Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

23 julho 2014


"Antes de ti eu estava cheia de certezas. Plena das minhas convicções.
Antes de ti eu gostei. Mas não amei. Gostei até muito, mas não amei.

E depois de ti? Depois de ti não existe. Quando se aprende a amar não se esquece e não se troca só por um gostar. Ou por um gostar muito. Fica-se eternamente ligado."

Rita Leston 

[...sim, fica-se eternamente ligado. Ligações que não conseguimos cortar, coisas a que não sabemos dar nome, ou não queremos nomear, talvez seja difícil conjugar o verbo em voz alta e consciente. Mas deve ser isso, se não se conseguem cortar deve ser amor, o resto, o que se corta, é companhia, com sorte poderá até  chamar-se uma espécie de gostar, mas não amar.]




22 julho 2014

... hoje o dia acordou-me estranha. Fiquei uns dez minutos a olhar para a porta aberta do meu quarto, ainda dentro da cama meio coberta meio descoberta, entre o levantar e o ficar, a perder-me naquela luz da manhã e a pensar em quem não mais sairá por aquela porta, ou voltará a entrar. É uma sensação estranha, deixa-me meio desmoronada e completamente indefesa, sem forças que me levantem da cama nem vontade que me obrigue a fazer alguma coisa. Começo a tentar pensar no que tenho para fazer no dia, pensar no que vou vestir, no caminho com sol até ao trabalho, na música que acompanha a paisagem, nas coisas boas que gosto e me vão mimando um pouco. 
Penso em trabalho e dou por mim a pensar em ti, em que me fazes falta, fazem-me falta as nossas discussões, o dizeres-me que tenho o sangue muito quente ainda, que sou muito nova, que tenho de ter calma e diplomacia (diplomacia, eu??? não sei fazer isso e acho que não preciso de aprender...sou teimosa), que não se faz tudo duma vez. Sinto falta de me chatear contigo, de te dizer o que penso mas a última palavra ser tua, a decisão ser tua, e a responsabilidade partilhada, o esforço partilhado. Sempre. 
Sinto-me sozinha. Que solidão excruciante, que sensação de vulnerabilidade, fraqueza, fragilidade. Onde estou eu? onde ando que não me tenho nem me acordo? 
Sinto-me tão sozinha, nunca pensei que viesses a fazer-me tanta falta, mas fazes. Sinto falta de me sentir protegida e foste, juntamente com o meu irmão, das únicas pessoas que me protegeu (pergunto-me porquê, será que pensam que não preciso, que não quero?), mais por amor ao sangue do que por amor a mim, mas sentia-me protegida, se fizesse asneira tu amparavas e disfarçavas, protegias-me além do teu reconhecido egoísmo, mesmo que fosse depois duma discussão e entre olhares enviesados de parte a parte. Sempre me soubeste frontal e sincera, e como dizias "nariz empinado", mas protegias-me e eu agora queria isso, que me protegessem, que me amparassem, que me ajudassem a levantar, que me protegessem duma vida que não estou a saber viver e que me livrassem de mim. 

[quando vi há pouco esta foto apeteceu-me que fosse verdade, que se eu esperar aqui quietinha e bem comportada alguém vai chegar com ajuda. Posso descansar porque vai haver ajuda. alguém me vai ajudar, alguém me vai dar a mão e ajudar-me a levantar. ]

21 julho 2014

hummm. certo.... correspondido como... por correspondência?
será isso que querem dizer?
deve ser, é que até essa correspondência é dificil quanto mais outra... 
.... qual saúde, qual quê...
 o pessoal andaria todo doente e moribundo se dependesse dessa coisa do amor correspondido...



E agora deparei-me com isto, e ficava tão bem a acompanhar o post de ontem na varanda... e depois percebi que também ficaria bem no post anterior, porque o silêncio pode ser uma música: uma música em silêncio, em que só falam as almas, e falam baixinho ao ouvido do silêncio sem o perturbarem. 
Há coisas que só fazem sentido partilhar com quem amamos até à loucura. 
Aliás, há coisas que por muito que tentemos partilhar se não amarmos até à loucura não são realmente partilhadas, se calhar porque se tenta, e tentar não é espontâneo, não te sai sem saberes que sai, não te leva sem saberes que já te levou irremediavelmente, e é daí que se calhar vem a loucura: a não explicação, a ilógica do que não implica esforço é que é recompensado com essa magia. essa loucura.
Poucos loucos destes, tão poucos...


Não fui ver. Por um lado tive pena, por outro não tive nenhuma.
Tive pena porque gosto, não tive porque é uma banda especial para mim, não digo das minhas bandas preferidas porque há já demasiadas pessoas a dizê-lo, e porque não sei se será das minhas preferidas, não tenho muito dessas coisas eleitas "preferidas", tenho coisas que gosto, outras que gosto muito e outras que me tocam duma forma funda e me fazem de alguma maneira identificar de tal forma que passam a ser um bocadinho de mim. Como a música dos Portishead a partir do momento que alguém me disse - e que tanto me surpreendeu -, que eu era do género da música deles, que era a minha cara, que era o meu ritmo. E eu fui à procura, porque não conhecia, mas era verdade, e eu sorri com isso - com esse intuir-me, esse ver-me, esse saber-me antes de me conhecer -, como com tantas outras pequenas coisas, que me tocam e se tornam especiais por me tocarem, ou tocam-me porque são especiais, não sei nem me interessa... eu troco um bocado as coisas. E ontem percebi que realmente ainda bem que não fui, porque há coisas especiais que sabem a pouco, e sempre um pouco amargas, quando não são feitas como deveriam, com quem se deveriam, ou serão sempre metades amputadas de qualquer coisa, qualquer coisa de fundamental que lhes tira tanto do sentido, e do serem especiais, tornam-se banais e estragam-se. Há espectáculos que só são um espectáculo quando a companhia nos faz gozar o espectáculo em pleno, e a companhia que era para ir comigo (antes da sua agenda impenetrável o tornar impossível) por muito boa que seja, que é, e que eu adoro, ia-me deixar na mais profunda solidão quando me lembrasse daquela noite em que no chão, em frente a um prato com um mil folhas partilhado e dois copos de vinho, tentei comemorar uma coisa boa, mesmo que dessa maneira pobre, e no chão, e à luz de velas (que não são lamparinas nem coelhinhos atrevidos) e senti uma mão agarrar-me pela cintura num abraço sentado que se dançou à música dos Portishead, peito com peito, cara com cara, respiração com respiração, num abraço quente e apertado e dos mais ricos que me lembro. Para mim foi uma noite boa, feliz, não haveria maneira melhor de comemorar, que mais me tocasse do que aquela, vinda do nada e sem programação, na mais espontânea e verdadeira vontade de estar, de partilhar, de comemorar. E era esta a banda sonora. Esta que é a minha cara, e tem o meu ritmo, e que alguém foi ouvir ao lado de quem escolheu. Que não fui eu. Felizes dos que foram com quem escolheram. Se eu fosse não ficaria feliz, mas amputada. Não iria com a minha escolha para esta banda. Ainda bem que não fui. 

[e esta música é das poucas deles que consigo identificar de facto, o resto só identifico o ritmo, a languidez, a sensação quente, a lassidão que se arrasta sem pressa mas com alguma pressão, e não foi esta que foi dançada sentados no chão, disso lembro-me. Tenho pena de não me lembrar qual a música ou as músicas -penso que foram musicas, mas não sei -, estava demasiado abraçada para me lembrar da música que nos acompanhava, mais do que nós acompanhávamos a música, ou assim me pareceu... eu troco um bocado as coisas, é o que é... para compensar a minha falta de jeito em trocar de pessoas, deve ser isso...]
Hoje a noite está silenciosa, aqui fora não passam carros nem se vê ninguém na rua, e sabe-me bem - ouvir o silêncio. O céu forrou-se de nuvens, aconchegado, devia estar com frio e puxou os cobertores. Não nos deixa ver as estrelas porque tem frio, mas elas estão lá, por mais cobertores com que se cubram, há coisas que não deixam de ser. Mesmo que o céu não seja o mesmo todas as noites, mesmo que algumas estrelas se apaguem, o céu estrelado está lá. Mesmo que com medo do frio. Deixem passar o frio, as mantas sumirem-se e vão ver. Está tudo lá, o essencial está.

Coisa mais bonita
é quando a vida faz declaração de amor
e o amor faz declaração de vida.

[Yawk]
Daqui

...é, é mesmo... deve ser...
um dia, um dia...
Até lá,
Boa noite

20 julho 2014

Interrompo a leitura porque os pensamentos se me atrapalham, poiso o livro e vejo-te passar à frente dos meus olhos.  Não vi os teus porque nunca me vês, se calhar nunca me viste, como é que então eu sempre achei que te vi tão bem?
"She would never look at me the way she looked at him."
(Do filme Proposta indecente)

E ele deixou-a ir. Não a perdeu porque nunca chegou a ser dele. 

[e esta frase trouxe-me logo outra que li, há muito tempo já, mas que como tantas outras que li no mesmo sítio, não consegui esquecer nem nada se esforçaram ou fizeram para que pudesse esquecer, e que dizia qualquer coisa como "gostava de ver aquele teu olhar naquela fotografia mas a olhar para mim" e outra "ou se ama ou não se ama e ponto final". 
Quem ama e quer ser amado preocupa-se com os olhares. Quem não aceita menos do que ser amado deixa quem não o ama ir. ]

Boa noite

19 julho 2014

18 julho 2014



"Aqui, deste lado da barricada, eu amo-te sem te ver. Aqui, deste lado da barricada, eu amo-te sem te tocar. Vou-te amando porque preciso. Vou-te amando porque quero. Vou-te amando porque faz sentido. Sinto-te dispersa pelo ar. Sinto-te a dares-me vida. És tudo o que acontece à minha volta. És a certeza de um metro quadrado de paz neste caos que me rodeia. És o sorriso que me escapa nos dias cinzentos que se multiplicam. Deste lado da barricada espero-te a todas as horas. Deste lado da barricada tento arranjar forças para largar tudo e fugir até ti. Deste lado da barricada só faltas tu. Nestes dias cinzentos, neste mundo triste que me rodeia, nesta falta de amor que se mistura no ar, tu és o sorriso que me faz querer continuar. És tu. És sempre tu. "


[Às vezes parece, parece que amar-te é quase uma necessidade, como uma espécie de instinto selvagem da felicidade, as garras das ganas de viver. Ninguém sobrevive incólume a um Amor que nos faz feliz por dentro e por fora, que cria um ninho num mundo aparte. Depois disto, a sobrevivência passa a morte, e o instinto de sobrevivência é continuar a amar aquele Amor, como se fosse o sol que permite a vida, mesmo a vida mais básica e quotidiana. Sem isso é como se não houvesse nada, nem dia nem noite, nem passado nem futuro, e o presente perdido sem saber onde ir. Amando assim, volta-se àquele ninho, mesmo quando já não há um mundo aparte - o mundo que casou este amor.]
vá.... se insistires muito eu vou dar uma voltinha contigo...
de mota e de cabelos ao veeeeeeeentoooo
eu deixo-te conduzir, vá, é que eu sou uma mocinha muito séria,
 e não quero que tu me agarres para não cair... 
...agarro-me tá bem??
[ora vamos lá avacalhar isto um bocadinho, mas só um bocadinho, que temos de nos rir e o dia está feio...]
ahahahhaha
sim espanca-me lá um bocadinho se souberes como!!
(só conhecia a versão "kissed", mas pronto, modernidades... prefiro a antiga (como em tantas coisas não sou deste tempo), sem dúvida, e aí, sim, ele tem toda - todinha - a razão!!!
Bom Dia

Uma cama que não nos quer, que nos devolve a um sofá conhecido vizinho duma janela por onde entram os candeeiros da rua que fica lá fora. Uma loira numa janela, carros que passam e eu que aqui fico atrás de um cigarro a pensar-me para quê. As sombras na parede, quadrados de luz numa parede vazia. Um sofá vazio cheio de almofadas. Lugares vazios onde só se ocupava um lugar e não era falta de espaço, era espaço a mais entre vontades que se tocavam. Que se tocaram já não sei em que tempo. Tempo que agora tenho nas mãos vazias. E que não se quer esgotar de me esgotar. 
Boa noite.

17 julho 2014

Ahahahah... Muito boa!!
(E aqueles que pensam que controlam alguma coisa, 
que andam a brincar às proibições e tal,
 mas que nunca se impõem em atitudes, 
que nunca deixam de mentir aos outros e a si mesmos, 
que só conseguem ser homens numa coisa?? 
e quando deixar de haver essa nem sei que nome terão as criaturas...)
Bom dia!




"Por vezes parece que Platão tinha razão, que há quem nos suplemente de forma ideal, como se de um arquétipo de gente se tratasse. Ao contrário de Platão, ou talvez concordando com ele de uma forma que nem ele previu, esta pessoa arquetípica é alguém que não se procura, só se encontra. Platão reduziu isto à “busca de uma alma gémea”, sobresimplificando, dando-lhe um carácter de odisseia e de procura que na verdade a coisa não tem. É o próprio Platão que explica, sem querer, a verdade, na alegoria da caverna. Antes de encontrar, não sabes o que procuras. Depois de a achar, não sabes nem como viveste tanto ano antes disso, nem consegues sequer explicar a alguém o que encontraste e como é diferente. As palavras saem-te da boca mas não tens a certeza que ninguém te entenda.

Se tiveres sorte, encontrarás quem te faz sentir que voltaste a casa – a uma casa que nem sabias que tinhas. O melhor amor é feito de momentos “eureka”, e amar assim é uma sucessão de descobertas científicas, de “afinal a vida é isto e ninguém me tinha dito?”. Dás por ti a descobrir coisas em que nunca tinhas pensado, a descobrir ângulos diferentes para ver coisas que achavas que conhecias.
(...)

Penso por vezes (não o pensamos todos?) “porque dei tantas voltas para chegar onde estou?”, “porque passei tanto tempo a fazer coisas distintas destas, das que me fazem feliz?”; e depois lembro-me que Ulisses levou dez anos, depois de Tróia, a voltar a casa, a voltar a Penélope. 
(...)

As nossas vidas são, como a Odisseia, uma história sobre o voltar a casa, cheia de aventuras mais ou menos dignas, de enganos, de tentações e de tempo aparentemente perdido. E por vezes lamentamos, há quem lamente, esse tempo que se passou a fazer outras coisas – há quem ache que o destino é um lugar onde se pode chegar mais cedo, onde se pode chegar antes da hora marcada.

Mas não pode.

Provavelmente faz falta passar por uma Circe, por um voluntariado nas mãos de alguém que não é quem procuras, embora te saiba bem.

Provavelmente há que passar por uma Calypso, pela prisão, pelo ser subjugado e controlado, por te fazerem sentir impotente e sem saída, pela esquizofrenia de quem te quer mas não te ama, apenas te quer controlar.
(...)

A casa de Ulisses é Penélope, e evolui e cresce e muda, dia a dia, até ela ser a casa que ele encontra quando volta a casa, quando procurando quatro paredes encontra dois braços, melhores e mais seus do que alguma vez esperara, braços e uma mulher inteira que ele nem sabia que existia, uma mulher das que não se procuram, só se encontram.

Estava escrito."

Escrito pelo Menino para mim, só pode, é que se não foi passa a ser. 
Esta ideia de que as coisas têm de acontecer como acontecem é coisa que me diz muito, mesmo que às vezes me irrite muito o percurso, me magoe muito tudo, olho para trás e sinto que para estar onde estou tinha de estar a olhar precisamente para este passado; talvez por isso tenha sempre compreendido tanta coisa incompreensível, talvez por isso não tenha a tentação de querer mudar o passado ou arrepender-me dele, mas sim de saber que cheguei onde cheguei porque vim pelo caminho que vim. Isso dá-me talvez a noção de para onde quero ir, onde quero ir agora, mesmo que lá atrás não o tenha feito, ou tenha feito doutra maneira, ou tenha percebido que aquele não era o caminho, se não o tivesse feito não saberia. 
O passado é passado para podermos ter futuro. 
O passado é para aprender, não é para impedir o futuro que quisemos ter no passado e não tivemos, ou estaríamos noutro ponto de vida, é para pegar no ponto em que estamos e fazermos o que percebemos que já devíamos ter feito e não fizemos, ou para não fazer mais o que percebemos que não queremos.
O futuro é sempre voltar a (nossa) casa. Está escrito.

( e isto, ironicamente, estamos fartinhos de saber, demais, até à exaustão. depois lembro-me duma frase de há não muito tempo "aquele abraço fez-me sentir em casa, regressado a casa".... giro, muito giro, ser não fosse tão tragicamente ridículo eu me lembrar disso. mas sei que tem de ser para eu chegar onde vou chegar. um dia. um dia a vida encontra-me, entretanto vai acontecendo-me.) 

16 julho 2014

"Sentia-se bastante desorientado com a situação quase irremediável a que levara as suas aventuras. E, contudo, nada o teria embaraçado mais do que o triunfo."
Stendhal, in Vermelho e Negro.

E esta? Pois, quando se acha que se quer alguma coisa, sem se saber sequer bem porquê, e se anda desorientado, às vezes o pior que nos pode acontecer é conseguirmos o que supostamente queremos. Como diz o outro: "cuidado com o que desejas porque podes consegui-lo". Convém saber realmente o que se deseja, ou o triunfo torna-se na pior derrota.

15 julho 2014

Há friezas que cortam como facas e são usadas precisamente para ferir.
Realmente, anjos e demônios. E o sabor da corrente, e o vento que muda. 

Intimidad

Soñamos juntos
juntos despertamos
el tiempo hace o deshace
mientras tanto

no le importan tu sueño
ni mi sueño
somos torpes
o demasiado cautos

pensamos que no cae
esa gaviota
creemos que es eterno
este conjuro
que la batalla es nuestra
o de ninguno

juntos vivimos
sucumbimos juntos
pero esa destrucción
es una broma
un detalle una ráfaga

un vestigio
y un abrirse y cerrarse
el paraíso

ya nuestra intimidades tan inmensa
que la muerte la esconde
en su vacío

quiero que me relates
el duelo que te callas

por mi parte te ofrezco
mi última confianza

estás sola
estoy solo
pero a veces
puede la soledad
ser
una llama.

Mario Benedetti

[hoje as palavras não me saem, ou eu não quero que saiam. quero trancá-las por baixo do sonho que deixaste do lado de fora da porta que trancaste à saída. a solidão conjunta pode ser uma chama que inflama, pode, nem sabia, mas pode, só que há pessoas para quem dura um fósforo e outras para quem é o lento queimar duma vela teimosa. como a saudade. a saudade ditosa, ditadora das noites, que aumenta quando devia ir morrendo ao longo dos dias, quando a intimidade se devia ir apagando, quando a memória amarelece e o toque já não se toca, quando os cheiros nos fogem debaixo do nosso nariz, quando já ninguém ouve golfinhos antes de eu adormecer, quando já não tenho uma almofada que tem um coração dentro. O meu.]

Boa Noite, a minha varanda espera pelo meu ultimo cigarro.



Um beijo

Foste o beijo melhor da minha vida,
ou talvez o pior...Glória e tormento,
contigo à luz subi do firmamento,
contigo fui pela infernal descida!

Morreste, e o meu desejo não te olvida:
queimas-me o sangue, enches-me o pensamento,
e do teu gosto amargo me alimento,
e rolo-te na boca malferida.

Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo,
batismo e extrema-unção, naquele instante
por que, feliz, eu não morri contigo?

Sinto-me o ardor, e o crepitar te escuto,
beijo divino! e anseio delirante,
na perpétua saudade de um minuto...

Olavo Bilac

[beijo: a forma mais perfeita do silêncio falar. haverá beijos mudos? ou mentirosos? em todas as línguas se mente, talvrz também nesta haja quem sabe mentir não pronunciando uma única palavra, basta não sentir. ]

14 julho 2014


A lua a despertar atrás do telhado, a empoleirar-se numa chaminé a olhar para mim... E eu para ela...

(...)
Bastava-nos ficar. E não bastava
o mar a querer doer em cada ideia.
Já não bastava olhar. Urgente: amar.
E ficar. E fazermos uma teia.

Respirar. Respirar. Até que o mar
pudesse ser amor em maré cheia.
E bastava. Bastava respirar
a tua pele molhada de sereia.

Bastava, sim, encher o peito de ar.

Fazer amor contigo sobre a areia.

Joaquim Pessoa.


[... e hoje apetecia-me mar. apetecia-me saber a mar. ]
Isto hoje só assim... Dentro de água...
O mocinho é um bónus!!... Mas se não coubéssemos os dois ele tinha de saltar... Eheheh

Bom Dia!

Sento-me no degrau da varanda enrolada na manta que ontem me enrolou, trago um Porto de que ontem bebi mais de três copos, acendo um cigarro e penso que perdi conta aos que ontem durante toda a noite acendi. Sento-me e penso que dizem que o tempo cura tudo, que volta a pôr tudo no lugar, e eu cada vez mais acho que o tempo não cura nada, e a pôr no lugar não é nunca no lugar antigo porque o que o tempo faz é mudar tudo de lugar. O lugar antigo, depois do tempo correr por ele, corre com ele, deixa de existir, porque uma coisa não fazemos, não podemos fazer, é apagar o tempo que passou, que nos mudou e que mudou tudo de sítio. E o tempo em cima do tempo que correu é corre traz-nos sempre à tona, faz-nos sempre emergir quando nós nos queremos submergir nos dias, na vida, em que não nos somos verdadeiramente. E fá-lo à força se o queremos contrariar, quanto mais o contrariarmos maior a violência com que nos força. O que o tempo também faz é ensinar, mas não é por ensinar que todos aprendem. Tanto não aprendem que tentam voltar a lugares que o tempo apagou em nós. Não há maneira de apagar o tempo, de parar o tempo, não há maneira de negar o que o tempo trouxe, só há aprender com tudo o que fizemos e nos mudou com o tempo. O tempo não cura nada e encontra-nos sempre. Só nos surpreendemos com isso quando não queremos aprender o que ele nos ensinou. E eu aqui pergunto-me o que é que ele me ensinou. O que eu sei. Sei-te. E tu?

13 julho 2014

...realmente!!
Olha, toma e embrulha, porque na verdade é mesmo isto, 
se uma pessoa faz mas não quer, não serve, não dá. 

..hum hum
a minha deve ser daquela arte moderna que ninguém entende, só o autor e mesmo assim... por muito que explique o significado escondido, obscuro, e profundo, a reacção natural de alguém normal é cara de parvo. muito parvo mesmo.
Que é a minha todos os dias da minha vida quando penso nela, na vida.


...dispensava os balões.
...e a bicicleta, vá.
o resto queria tudo.
Bom Dia!

É engraçado estar agora aqui a ver o dia entrar com pezinhos de lã pela janela, com esta luz cinzenta que vi tantas vezes neste mesmo sofá, enroscada em alguém, ou só encostada, ou só sentada neste mesmo sítio, mas a conversar com alguém ao mesmo tempo que deixava as mãos passear pela pele, a minha ou a dele, se é que na altura não eram, para mim, uma mesma pele. E agora também aqui estou, a fumar o último cigarro ao fim de horas de filmes, e afinal dantes também eram filmes; filmes que fazia na minha cabeça com realização a cargo da alma, essa que não sei onde pára, perdeu-se da pele na pele que agora é uma só, e onde não passeiam mãos e não há conversa. Só eu e o dia a nascer ao fim de uma noite só. Só uma coisa nunca muda, continuo a ir sozinha para a cama dormir, ou tentar.
Bom dia.
III
Colada à tua boca a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada à tua boca, mas descomedida
Árdua
Construtor de ilusões examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer.
(...)

Hilda Hilst

Boa Noite, de lua sôfrega...


12 julho 2014


... Enorme, brilhante, linda! 
Não dá para ignorar,
 é obrigatório parar e registar...
Antes tudo fosse assim, lindo, parar-se e olhar como se fosse diferente para nós. 
Como se houvesse uma lua para cada um.
E esta é minha.
ahhhhhh.... ronha abençoada!!
a ronha é sempre uma coisa boa, 
mas uma ronha com a pessoa certa é uma coisa abensonhada* de boa.... 
falta-me essa, e quero.
Bom Dia


*palavra bem criada por Mia Couto.


“Que o espelho reflicta em meu rosto um doce sorriso 
E que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada
 porque metade de mim é o que penso 
mas a outra metade é vulcão.” 

Oswaldo Montenegro

[...há que arrefecer...]
Boa Noite

11 julho 2014

Ahahaha 
Ora porra e não é que é verdade?...
Adão, filho, onde andas? 
Vamos fazer a coisa como deve ser, anda cá!! 
Paraíso, me "aguardjee"

Só uma coisa destas para me fazer rir hoje... Inventam cada uma!!

outra cama
outra mulher
mais cortinas
outro banheiro
outra cozinha

outros olhos
outro cabelo
outros
pés e dedos.

todos à procura.
a busca eterna.

você fica na cama
ela se veste para o trabalho
e você se pergunta o que aconteceu
à última
e à outra antes dela…

é tudo tão confortável —
esse fazer amor
esse dormir juntos
a suave delicadeza…

após ela sair você se levanta e usa
o banheiro dela,
é tudo tão intimidante e estranho.
você retorna para a cama e
dorme mais uma hora.

quando você vai embora é com tristeza
mas você a verá novamente
quer funcione, quer não.
(...)


Charles Bukowski

10 julho 2014

...pois.
efeitos colaterais.
Antes sarcástica que má, maquiavélica e manipuladora,
 mas há quem goste desse género.
Enfim cada um com a sua.

"Tenho medo de viajar (...) Não de andar de avião ou de qualquer outro meio de transporte, mas de encontrar o que não conheço, ou, pior, o que deixou de ser o que era e se modificou.",
Pedro Paixão, "A Cidade Depois"


Olha eu não, e cada vez menos... 
quero viajar da minha vida, sair, encontrar o que não conheço, 
modificar o que conheço e não quero mais conhecer... 
enfim tirar férias de mim e desta vida estranha que me vive.
... Bolas que está enorme e brilhante.
Boa noite para banho de luar num qualquer chão duma qualquer sala que não provoque medo. 
Vou acabar o meu cigarro debaixo desta lua, sem medos. Afinal às vezes o medo é só um hábito.
Boa noite.

"(...) também tenho saudades tuas. estás bem? "
 e pronto, bastou isto. 

às vezes parece que o peso duma pena faz desabar uma falésia.
disseram-me de ferro, mas a parecer frágil
e eu sou só o que pareço

09 julho 2014



"é sempre
uma história de amor:

a árvore
que se afeiçoa ao pássaro

o sol
que se liga à água

os olhos
que se prendem ao mar"


gil t. sousa

[os fins de dia, o cair do entardecer no horizonte, o peso do dia (ou da noite?) a descer aos ombros, o olhar dos nossos olhos a poisar de novo em nós, a alma que alua antes da lua.
coisas que combinam com este poema, coisas que este poema me traz devagarinho, arrancando dos dedos as palavras que estas linhas me traçam, em que me emaranham os sentidos que sentem além dos sentidos... 
simplicidade no sentir o que se vê,
simplicidade no ver o que se sente. 
claramente.
de olhos fechados, como de olhos abertos
como a cor alaranjada do calor que se sente mas nem sempre se vê. ]

" (...) amo-te companheira e amo-te puta, conselheira e estrela porno, amiga e confidente e conjurada, enquanto te olho nos olhos e se me abre um sorriso de querer ser velho contigo, mas logo quando te viras só quero é apalpar-te o cu."
Só mesmo Menino para dizer isto, e dizê-lo assim.

Aliás, andamos a roubar coisas ao moço desde sei lá que tempos (desde que lhe descobri o blog e acho que foi logo ao inicio), aqui o tasco começa a ser apenas uma sucursal daquela morada... mas que fazer? há coisas que ele diz que eu gosto de ler, e que gostava de ouvir... e o que uma pessoa gostava de ouvir também a define, tanto como aquilo que diz ou -  mais ainda - que gostava de dizer, e tantas vezes tem de calar. Por isso tantas vezes nos definimos tanto pelos sonhos que temos, que desejamos como pelo que fazemos nos dias que nos fazem a vida, querer uma coisa é ser um pouco essa coisa. Eu devo gostar que quando me viro alguém (aquele determinado e certo, tão cert, alguém) tenha vontade de me apalpar o cú. Mas que isso seja também uma faceta de querer envelhecer comigo, e já agora com o meu cú...
......Xxiiiiiiiiiii
parece que estamos no meio da selva....
só falta mesmo o Tarzannnnn!!!

(as coisas que eu me lembro, a sério, eu não tenho remédio, só sai parvoeira...)

"(...)There are several kinds of love. One is a selfish, mean, grasping, egotistical thing which uses love for self-importance. This is the ugly and crippling kind. The other is an outpouring of everything good in you — of kindness and consideration and respect — not only the social respect of manners but the greater respect which is recognition of another person as unique and valuable. The first kind can make you sick and small and weak but the second can release in you strength, and courage and goodness and even wisdom you didn’t know you had.(...)
And don’t worry about losing. If it is right, it happens — The main thing is not to hurry. Nothing good gets away."

Carta de John Steinbeck ao filho que se apaixonou...
...se valer a pena não foge. 
É, deve ser isso.
O Steinbeck deve saber do que fala.

"nunca gostei do anel que marido e mulher usam. porque tem pouco de pessoal, tem pouco de história, de amor. porque tem muito mais de posse, de padrão, de obrigação: porque todos usam no mesmo dedo, no mesmo formato, e para todos, significa o mesmo. e eu não gosto de coisas padrão. por isso prefiro, muito mais, todos os anéis, fios, pulseiras que tem uma história própria, um significado seu. que são usados não porque sim, mas porque apetece naquele dia, naquela hora. não porque estão sempre lá - mas porque estão sempre a ser lembrados de se porem lá. bonito quando alguém usa um fio porque acordou a pensar no que ele significa. bonito quando alguém usa uma pulseira apenas porque lhe apetece beijá-la no pulso durante o dia. porque ai sabemos que estamos ali, não por hábito, mas por uma vontade idiota, quase infantil -mas pura-, de estar junto.(...)"

É por isso que eu gosto de objectos com alma, com a alma que lhes damos quando lhes atribuímos um significado, uma memória, um cheiro do que se sentiu e se repete cada vez que esse objecto nos toca, o pomos ou o tiramos, ou passa pelo nosso olhar. Até pode ser só uma música, um cd, qualquer coisa, até pode ser um nome que se põe a um filho, que não tem nome de moda mas tem um nome que tem história própria, de raízes e de sangue, e duma alma que se quer dar. Gosto das coisas com significado próprio, um significado que só existe num mundo restrito e nosso, como um código mudo feito de memórias e gostares e de querer recordar o quanto se gosta em coisas pequenas; em quanto se revive e se ama e se sorri por uma música que traz atrás uma conversa, uma imagem, um sentir. E sempre um sorriso revivido no presente, mesmo que tantas vezes entre lágrimas salgadas. Uns óculos oferecidos porque andam sempre pendurados perto de quem queríamos sempre perto, para nos lembrarem, ainda que saibamos que só nós nos lembramos. Só nós nos lembramos porque os demos, o gosto que a ideia nos deu, o porquê da ideia e o que pensávamos que poderia provocar de sorrisos, que se queriam partilhados ainda que na distância. A alma está no entender das pequenas coisas, coisas nossas, vedadas aos olhos de quem só vê a superficie, como um segredo bem guardado por dentro do calor do outro que se sente no mais frio dos dias, está no saber que objectos nos andam sempre pendurados para lembrar sentimentos que não se despenduram nem nos largam, que queremos que não larguem.
No fundo porque queremos ser lembrados, para nos lembrarmos - logo depois , e entendermos - que quem quer ser lembrado é porque não o é.
Eu não quero voltar a usar aliança, aliás cada vez mais estranho vê-las, desenvolvi uma relação muito estranha a vê-las a assimilá-las. São exibidas com gáudio mas raramente são sentidas, muito menos sentidas com ganas, com ganas de sentir alguma coisa, mesmo que nunca se tirem. Coisas sem alma nenhuma e cheias de fantasmas que nos desabitam, tantas vezes.
É engraçado como eu, que tendencialmente não gosto de coisas repetidas, me apego tanto e tão facilmente a rituais. E digo rituais e não hábitos, porque hábitos são repetições quase inconscientes, fazem-se quase sem fazer, e tantas vezes sem pensar. Os rituais são coisas que nos dá prazer repetir, e se calhar às vezes fazer exactamente da mesma maneira, mas fazem-se conscientemente pelo prazer que sabemos que nos dão. Como este. O de fumar o último cigarro à varanda, agora que o tempo -mesmo estando fresquinho a esta hora, que está- é mais convidativo a isso, e com isso pôr-me aqui a escrever o que a minha cabeça vai dizendo. É o meu bocadinho de mim que me deixo ter, em que dou largas a mim, e me vejo pensar. E me deixo sentir. E é isso, gosto de rituais, e vejo que me fazem falta alguns. Não era hábito, era prazer consciente de que o é. No fundo o prazer nunca se repete, renova-se. Por isso não cansa.
"-Não tens razão. Toda a gente pode ser amada.
- Poder, pode, mas não quer dizer que seja.
-Porque diabos achas que enfiaram seis biliões de pessoas no mundo, se não foi para isso???
-..... para eu andar entretida? hummm?"


"A única razão porque preciso de ti é que tenho este vazio no peito, que fui escavando, que tem precisamente a tua forma, e só tu lá encaixas. E se acaso saísses, ficava um buraco, o que era coisa para me incomodar."

Do Menino

A coisa mais deliciosamente linda que ouvi nos últimos dias... acerca de amar ser não precisar, e do medo de não precisarem de mim. Eu tenho tantos medos. Não precisarem de mim é um bilhete de ida para longe de mim, e o longe de mim não é para fora de mim. Talvez por isso a falsa segurança que dá precisarem de nós, porque nunca se precisa de ninguém para sempre, mas pode-se amar para sempre. Eu é que acho que não a mim.
...parece-me bem.
Isto sim era um belo serão...
ou melhor, pronto.
e apetecia-me.
muito.

08 julho 2014

Amén.
Assim seja.
Assim o espero.
Estava até capaz de acender uma velinha...
... mas tenho medo que se apague...


"O amor pode matar, pode levar à implosão dos amantes, à sua transformação em algo mais, numa amálgama de corpos em que já nem um nem outro se reconhece, da qual se acabam por afastar ambos, desiludidos por deixar de ver o corpo amado, por deixar de se ver a si mesmos. O amor não é uma colisão mas uma órbita, um bailado, uma sucessão de movimentos de dois corpos em torno de um ponto invisível que lhes serve de fulcro, em movimento permanente. Achar este ponto é difícil; mas talvez a solução seja não o procurar – seja cada um dos astros seguir o seu caminho próprio, nem que pareça afastá-lo do outro, e deixar que o amor, como a gravidade, os puxe na direcção um do outro e os mantenha juntos à medida que fazem o seu caminho. Sabendo que se podem afastar irremediavelmente; procurando até aproximar-se deliberadamente quando isso for necessário; mas sabendo que não ter destino que não seja o outro é uma rota para uma colisão inevitável, inexorável, e fatal. O universo é um lugar cruel, mas é o único que temos."

Do Menino.

[O amor é uma órbita sim, dois corpos que brincam e se atraem mutuamente, que se deliciam do outro, pelo outro, com o outro, numa força invisível que não sabem explicar, de gravidade sustida em leveza, à volta do que os une aos dois - esse centro de órbita, não é um ou o outro, é que são os dois -, é o que são os dois juntos que é o Amor, e é à volta dele que a vida se vai dando a bailar.  Só à volta dele a vida se baila sem saber de música ou de passos, é apenas a harmonia do estar, do saber estar a dois na vida de cada um. Só se afastam realmente quando saem de órbita, e então é porque já não há nós, já não há aquela força invisível que os mantém juntos.]

Mario Benedetti

[... Contra o maldito desamparo. Este. O meu. 
A chave que não abre porta nenhuma mas que é a negação do fim.]

E aqui estou eu no meu sofá debaixo das estrelas que não vejo, mas sei que estão lá mesmo quando não as vejo, a olhar para a lua que está baixa e corada... Muito corada, alaranjada. Dizem que vai começar o calor, os dias bons, e eu aqui que só acabo, só me acabam tudo, só me acabam, e aqui me sento: acabada. Acabada com frio debaixo duma manta quente. Fumo um cigarro, mais um e pondero deixar-me dormir ao relento. Ao relento dos pensamentos sentidos. Pode ser que acorde corada, ou acabada na mesma. Sei lá. Aqui não se começa nada, só se acaba. É estranho em cada fim há sempre um começo de qualquer coisa, onde está? Onde anda? É como as estrelas que me vigiam mas eu não vejo? A lua quase a esconder-se agora por trás dos edifícios, quase vermelha. Será raiva? Ou está farta de sumir no horizonte, sem darem por ela?


- Porque paraste?
- Porque não te sinto aqui como tinhas de estar aqui.
- Tens de estar todo para ser o amor. Caso contrário é só prazer.
Caso contrário é só prazer: aqui está uma boa definição de amor.

Pedro Chagas Freitas

[ é uma boa definição. verdade que é. pelo menos é uma das minhas definições. verdade que é.]
"Suicídio é que nem uma mulher bonita num bar. Você olha ela e algo dentro de você cresce e diz 'eu preciso dessa mulher pra mim'. Aí você pede um whiskey e começa a pensar no que falar pra ela. Eu pergunto o nome dela? Ou eu chego me apresentando? Eu pergunto o que ela gosta de fazer ou tento encantar ela com as coisas que eu gosto? Você vai ficando nervoso, pede mais uma bebida e se questiona: por que eu quero essa mulher tanto? Mas você não consegue responder. É algo maior que você. Quando você finalmente toma coragem e se levanta, o caminho entre o balcão e ela parece uma eternidade. Você chega perto dela e trava. Fica com medo. Você desiste e volta pra casa agoniado por não ter conseguido falar com aquela mulher. Chega em casa e se masturba pensando naquela mulher. Você não consegue entender o conflito entre existir algo dentro de você dizendo que você quer; e, quando você tenta fazer, outra coisa dentro de você diz que não é pra fazer. Suicídio é que nem uma mulher bonita num bar."

***

"Sentado ali, bebendo, considerei a opção de suicídio, mas me senti estranhamente apaixonado pelo meu corpo, pela minha vida. Apesar das cicatrizes que marcavam meu corpo e minha existência, ambos eram propriedades minhas."

Charles Bukowski

[já tenho tanta cicatriz propriedade minha, que já nem dá para contar... nem vale a pena começar, mas são o que sou, o que me tornei, o que hoje me define em boa parte, provavelmente, e sim há coisas que parecem suicídio. cada vez mais parecem, e cada vez me lembro mais disso. e eu não penso ser suicida mas agradecia tanto não ver o dia de amanhã nem todos os seguintes. agradecia. tanto.]

07 julho 2014

hum hum...
...a lixar-me com "F" grande há muitos anos e das mais variadas e criativas maneiras... 
sim senhor!!


"Ainda em desamor, tempo de amor será.
Seu tempo e contratempo.
Nascendo espesso como um arvoredo
E como tudo que nasce, morrendo
À medida que o tempo nos desgasta.
Amor, o que renasce."

Hilda Hilst

06 julho 2014

"-Tinha-o previsto - dizia ele, com amargor - o seu amor eclipsa-se ante a felicidade de receber um rei em sua casa. Este alvoroço fascina-a. Amar-me-á outra vez quando os preconceitos da sua casta já não lhe perturbarem o espírito.
Coisa para admirar: isto fez com que o seu amor por ela aumentasse."

Stendhal, in Vermelho e Negro

[Brilhante. ]

05 julho 2014

E aqui ao meu lado resolvem-se problemas de matemática. Eu olho, e ponho-me a pensar que estou com inveja, inveja ou o que queiram chamar, talvez saudade de saber resolver, de haver respostas lógicas e lúcidas num mundo onde as regras são provadas e demonstradas, onde as dúvidas e problemas se resolvem por a+b, e que a resposta é resposta e conclusão. Estou aqui e tenho saudades de mim, da altura em que me sabia e me concluía em respostas que eram eu. Não me duvidava, entendia que me sabia. E era bom. A matemática é um mundo em que me sinto segura, porque mesmo quando não a sei, sei que há resposta certa, é só estudar e chegar lá. A vida não é segura e precisa de respostas, mas como saber a resposta certa, como reconhecer a resposta certa, se não há regras nem lógica? Sinto-me perdida hoje e desconsolada, carente, a precisar de mimo e duma regra qualquer que seja amar-me, sentir-me desejada daquela forma completa de corpo e alma, onde os olhares mergulham na alma do outro e nos encontramos lá, perfeitos nesse mundo a dois, dos dois; onde a pele se encontra, se toca sem medo, e se reconhece e se sente feliz. Sinto-me assim, com saudades do mundo fazer sentido, não deixando de ser sentido. Apetece-me estudar matemática.

"no teu abraço calcula-se o limite do perigo,
definiste em mim o imediato, se é mais lento do que agora já demora demais, ouviste?,
acordei com uma tristeza distante hoje, falta-me sempre qualquer coisa enquanto não vens,
preciso dos teus olhos abertos para a coragem de abrir os meus,
perguntas-me o que tenho,
tudo,
mas há qualquer coisa estranha em mim, a esperança de repente tão longe,
de quantas cores somos feitos afinal?"

Pedro Chagas Freitas

Daqui.

[...o limite do perigo e o tempo sem limite -o abraço-, como uma espécie de eternidade a prestações que se teima em prestar congelada em instantes, como uma felicidade a conta gotas por tanto se contrariar.
O limite é sempre o medo que encarna a alma.
O verdadeiro perigo é contrariar o resultado do tempo, é não querer ver, é amordaçar a felicidade, de cada vez e de todas as vezes, sem limites. 
...À espera que o Amor se silencie.]

Boa Noite


......alternativa às palmadinhas.
prefiro....


04 julho 2014

....pois não, só queria que me consertassem.
Há poucos dias atrás alguém dizia que me ia consertar, 
que ia ser uma trabalheira, mas que se fazia com gosto. 
Queria a Eva de volta só, só, para ele...



... hum hum
( e eu nem gosto muito de palmadinhas no traseiro, mas gosto - e muito - deste espírito, 
e definitivamente dum cavalheiro deste género... um cavalheiro que me deseje e o mostre. 
Não importa onde, embora importe como. 
Não se pode pedir mais, né?)

Bom Dia!!

03 julho 2014


“Expose Yourself to your Deepest Fear…
After that, Fear has no Power.
And the Fear of Freedom Shrinks and Vanishes.
You are Free…”

Jim Morrison
...precisa-se quem dê colo, 
quem agarre com mãos ávidas,
quem toque com suave ternura,
quem beije com vontade de engolir,
quem me sinta sentindo-se.
quem me mate as dúvidas com a certeza de eu ser o lugar que não se quer deixar.
O melhor sítio do mundo é aquele donde não se quer sair.
o meu é no colo onde mora um nós que não chegou a nascer.

ahahahhahahahah...
é isto!!
( e com sorte, senão é sem resposta mesmo... eu quero um Romeuuuuuuu....)



 "Há garrafas que dão à nossa praia e não conseguimos evitar abri-las."

[uma pequenina nota do Menino, que diz tudo - para mim diz tudo. 
E acrescento que depois de abertas, depois de ver,
por muito que se fechem, os olhos nunca mais conseguem voltar a ser cegos.]

Bom Dia!!
...abre os braços, fecha-me num abraço e voamo-nos...
É fácil de tão natural.
Difícil é não voar e esquecer esses abraços que voam.
se calhar impossível... naturalmente.
Contrariar as asas que nos demos faz-nos sobreviver contrariados (ou tentar),
o instinto é viver, o instinto natural é voar quando sentimos asas.
há abraços que sentimos como nossa casa
dão-nos asas sem sair do sítio.
qualquer sítio,
não qualquer abraço.

Boa Noite

02 julho 2014

sol na pele.
o som do mar.
o descanso com paz.
 um nós que se sinta por dentro.
apetecia-me.

Bom Dia