de meios para um fim, não gosto de fins, já disse.
Gosto de princípios e de meios, por princípio.
No meio é que está a virtude, dizem. Eu digo que mantermo-nos lá é que é uma virtude.
Reconstruir os meios com os nossos meios, recomeçar sem acabar ou começar, apenas mudar, transformar.
Plantar sucessivos começos em cima dos meios já acomododados, crescidos. Quando mortos é o fim, foi.
Rumar ao objectivo, nunca ao fim. Não gosto de fins, já disse.
Objectivos são eternamente horizontes, quando pensamos que lá chegámos, erguemos o olhar e o horizonte lá está, ao fundo, à espera de nos fintar de novo.
Caminhar sempre em direcção ao horizonte, usar os meios em eternos princípios, porque o fim é evitar o fim.
O meu princípio és tu, dá-me uma mão, e com a outra afasta o horizonte que ontem vi nos teus olhos.
Fiquemos, por princípio, para sempre, a meio do fim.
Não gosto de fins, já disse.
[...há coisas que se repetem, e talvez agora faça sentido voltar, ainda não sei, sei que a Eva ainda não morreu e eu também não, embora às vezes me pareça convencer disso)