Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

10 maio 2012

Não vou desejar-te que sejas feliz longe, não vou desejar que sejas feliz com outra pessoa.
Não consigo ser tão hipócrita, não quero.
Não vou dizer-te que quero os teus lábios noutra boca, não vou dizer-te que quero a tua pele noutra pele, não vou dizer-te que quero o teu olhar noutros olhos. Não vou, porque não é verdade, porque também não o quero para mim. Quero-te a ti e acho que tu não existes, vejo-te e sinto-te onde não estás. Como sinto os beijos que me deste e que já não me dás. 

08 maio 2012


Devia ir dormir, já devia ter ido, hoje dói-me o corpo, nem sei bem porquê, parece que peso mais do que o peso que tenho, que para andar direita preciso de mais força, não sei, sei que já devia estar na cama, mas vou-me arrastando por aqui, hoje, ontem e tantas vezes, acho que para preencher o tempo, como se dormindo não o preenchesse melhor, mas a esta hora parece-me sempre que não, porque esta hora, como o final da tarde, é sempre pior, dói sempre mais um bocadinho, e se me perguntarem não sei porquê, mas sei que é assim. Ontem, depois de muito enrolar tempo em tempo fui ao mail, ao mail onde tenho guardada a história que não chegou a ser nossa, mas que sinto ainda tão minha, ainda me corre no sangue, e conforme ia desligar sem querer abri um dos mails, e era uma conversa nossa, daquelas intermináveis, que dava para tudo, para rir até doer a barriga, para namorar, para discutir fotografias, para disparatar, para falar de tudo e tantas vezes de nada, mas um nada que era nosso, que nós gostávamos, ou eu gostava, o resto não sei. E essa conversa que acabava perto das seis da manhã, depois de termos rido à gargalhada e percorrido à distância toda a pele que cobria o outro, conversámos como se o futuro fosse amanhã, fosse já ali ao virar da esquina, como  se houvesse futuro afinal, como se outra coisa não pudesse haver, e como seria, o que gostávamos de fazer, o que gostávamos que fossem os nossos pequenos bocadinhos, os jantares sozinhos sempre que desse ao fim de semana ou à semana, o passear a pé, o ir para qualquer lado, cada um munido do seu livro, e ler e namorar nos entretantos, e enroscarmo-nos, o não querermos sair muito à noite e preferirmos ficar em casa à noite enrolados em nós e num filme, ou só com uma garrafa de vinho a meias, a lareira e nós, ou a lua no verão a entrar-nos pela janela aberta. Os jantares na varanda, ou as refeições na cama de que se púdessemos não sairíamos, e na ronha nos deixássemos ficar até fartar, ou até nos fartar a fome. Não sei, sei que dou por mim a ler estas coisas e a não perceber o que não percebi, onde me perdi porque me encontrei, onde fiquei que na curva perdeste-me o futuro, e não chegámos a amanhã, e eu fiquei-me em ontem. Em ontem não, que não me queres saber há tempo, já sei, mas parece-me ontem, há bocado, ou ainda agora. Não há futuro, mas parece que também não há tempo, não o sinto passar e aqui estou eu a enrolar-me nele para ele se ir enovelando e amontoando, mas nunca mais chega amanhã, o meu amanhã.
Até amanhã.

06 maio 2012

Morreste-me.
Eu sabia que tu ias ajudar.
[não, não é que o meu amor tenha acabado, porque o amor sobrevive-te ainda. Não é que vá deixar de escrever o que escrevia até agora, não sei se será diferente, se será igual, o que me for sair pelos dedos, mas tu é que já não existes, tu enquanto minha pessoa. Ficou-me o sentimento por uma pessoa que eu pensava que eras, que te estava dentro e que querias ser, ainda que não meu, diferente do que sempre te deixaste ser, e que não faria certas coisas, não outra vez, que não me desiludiria uma vez mais com as suas estúpidas incoerências e desconsiderações.
O amor preenche-me ainda.
Tu não.
Tu não existes.
Ainda bem, facilita.]

05 maio 2012

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

Alexandre O'Neill

[li isto e fez-me lembrar o que me acontece ainda, de vir-me o teu nome à boca, de eu não o deixar sair, não deixo que o som te deixe levar, prendo-o por dentro, cerro os lábios, ficas-me dentro da boca, onde guardo os nossos  beijos, na esperança de um dia conseguir engolir tudo e o teu nome deixar de me vir parar à boca sem o chamar, à cabeça, ao corpo, à pele, sempre vindo de dentro, nunca o consigo parar. Não consigo travar as palavras, as imagens, os sons, os cheiros antes de os ver ouvir, sentir, estão-me dentro e assaltam-me. Não é justo, é cruel. Tenho de calar-te primeiro em mim. Pareço impermeável, ninguém entra e ninguém sai.  E devia ser ao contrário devia deixar-te sair, expulsar-te, e convidar alguém a entrar, ou gozar só o teu espaço vazio sem saudade, sem frio]

04 maio 2012



Lido no Fogo Posto, Mia Couto pela mão desta menina , menina esta que qualquer dia tem de ter quota aqui no estaminé, tais são os roubos descarados aos seus escritos... mas tem uma maneira muito particular de me pôr a pensar...e quando há um lugar em nós que é amarmos alguém? 

03 maio 2012


Esta coisa de saber que nem de me saber queres, sabe-me mal.
Sabe-me muito mal, mas nem disso queres saber.

02 maio 2012

Sem desculpas.
Não há que esperar a melhor altura, ou melhores condições, ou o que for,
quando se quer faz-se, com o que se tem, faz-se o que se pode daquilo que se quer.
Humm...pois...
Quer dizer que por lá vou encontrar muita gente...

Beijo os teus seios
e a tarde comove-se como se tocassem sinos.
Levanto a tua cabeça entre os meus dedos
e abro contra o dia os teus cabelos,
e logo as aves do silêncio levantam voo
e dançam loucas em volta dos teus olhos,
e a tua boca aperta-se,
morde
a minha boca
enquanto as minhas mãos vão procurando
nenhum deus à flor da tua pele
por esse caminho branco onde agonizam éguas
vestidas de primavera.
Joaquim Pessoa

01 maio 2012

Estava para acabar o blog ontem, porque nasceu numa altura em que a vida se me baralhou no coração, ou talvez o coração me tenha baralhado a vida, e quando me falta o chão preciso de escrever, de traçar um caminho de letras que me sirva de mapa para fora de mim. Passado pouco tempo percebi que estavas definitivamente em mim, e passou a servir para falar-me de ti, ou contigo sem ti, depois passou a ser uma comunicação à distância com o pano de fundo do silêncio, que tantas vezes me ensurdeceu, e depois, depois não sei, foi uma espécie de diálogo sob um véu com que me cobria.
Agora não sei.
Sei que falo sozinha ainda e sempre, contigo e sem ti.
Como quando me disseste que eu passava noites a escrever sem ti contigo, ou contigo sem ti.
Aqui, só eu e a Lua,
a romper-me pela janela
a corromper-me a pele de luar
a interromper-me o ar fechado

Esta tua Lua
Rompe-me as memórias,
corrompe-me a alma,
interrompe-me a tua ausência.

Aqui onde estou sentada,
Só ela e  eu,
de alma rota
por ti corrompida
na respiração interrompida
de quando aqui,

só eu, tu e a Lua.

Boa noite
[agora posso dizer tudo o que tu não vês]

30 abril 2012


O mapa do meu coração tem sítios a que não quero voltar. Ontem transportou-me a um desses sítios, tirei o pin que o marcava, arranquei uma parte dum sonho, enterrei vontades a que quero perder o rasto. Não quero peregrinações a lugares onde não posso estar, onde não caibo, onde não posso viver, nem de visita. Há muito que o dia de ontem estava marcado como uma porta, em que se passa ou se fecha. Nnguém bateu a essa porta, ninguém entrou. Nem de visita.

28 abril 2012

Por longe que estejas: posso ainda te ver,
Por longe que estejas: tu permanecerás
Qual presença que não pode empalidecer,
Qual paisagem, a mim sempre contornarás.
Se tuas margens eu jamais tivesse tocado,


Mesmo assim saberia tua imensidão:
Ondas de meus sonhos me teriam levado
À beira de tua infindável solidão 


Rainier Maria Rilke
Estou farta.
Mesmo.
Cansada. Não vejo futuro. Acho que estou nesta fase da vida há demasiado tempo em que não consigo ver o futuro à minha frente, porque não tem luz, está tudo numa escuridão fechada. Não sei o que ela encerra, e não tenho qualquer vontade de saber. 
Os hoje são desprovidos de amanhãs. 
Viver assim, não é bem viver, é morrer a cada amanhã que nos parece faltar, a vontade que nos parece faltar hoje para tudo e não queremos repetir amanhã, não queremos que ele chegue a chegar...
E quando pensamos que só nós somos atingidas por este marasmo, esta tristeza estranha, dá-nos vontade de virar a mesa, de usar um sorriso postiço, um homem postiço, uma vida postiça e uma raiva muito genuína disfarçada em tanto postiço. 
Até a vingança genuína será postiça. 
Mas sentir-se-á na pele.
Frase da noite:
"O Amor é cego mas a amizade não."
(portanto oiçam os amigos quando estão estupidificados de Amor).
Outra frase que ouvi e não repliquei porque não me apetecia sair do meu mundo foi:
"se o meu sonho fosse casar e ter filhos nunca poderia estar com este homem, teria de estar com outro"
Eu percebo a ideia, mas não concordo. Porque a razão para se estar com alguém não é medido em alíneas de satisfação, de objectivos definidos, como uma check list com resultado percentual. Gosta-se ou não se gosta, e gostar é que é a razão para escolher quem se tem ao lado. Claro que os objectivos de vida pesam, e muito, claro que os projectos comuns ajudam, ou podem complicar muito, caso não sejam coincidentes, mas ou se gosta ou não se gosta, o resto é contexto. Temos de trabalhá-lo. Porque não há sonho maior para a vida do que o Amor ( com "a" maíusculo), os outros ao pé dele são mais terrenos, menos mágicos e podem ser trabalhados, acordados, resolvidos, o que não há é amar mais ou menos, amar assim assim. Ou se ama, ou não se ama.
(e são estas coisas em que me ponho a pensar quando oiço algumas frases e fico calada como se mergulhasse para dentro de mim, eu não percebo porque sou assim, eu acho que estou certa, mas estaria de certeza muito melhor se pensasse doutra maneira, se tivesse uma check list meia aprovada, ou assim. E não soubesse que isso não é nada, que listas é para o supermercado e pouco mais. Agora vou ali só descabelar-me um bocadinho mais...)

27 abril 2012

(...)
-O campeonato é internacional?
- Não sei, é europeu ou mundial.
-Então deve ser internacional, não??

(quase tão boa como uma que me disseram uma vez: "amanhã vai estar sol durante o dia", ao que respondi, "pelo menos durante o dia... porque à noite é que era!!!")
Está quase!!!
E não fosse a minha malfadada conta bancária a chatear-me, e a pôr-me dilemas como ou ir jantar, ou ir para a noite, ou pintar o cabelo (porque estou farta de mim e apetece-me mudar), e eu poderia experimentar este ar descansado e prazenteiro...
Acho que vou prescindir do jantar... e vou levar mesmo a minha cabeleira para a noite, para quem não a conhecer é como nova!!
I don't (I didn´t), but I could... And then WHAT???
Gostei da ideia.
Fotografar gente de livro em punho entretido a ler... por aí...
A mim seria tão fácil apanharem-me, se o dia for de sol e de não trabalhar... As nossas esplanadas são tão boas, as varandas, os bancos de jardim, eu sei lá... e os livros, os livros também!!
Are you flirting with me???? Hummmm??? I'm a tutu man, behave yourself!!

Quem disser que as loucuras que se fazem por Amor têm limites nunca amou.
Não há fronteira que não se salte, nem problema que não se assalte de peito aberto para fazer o outro bem, estar bem, a sorrir. A história aqui ou aqui.  
Há projectos que valem a pena, e amores que valem tudo.
De manhã, atrasada como sempre, como sempre a correr, paro o carro mal parado, em cima do passeio. Dou a volta ao carro para tirar o meu rebento, abro-lhe a porta, e enquanto a ajudo a sair do carro, um outro pai, pára à nossa espera no passeio.. sorri e diz-me, sem que me dê temnpo para lhe pedir desculpa por impedir a passagem, "não se preocupe eu não estou com pressa." Agradeci e despachei o mais que pude, sai a míuda do carro e diz ele..."ahhh que gira, esta miuda é mesmo gira" e eu respondo "gira, e sempre atrasada!!", depois, a olhar para mim, e com aquele sorriso malandro/sacana que só os homens conseguem ter, diz-me "não sei a quem sairá assim tão gira, não sei não..." Finalmente fecho o carro, pego na miuda e digo-lhe, vá diz adeus ao senhor..."Adeus".
E pronto, foi assim que comecei o dia, podia ser pior, mas o outro pai podia ser assim qualquer coisa que se aproveitasse olhar, ou qualquer coisa, mas não, nadita, não tenho sorte nenhuma, ficou o piropo...e eu ligeiramente corada...eheheh
[às vezes é bom ouvir estas coisas, é bom para começar o dia]


Respiro o teu corpo:
... sabe a lua-de-água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca.

Eugénio de Andrade

[espectacular...tropecei nele há bocadinho mesmo, ando numa fase de poesia, está visto...]

E agora vou-me fazer de inesquecível em sonhos (em sonhos pode ser que funcione),
que acabaram-se-me os cigarros... e assim não pode ser...
Ahahahahah...aqui a ver fotos e afins e deparei-me com esta!!!
(linha com piada para os meninos...)

26 abril 2012



A chair is still a chair, even when there's no one sittin' there

But a chair is not a house and a house is not a home
When there's no one there to hold you tight
And no one there you can kiss goodnight

A room is a still a room, even when there's nothin' there but gloom

But a room is not a house and a house is not a home
When the two of us are far apart
And one of us has a broken heart


Now and then I call your name
And suddenly your face appears
But it's just a crazy game
When it ends, it ends in tears


Pretty little darling, have a heart, don't let one mistake keep us apart
I'm not meant to live alone, turn this house into a home
When I climb the stairs and turn the key
Oh, please be there, sayin' that you're still in love with me, yeah...


I'm not meant to live alone, turn this house into a home
When I climb the stairs and turn the key
Oh, please be there, still in love


I said still in love
Still in love with you...yeah...


Are you gonna be in love with me
I want you and need to be, yeah
Still in love with me
Say you're gonna be in love with me
It's drivin' me crazy to think that my baby

(...)

25 abril 2012

Boa noite.

Que boca há de roer o tempo? Que rosto
Há de chegar depois do meu? Quantas vezes
O tule do meu sopro há de pousar
Sobre a brancura fremente do teu dorso?

Atravessaremos juntos as grandes espirais
A artéria estendida do silêncio, o vão
O patamar do tempo?

Quantas vezezs dirás: vida, vésper, magna-marinha
E quantas vezes direi: és meu. E as distendidas
Tardes, as largas luas, as madrugadas agônicas
Sem poder tocar-te. Quantas vezes, amor

Uma nova vertente há de nascer em ti
E quantas vezes em mim há de morrer.

Hilda Hilst


Are you talking to me????
No????
Then you should start... right away.

Ela sentiu umas cócegas no ombro, mas duvidava se o tinha sentido mesmo. Insistiram, e ela teve a certeza de que tinha acordado, virou-se devagar, com o sorriso já desperto, e encontrou o olhar dele a acordá-la com carinho. Ele não disse nada, afastou-lhe o cabelo da cara e deu-lhe um beijo na testa. Ela afogou-se no pescoço dele e abraçou e tudo o que conseguiu, com pernas e braços, e ficou assim, só abraçada, à espera que acordassem para o mundo. Ele sussurrou-lhe ao ouvido que gostava de a ver dormir, e ela respondeu que gostava de o ver mal acordava. O olhar dele era o seu sol, enquanto não o visse não era dia nela. Ficaram assim enquanto o tempo parou, depois o tempo pareceu ter passado porque a fome deu horas. Deu-lhe um beijo e num salto anunciou a hora do banho. Lá foram, a água quente na pele do corpo já quente sabia bem, ele abraçava-a por trás com um braço que a envolvia pela cintura e que acabava no seu peito, a outra mão a percorrer-lhe as costas, e então deixou de haver tempo, e deixou de haver estomâgo, mas a fome tornou-se urgente, e ela gosta sempre dessa urgência, de a sentir, de a querer também, de a devorar enquanto sorri e sente apenas o toque, o carinho, o desejo, a vontade. Sente-se tão bem a vontade num toque, um toque pode ter a palete de cores mais extensa e viva, um só toque pode conter tudo e dizer tudo, ou pode ser vazio, não ter nada que vá além da epiderme. O toque dele ia-lhe além epiderme até à medula da alma, e era lá que a fazia completa. Era seu, ela era dele, naqueles instantes tinha certeza disso, sentia isso, em todo o resto do tempo duvidava e tinha medo, e sabia que enquanto fosse assim era bom, quando deixasse de ter medo, quando deixasse de duvidar, quando deixasse de querer, pouco mais restaria. Virou-se para ele, encostou-o à parede percorreu-o a par com a água que caía quente, desceu, subiu, adorava o seu corpo, cada milimetro dele, não se cansava de o ver e de o percorrer, com boca, pele e mãos,de se encaixar e amar a cada vez. Ficaram presos num beijo até ser a vez dele pegar nela e a encostar à parede enquanto a invadia e a água corria, fria para a temperatura dos corpos, acelerados, molhados, ligados. As respirações a compasso largo, os dedos a enterrarem-se na carne, os olhos a penetrarem-se e então abandonaram-se e os corpos tomaram conta da explosão que se dava, que acabava com eles abraçados, encaixados, com as bocas coladas num sorriso só. E um olhar que nos descobre por dentro. Ficaram assim algum tempo.
"Anda vamos ver a Toscana da Rascóia, que vai ser uma rambóia." -  ele deu uma gargalhada das que lhe enchiam a alma, e ela sabia que também ali ele era dela, mas em pouco tempo já não saberia nada, porque as certezas são coisas de pequenos instantes enganadores. Não há certezas, a única coisa que sentia por certa era querer continuar a ter medo, medo de o perder, medo que ele não fosse dela, que não se sentisse parte dela, porque isso era amá-lo ainda e tanto. Isso era certo. Só se perguntava se ele pensaria o mesmo. E se não pensasse, não era.

23 abril 2012

Ainda só é segunda feira e eu já me sinto assim...
Vamos lá contar até 10 e fingir que nos podemos teletransportar e esquecer a estupidez de algumas pessoas, que ironicamente viram-se para nós e dizem "eu devo estar a ser burra, mas..." e pronto às vezes têm razão, mas dessas não lha podemos dar... o que é uma pena!!!
...não tenho paciência, a sério, trocam as cores ao mapa e as pessoas não conseguem racicionar, a matemática e a lógica depende das cores, e não de si própria... meu deus!!! e eu é que estou virada do avesso e sem paciência, mas ainda consigo no meio do meu caos raciocinar e conter-me e não dizer..."pois estás..."
Tirem-me deste filme, e mergulhem-me neste aqui de cima.. pode ser??...
ou digam-me que sim que há esperança, e um dia as coisas melhoram, e farão sentido, um qualquer sentido...(e que não dependa de cores, porque se as trocam ou desaparecem, é o fim do mundo)
E que vou deixar de me lembrar de perguntas estúpidas, porque não, hoje ainda ninguém me perguntou nada disso que me faz rir nas sombras de mim sem que ninguém veja.

22 abril 2012

In killing mode...
Não me chateiem hoje, sim?
Não, não me apetece um cházinho, e não, nem aqui nem em Barcelona. Apetece-me que me deixem em paz! E que não pensem que todas as gajas se confundem com "garotas de programa" quando se lhes acena com um fim de semana em Lisboa, Barcelona ou Munique.. poupem-me!!
"Diz a data que eu trato do resto???"
hein??? Desculpe??? Sim, separei-me, não, não mudei assim tanto.
As pessoas ainda não perceberam que não é o destino que interessa, que o destino e as férias não me compram, e que não me dá prazer nenhum ir para onde quer que seja passear, conhecer, com uma pessoa que conheço mal e sem qualquer vontade de mudar isso, ou que conheço e não me interessa. Prefiria ficar em casa com quem quero do que um mês a viajar pela europa com quem não gosto, só para poder voltar e encher a boca que estive aqui ali e acolá? Aliás pensarem que seria capaz disso envergonha-me. Não me enche isso. E as pessoas não entendem, porquê?
[e agora vou ali passar os ossos por água para pegar num livro e ir tomar café e talvez arrasar um chocolate quente que se come à colher...hmmm]

21 abril 2012

Aqui onde estou sentada vejo a minha sala pelos olhos da janela, da luz que entra, e dou por mim, sem querer, a ver coisas que não estão cá, que estiveram e deixaram apenas a marca do seu vazio. O sofá, de horas intermináveis, de conversas sem fim, de mimo sem horas e de ânsias a toda hora. Vejo o chão onde se improvisaram camas de almofadas para ver o fogo arder enquanto nos consumíamos, ora a leves tragos, ora com a ganância de nos termos inteiros. Lembro-me de quando nos deitámos no chão e puseste música nas colunas do ipod, lembro-me que conversámos muito e que tu bebias às vezes uma cerveja, lembro-me dos amendoins que descascávamos para o outro comer, até nos rirmos porque parecia que tínhamos trocado de mãos, as minhas eram para ti, as tuas eram para mim, os meus amendoins eram teus, e os teus davas-mos na boca.
Estou aqui a ver isto tudo enquanto como o último chocolate que me deste. Apanhou calor, pu-lo no frigorífico, e tenho-o visto lá, sem lhe tocar, hoje apeteceu-me, e apeteceu-me que a cada trinca que dou, estas recordações fossem engolidas, desaparecessem de onde moram, em mim, nesta sala, não sei, desaparecessem, só. Mas aquilo que eram dois dedos de chocolate é agora um, colaram-se, não despegam, o que passaram de calor tornou-o num só chocolate que vou trincando enquanto aqui escrevo. Pus a tua herança no frigorifico, mas o calor que apanhou, que absorveu, já não lho pude tirar, já não saiu dele, da mesma maneira que quando o acabar, esta sala, este chão, esta lareira, vão continuar a contar-me histórias, ainda que eu não queira. Ainda que as queira pôr no frio, e engolir sem dar conta.
[enquanto isto, nos phones, a banda sonora também é do melhor...Tales of love - Wraygunn, que tem só das melhores letras que tenho ouvido para descrever esta coisa...like a punch, only a hundred times stronger... oiçam, vale a pena.] .

18 abril 2012

Preciso de sair daqui.
Preciso de sair de mim, e encontrar o meu caminho para fora de ti.
Porque vou encontrá-lo, eu sei que vou, estou cansada de ser segunda opção, ou simplesmente não ser opção, estou cansada de ter sido sempre desistida, a fácil de desligar e continuar os amanhãs sem mim.
Quero o meu caminho e alguém lá longe, não agora, mas mais à frente quando já for sozinha, que me queira, que me queira a mim, sem dúvidas, sem hipótese de alternativas, sem comparações. Quero ser a sua inevitabilidade, quero que lutem por mim, que me valorizem, que gostem de mim e que possa retribuir esse gostar. Quero poder amar como sei que consigo e sei amar, sem achar sempre que não há eco, que não tem reflexo esse espelho.
Tenho defeitos e muitos e maus, mas tenho também qualidades, coisas boas, não serei a pior nem a melhor, mas estou farta de me fazerem sentir a pior, a última das mulheres, de ser ignorada, desprezada até, desconsiderada sempre que consideração se exigiria. No minimo, já que amor seria pedir demais.
Estou de partida para outro lugar.
Outro lugar de mim, vou pela tua sombra, até que queira o meu sol, e não te queira mais lembrar.
Não te queira mais em mim. 

17 abril 2012

Com o tempo desaprende-se a viver, a saber e sentir o fundamental.
Baralha-se tudo, passa-se a modo de sobrevivência, para garantir mínimos que não são de sobrevivência mas de estupidez.
 Pensamos que estamos a aprender a viver, mas só desaprendemos.
Viver não se aprende, vive-se. 

30 março 2012

Gosto de papoilas.
Havia um canteiro de papoilas em casa do meu avô, e eu gostava de passar por ele, sempre que ia e vinha de casa dele, de brincar com ele e com as papoilas. Papoilas vermelhas, e sempre tão estranhas, não sei se bonitas, mas eu gostava delas, têm aquele aspecto selvagem, de quem não precisa de muitos cuidados, porque o seu maior cuidado é ter ganas de sobreviver, e sobrevivem. Sozinhas vão-se sustentando dia a dia, têm a sua força nessa vontade selvagem de ser, de nascer e aguentar-se de pé. Nem bonitas nem feias, mas com uma graça frágil, simples, natural e ao mesmo tempo que cheia de força quase sobrenatural.
Gosto de papoilas.

27 março 2012

Depois queixam-se...
:)
Replace "girl" for "man"...
Às vezes esqueço-me, e dou por mim a lavar a loiça com um sorriso colado à pele, aos gestos, ao tempo. Dou por mim a recordar coisas, a repetir coisas que já foram, que já foram presente e agora são só prenda do passado envenenado de felicidades. Acabo o dia a pensar na razão de tanta alegria, de tão boa disposição, e então percebo que as razões que me desencantam o sorriso encantado são apenas razões para estar triste, que nem a mim enganam, que já tantas vezes me enganei que até de olhos fechados me desengano. Mas tenho de fechar os olhos ao sonho e apagar o sorriso falso por verdadeiro de falta de razões para me pôr feliz. Às vezes ponho-me a pensar como me perco tanto no sítio donde não saio. Porque eu sei onde estou. Já vi, e sei, o filme todo, mas teimo em achar que enquanto não vir as letrinhas a passar, ainda não acabou, ainda tenho de fazer o meu papel, o meu papel de parva de sorriso palerma colado ao ser que faz o meu papel, até as letrinhas começarem a passar e eu ter de voltar ao sítio onde estava antes de ser parva, ou depois de já o ter sido. Eu sei bem onde estou, sou estupidamente lúcida para o papel em que teimo em fazer de conta que as letrinhas ainda não passaram.

26 março 2012

Às vezes fazes-me sentir assim... pequenina, com totós, a precisar de beijinhos quando esfola os joelhos, porque tropeça e cai quando corre para ti. Fazes-me querer colo e mimo, e coisas doces e sorrisos de criança, e a inocência de não se ser adulto, de ainda não termos crescido para os problemas, de a vida ainda não nos ter estragado, de ainda sermos puros de alma e de sorriso, e de gargalhada, e de joelhos esfolados de correr para ti, para o teu colo, que está tão longe, e os meus joelhos tão esfolados...

25 março 2012

Estive a tarde toda na varanda, o sol está óptimo e está-se bem, ou estaria, que nem ler consegui com a cabeça a atrapalhar-se nas palavras, e tu na cabeça. Desisti e deixei-me dormir, acordei há pouco, não posso continuar assim, sempre que estás mal ou alguma coisa te abana, ou parece abanar, resolves preencher o vazio, dizes coisas, dizes que morres de saudades, que queres ficar. Tu ficas melhor, no dia seguinte estás melhor, mais leve, mais bem disposto. Eu fico só mais só, mais cheia de ti, mais cheia de vontade do teu colo e de me perder no mimo. E a única coisa em que me perco é em mim mesma, na varanda, à luz do sol ao som de música. Não pode ser, qualquer coisa tem de mudar, talvez eu.

24 março 2012

Enquanto estava ao telefone à porta de minha casa a tentar não me lembrar de ti, esperava que passasses, sabia que passarias sem saber, e fui ficando. Vi-te passar à minha porta duas vezes, e fiquei-me a pensar que passas à minha porta como pela minha vida, tentando não ser visto e sem nunca entrar.
Vendo e nunca saindo.
E se fosse para escolher à lista, o que é que escolhiam?

23 março 2012

A paixão é a adolescência em qualquer idade, só não sei se em qualquer sexo.

22 março 2012

Quero ir para aqui... preciso de férias, de não fazer nada, de não pensar em nada senão no calorzinho na pele e que bikini vestir... Estou farta de escritório!!!... e desta vida que não anda, não muda de paisagem, não avança no argumento, arrasta-se e a mim com ela... quero ir-me embora, para longe de tudo...

21 março 2012

A cozinha num caos... tudo desarrumado... não nenhuma fada do lar, é uma tristeza...

18 março 2012


(...)
An abyss that laughs at creation,
A circus complete with all fools,
Foundations that lasted the ages,
Then ripped apart at their roots.
Beyond all this good is the terror,
The grip of a mercenary hand,
When savagery turns all good reason,
There's no turning back, no last stand.

Heart and soul, one will burn.
Heart and soul, one will burn.

Existence well what does it matter?
I exist on the best terms I can.
The past is now part of my future,
The present is well out of hand.
The present is well out of hand.
(...)

17 março 2012


O dia quase todo à volta de música, organizar o itunes, eliminar duplicados, descarregar coisas novas, ouvir coisas antigas e agora deparei-me com isto e por muito descrente que se esteja há coisas que nos resgatam do fundo da escuridão para uma réstia de esperança numa qualquer felicidade que esteja por vir e para vir, algures no futuro...


Pus esta música para começar o dia, gosto do ritmo, do que me faz agitar corpo e alma. Gosto disto!!

13 março 2012

E hoje, dia 13, foi o dia em que desistiram de mim.
É estranho ser-se desistido, valer tão pouco, que é tão pouco dificil de se desistir. De dizer não, não quero, não vou. Não vales o esforço.
É talvez melhor sabê-lo. Porem-nos os pés no chão com a violência dum esticão que estatela toda uma ilusão numa parede em que nos reconhecemos desfeitos, desmembrados, irreconhecíveis. Onde nos roubam os amanhãs, onde nos oferecem a crueldade de não termos sido nada, quando ainda agora éramos feitos de sonhos de esperança.
Que todos os ontem que passaram não foram nada, não restou nada, a não ser um enorme vazio sem amanhãs. Que o passado é passado que passou, foi tempo que me cilindrou e me deixou desfeita, desmembrada, irreconhecível, até para mim. Onde é que me vou buscar agora? Se ontem não foi nada e os amanhãs me foram roubados, só resta tempo sem vida que tem de se viver ainda.
O pior é saber que tem de se sobreviver, quando não se percebe para quê.

12 março 2012

"-Desculpa, foi sem querer..."
[se foi sem querer não desculpo,
dar um beijo sem se querer não é coisa que se perdoe a ninguém,
desculpa lá...]

06 março 2012

"Mas se te fiz bem, não foi por querer; calhou ter sido assim. Ainda que não me desagrade a ideia de que alguém me recorde como a um felino pousado nos joelhos, quieto, distraído de tudo, concentrado apenas nos arrepios que certos afagos transmitem à coluna vertebral. Mas devias saber que esse não sou eu; que a sinceridade dos meus sentimentos é uma coisa passageira; que o tempo havia de me levar para longe de ti; que acabaria por te causar dano se continuasses a recordar-me assim (...)"
(...)
Mas não posso já aninhar-me no teu colo e a verdade é que mesmo tu, tenho a certeza, não me recordas já assim. Só se fosses parva e preferisses enganar-te, perseverando em não querer entender quem eu sou. O melhor para ti é que duvides até da sinceridade do meu amor, que tenhas a certeza de que era falso; que não saibas já se eu alguma vez deitei a cabeça nos teus joelhos ou se apenas sonhaste se assim foi. É preferível que não te iludas, que não esperes que tudo venha a ser como então, como se nada houvesse sucedido e eu não fosse o canalha que não quiseste ver em mim. Será melhor assim."
(...)
"Tenho saudades tuas e olho a Lua para saber como estás e penso se ainda te recordarás de mim do mesmo modo; se ainda serei a cabeça pousada nos teus joelhos, quieta, calma, pela qual não te parecia possível passar qualquer maldade. Eu avisei-te: sou um louco. Alguém em quem não se pode confiar, do qual de deve esperar tudo, o pior possível. Tinha-to dito tanta vez, antes disso, com os olhos; disse-o, tenho a certeza, e só não me ouviste porque não e quiseste escutar. talvez precisasses que as minhas palavras confirmassem aquilo que os meus olhos diziam. Foi isso? E nesse caso de quem foi a culpa por termos feito tanto caminho?"
(...)
"Eu amo-te, tu amas-me; logo: separámo-nos. Tu vais e eu fico. Sofres tu e sofro eu também, porque tem mesmo de ser assim e não pode ser doutra maneira. E, se calhar, tinhas razão - o amor é para os parvos. Para os que não sabem apaixonar-se e não têm tempo a perder com sofrimento. Para os que estão sempre se passagem e precisam de um lugar onde encontrem, de vez em quando, um par de cuecas limpas, peúgas lavadas e três camisas engomadas. Um sítio do qual possam dizer: esta é a minha casa, esta é a minha mulher, esta é a minha escova de dentes e estes os meus filhos, a herança que deixo ao mundo (...) "
(...)
"-A minha anatomia enlouqueceu; sou toda coração.
Pois é como me sinto, mais ou menos assim, com a anatomia enlouquecida, sem saber já quais são os meus dentes ou qual a minha boca; como se cada pedaço meu não fosse mais do que saudade de ti: o desejo de te voltar a ver, de te cobrir outra vez de beijos - olhos, boca, rosto, o corpo todo de beijos -, de te abraçar e sentir o teu cheiro, de tomar nas mãos o ramo crespo dos teus cabelos e inalar a fragrância do teu pescoço. Possuo agora, em mim apenas apenas, nos limites da minha topografia, toda a exaltação dos nossos corpos e sinto que não chego para tanto porque a soma de nós dois excedeu sempre a soma física dos nossos corpos. É como se rebentasse por dentro e tivesse de esticar a alma (...)
(...)
"Lembras-te?
O meu cabelo já não é uma escova mole. Não te direi sequer, como então, que a sinceridade dos meus sentimentos é uma coisa passageira. Apenas que ainda me agrada a ideia de ser recordado assim. Que ainda sou, se me quiseres, o teu
- Piú grande amore del mondo.
Lembras-te?
O meu cabelo já não é uma escova mole. Mas eu sou um velho parvo, amor."

in O Amor é para os parvos, Manuel Jorge Marmelo


Leiam. Vale a pena. 
E pensem. Pensem afinal quem é parvo. Se será achar que o amor é pouca coisa e que tudo desagua na indiferença, no passageiro, ou depois passar a vida inteira a recordar o que se teve e se deixou escapar, porque afinal, não era passageiro, afinal os olhos falavam mais e melhor. Afinal não devíamos ter convencido o outro do contrário. O que uns vêem  e pressentem em instantes, outros levam a vida inteira de sofrimento para concluir. O pior é que não sofrem sozinhos.
Leiam, (e) não sejam parvos...

05 março 2012

Vim o caminho a ouvir Jorge Palma. Gosto das músicas pelo que elas dizem, e as letras daquelas músicas são poemas que me tocam, quase todos. Mas não há nada que me afaste da cabeça as ideias que não quero lá. E as comparações, as malditas comparações, que nascem não sei de onde, até de músicas que nada têm a ver com comparações, mas dou-me comigo a comparar muitas coisa que não devia, e que doem, porque não me sou meiga, porque não me poupo. Nem os outros.
Chego aqui à porta com a ideia que não vale a pena pensar mais, e que já não tenho lugar para sentir, desde que me desalojaste de mim, de ti; desde que já não me sentes e que tenho de te anestesiar em mim, que criar uma dormência com o teu nome. Tenho de passar por ti sem te ver, sem te sentir cá dentro a remexer o que em ti não existe. Não vale a pena comparar-me, perco de todas as vezes, resposta que me serves sempre fria e sem dores tuas, as pontas dos teus dedos têm outros nomes e escolhem outra pele, mas então porquê? O que andámos a fazer tanto tempo? Quem andámos a enganar tanto tempo? Afinal, eu fui o quê em ti? Tempo que passou? Dias que se consumiram num fogop mais vivo para melhor se viver a própria vida? E eu? E a minha vida que é a que vivia contigo?
e a música do Palma a latejar-me na cabeça, a vibrar no coração quase parado:
"Tira a mão do queixo não penses mais nisso
O que lá vai já deu o que tinha a dar
Quem ganhou ganhou e usou-se disso
Quem perdeu há-de ter mais cartas pra dar"
Será? Acho que desisto, que desisti.
Depois de ti não acredito em mais nada.
Não acredito em nada do que se sente.
Nem em palavras que os olhos dizem com a mesma clareza que as palavras que nunca proferiste.
Porque no silêncio cabe tudo o que nós quisermos, e o tamanho do erro não cabe em nós depois de descoberto.

04 março 2012

"Isto foi o que vi em ti. E tu? O que viste tu em mim? Que magia fez com que nos amássemos? Que poderosa vibração nos atirou para a temerária fronteira onde descansam os deportados da terra onde se não pode amar demais, onde se não crê na possibilidade de amar excessiva, insanamente. Lembras-te? Lembras-te de te ter dito que não há outro modo de gostar que não seja este, desabrido, e que não acredito que ao resto se possa chamar amor? Que só ama quem gosta à maneira antiga, fora de moda; os que escrevem cartas, os que cultivam olheiras, os que sofrem loucamente e são capazes de morrer de amor. Tu sorrias."

(...)

"E o teu braço puxou-me para ti e o beijo que estendias não era já só um beijo, mas um corpo uno - os nossos dois corpos enovelados."

in O Amor é para os parvos, Manuel Jorge Marmelo

03 março 2012

"Dois corpos não carecem de mais do que da fugidia linguagem dos sussurros, dos beijos que eriçam a pele, dos arquejos que preparam a doce deflagração de um amplexo. O idioma topográfico da epiderme transpirada é o único que importa - o único que é preciso dominar quando não se trafica mais do que o amor."

in O amor é para os parvos, Manuel Jorge Marmelo

Este livro é definitivamente para mim, se eu escrevesse bem dizia as coisas assim. Vou para a caminha aninhar-me no livro, e deixar-me ser parva.

29 fevereiro 2012

- Quantas vezes é que queres repetir isto??
-Quantas tu quiseres e puderes, e eu aguentar...

[era mesmo de passar noites em claro, directas de muita conversa, brincadeira e mimo, que se estava a falar...]

25 fevereiro 2012

Estou na sala, os livros à minha frente, e a luz que me entra pelas janelas pinta o ambiente duma cor linda, que me leva sempre até às saudades de ti. Das paredes alaranjadas de final de tarde, da melancolia do dia que se começa a despedir. Sempre as despedidas. As despedidas que não sei despedir, as vontades que não consigo apagar em mim, calar de ti. Apetecia-me que esta pausa que faço fosse para me ir enroscar em ti uns minutos partilhando luz e calor, um lanche a meias, e regresso aos afazeres depois. Esta é a única maneira que tenho de o fazer, pelos ecrãs das máquinas, e não me chega, que eu não sou máquina e não funciona em zeros e uns. Falta-me colo, mimo, pele. Tu perto. O teu pescoço para me pendurar. Mas por muito que queira fico sempre pendurada na solidão de ti.
[E não, está visto que a telepatia não funciona. Nada.]

24 fevereiro 2012

Ahhhhhh...era tão bom ficar na ronha. Quentinha. Aconchegada.
O mundo é muito injusto, só vos digo.
Fechei o livro agora mesmo, depois dele se fechar para mim numa passagem que me levou aquela noite, em que pela única vez estive contigo e não senti nada. Naquele momento em que o corpo foi vencido pelo espírito e não me deixou acabar a frase que eu não queria dizer, não me deixou fazer o que não queria fazer, venceu-me, deixando-me vencer afinal. Uma onda estranhamente fria percorreu-me a cara e foi morrer à força que me faltou, que me apagou o corpo, eu agarrei-me a ti e deixei-me ir, deixei-me mergulhar naquela escuridão confortável sem dar conta, sabendo que estava bem nos teus braços. Não sei quanto tempo submergi, quanto tempo me libertei dos sentidos, da realidade de tudo, não sentia nada e era bom. Foi o que senti quando, sem saber como, comecei a lentamente entrar na realidade desfocada de uma cara que me chamava, sem saber onde estava, quem eu era, ou quem me chamava. Quando a nitidez da visão me ofereceu o teu rosto, tão perto de mim, só me lembro de sorrir, e de pensar que estava bem, estava tão bem sem sentir nada, sem pensar no teu ou no meu futuro, sem pensar que sentia ou o que queria. Estava bem, mergulhada naquele vazio confortável, donde saí para os teus olhos e me pendurei no teu pescoço, e na tua preocupação por mim. Eu estava tão bem!!... e agora apetecia-me isso, deixar-me cair nos teus braços e esquecer-me da minha existência, confiar-me a ti, e fechar os olhos ao mundo, enquanto velasses por mim e pudesse acordar no teu olhar.

23 fevereiro 2012

Não faço ideia por onde andas, ou a fazer o quê, o que te passa pela cabeça, se te lembras, se não te lembras. Se me procuras nas multidões, ou só nos recantos das memórias, se as tiveres e se as procurares, que nem isso sei. Não sei nada. Enquanto não sei nada penso muito, porque acho que tu também não sabes nada. Não de mim, de ti. E então sinto raiva, muitas vezes ódio, por não perceber nada, por nada fazer sentido. Por não querer sentir e não querer perceber nada, mas cá dentro alguma coisa não me deixar não querer nada, e sentir tudo. E então o caminho torna-se mais longo, o horizonte mais longe, a solidão mais escura, a vida mais fria. E não saber, não saber a que dia, a que horas, o meu horizonte me entrará de rompante ouvidos dentro e me levará com ele, avassalador, para um sítio onde ainda estás menos, onde te riscas definitivamente de mim, mas onde já sei o que pensas. Como agora, sinto que sei, mas ainda não me notificaste. Dizem que tenho pouca esperança. É verdade, não tenho, já não acredito em nada, em ninguém, muito menos no pouco a que me poderia agarrar para acreditar. Os sonhos não se agarram, as palavras, poucas, a que me poderia agarrar são tão fáceis de enganar como eu no teu colo, e os gestos jogam em todas as equipas, não têm dono, nem intenção. E eu não sei, não sei nada da falta que não sentes, ou do que sentes falta.
Ai ai.... hummmm
Gosto tanto de pescoços!!!
(sim sim devo ser vampira e está na moda...pois)
Try not to jump to conclusions, ok?? eheheh
[é como nos contratos, têm de ler as letrinhas pequeninas...]

18 fevereiro 2012


Luz de fim de tarde, o sol no horizonte em cores quentes, a brisa a ondular os cabelos, um cigarro e isto nos phones. Tudo bem enroladinho numa manta e a cabeça cheia de coisas sem lugar para arrumar, tudo baralhado e um sorriso teimoso que surpreende entre passas do cigarro. E não se entende eu não me entender, eu não entender nada, e achar que isso é entender tudo o que não pode ser entendido. E entretanto o sol esconde-se, como é que uma coisa tão grande, tão boa, tão quente se esconde atrás do horizonte tão depressa??

13 fevereiro 2012

Açucar do café de sábado, que ontem tomei-o ao sol na minha esplanada privada, com os phones nos ouvidos, também é muito bom, mas não somos presenteados com estas coisas, que vão já migrar para o ecrã do meu pc: "Uma noite faço o teu chão tremer".... e agora acrescento eu, e espero que eu seja o epicentro...

12 fevereiro 2012

Um sítio calmo. O frio a abanar lá fora, cá dentro o calor a dançar dentro da lareira mesmo ao meu lado. O chocolate quente que se come em vez de se beber a arrefecer à espera para me aquecer. Ainda há coisas boas, mesmo para gozar sozinho..

10 fevereiro 2012

07 fevereiro 2012

Sugar lips...
E hoje o dia amanheceu-me assim com a primavera na boca a calar o frio, com a recordação do teu olhar quente a mergulhar-me por baixo da pele, donde ainda não saíste, onde ainda te sinto e quero. O coração bate melhor, mas falha vários batimentos à ideia da tua falta, tiras-me o compasso de vida que às vezes ainda sinto no peito, desatinas-me o coração, desconcertas-me a vida que a alma ainda vai descobrindo de vez em vez. Os tons suaves pelo caminho, num misto de saudade, melancolia e um doce sabor a sonho entre os lábios. E os sonhos, com toda a força que possam ter, que possam beber de nós, com que possam ser sonhados, são frágeis como a primavera que deixaste esquecida na minha boca.

04 fevereiro 2012

Estou cansada. Não do corpo, não das horas, não do tempo lá fora que agita o que não mexe. Estou cansada da luz e da escuridão, nem na penumbra me sinto mais, nem na sombra me refugio da luz. Estou cansada de me ver ao espelho, de ver sempre o mesmo, de nada me dizer, apenas uma imagem a duas dimensões onde eu não caibo. Duas faces duma moeda que não é minha, onde só uma vê a luz do dia a outra é enterrada na superficie fria onde me poisam de castigo, virada para a parede. Estou cansada de ver o vazio do espelho antes do mundo, e depois à noite de me despedir do mundo. Estou cansada de nada encher, do frio que não aquece, do vazio que não preenche, estou cansada de me ver e de me ter, se nem me tenho, se nem me sei. Não sei por onde ando nem por onde me perdi, se me perdi, nem se me quero encontrar para lá das duas dimensões onde não caibo. Onde não estou.